quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Inferno astral não termina

Ou:
"O escândalo do aniversário"

Ou:
"O incrível caso da festa suspeita"

Ou:
"Gentileza: péssima ideia".

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Tudo começou na semana passada. O Anderson, que trabalha comigo, me ligou: "Terça-feira é seu aniversário, né? Posso agitar uma festinha?".

"Ah, será? Não vou ter tempo... Não estou podendo gastar dinheiro... Na terça-feira tem audiência pública".

"Mas eu quero fazer! Deixa que eu cuido, posso? Depois te conto".

Aí o Anderson arrumou um lugar para fazer a festa - o antigo Galpão de Ideias do Cepeca (onde eu comemorei no ano passado), agora em fase de transição para um novo projeto. O som ficaria por conta dele - aparelhagem e discotecagem. Bebida? "A gente compra cerveja e vende lá. Quem quiser, pode levar de casa". Comida?

Minha ideia era sugerir que cada um levasse um prato de alguma coisa, se quisesse, e eu providenciaria alguns sanduíches básicos e o bolo. Nisso, o dono de um bufê na Pompeia foi à Subprefeitura entregar um convite para uma festa (aniversário da sua esposa). A Lylian aproveitou e perguntou meio de brincadeira: "E aí, quanto custa o cento de salgadinho, tem desconto?". Ele respondeu a sério e nem quis falar em preço - "Imagine, eu faço questão, é meu presente para a Subprefeita! Façam a festa comigo!"

Na tristeza e irritação em que eu ando, não estava a fim de festa nenhuma. Nem galpão, nem bufê. Mas não quis ser estraga-prazeres... Deixei cuidarem da minha festa, prometi que eu ia e não me ocupei mais disso.

***
Ontem foi a festa. Saí da TV às 8 e meia, passei em casa e fui para o bufê. O Kassab, imaginem, estava lá me esperando (o convite dizia que a festa começava às oito...). Muito simpático, conversou dez minutos comigo, falou mais um pouco com o Roberto Freire e saiu (ainda tinha um jantar).

Não tinha muita gente na festa, mas eram conhecidos de vários lugares diferentes. Do centro budista, da faculdade, da Câmara, da MTV, da família, do Palmeiras, da internet, da campanha eleitoral, da favela e da própria Subprefeitura.

No fim, curti muito. Acho que fui tão triste, tão sem expectativa, que ficou mais fácil me divertir.

***
O dono do bufê, claro, estava muito feliz. Ele é muito gentil, muito simpático. Eu já o conhecia de reuniões do Conseg. Fez questão de me levar à sua sala e mostrar fotos com o Janio, o Alckmin, a Regina Duarte... Disse que minha foto iria para a parede também.

Sem saber direito o combinado, tive a certeza de que a festa não seria de graça. Havia uma equipe numerosa trabalhando, e eu não poderia aceitar que eles estivessem trabalhando ali sem receber nada - nem que o proprietário pagasse do bolso. Veja bem, ele não é exatamente o dono do Fasano, não nada em dinheiro.

Também não ia adiantar falar de negócios no fim da noite - além do fato de que ficaria muito chateado, ofendido. Mas no dia seguinte entenderia (e se quisesse doar uma parte para caridade, ótimo!). Deixei um cheque com a Lylian e fui embora.

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No dia seguinte... Ligaram mais de uma vez para saber da festa. Quem pagou, pagou quanto... Havia várias dúvidas, uma dúzia de perguntas. A Lylian respondeu a todas elas (enquanto eu discutia, quase arrancando os cabelos, o orçamento para 2010 com dois técnicos de Finanças, o Supervisor de Suprimentos, o Coordenador de Obras, o Coordenador de Administração e o Chefe de Gabinete).

No começo da noite a repórter, tentando "montar o quebra-cabeça", pediu para falar comigo diretamente. Eu estava no ar na ESPN. Terminado o programa, a Lylian disse: "A repórter do Agora quer falar com você. E eu preciso te contar uma coisa".

A "coisa" era que o pessoal mais chegado tinha decidido que eu não ia pagar pela festa. Antes mesmo de eu me preocupar com isso, eles (não sei exatamente quais deles, mas com certeza a Lylian e o Carlos Fernandes) já tinham combinado rachar a conta. E iam me fazer uma surpresa (sabem que esta semana estou em um sufoco danado para fechar as contas), mas tiveram de antecipar a notícia por causa da matéria do jornal.

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Nem sei se meu cheque foi rasgado ou se vai ser depositado; se o resultado da vaquinha vai para minha conta ou a do proprietário do bufê. Se a vaquinha foi de duas ou dez pessoas. Também não sei se a nota fiscal tem o CPF de alguém (Nota Fiscal Paulista). Sei que o 3 mil e poucos reais viraram quase um escândalo.

***
"Você achou que tinha de pagar por ser na área da sua Subprefeitura?", perguntou, por fim, a repórter.
"Por isso também, mas não só. Se o bufê fosse na Mooca ou no Ipiranga ou qualquer lugar, eu já ia querer pagar. A coisa não está fácil para ninguém; não dá para aceitar um presente desse tamanho. Sendo na Lapa, tem um elemento a mais - o da quebra de confiança. O meu tratamento ao dono ndo bufê não mudaria nada; ele não teria nenhuma vantagem em relação a qualquer outra pessoa. Eu não trato alguém melhor ou pior por ter sido gentil comigo ou não.
Mas nem precisa fazer algo errado para ter resultados ruins. Eu preciso que as pessoas confiem em mim - por exemplo, para trazerem problemas ao meu conhecimento. Eu sempre digo: "Se fizerem algum pedido estranho, me avisem!". Ao suspeitar que eu faça algum rolo ou parte de algum esquema, haveria uma perda de confiança que atrapalharia muito meu trabalho aqui".

***
Dei a entrevista por celular, caminhando pela Oscar Freire. Já eram quase oito da noite, e eu queria assistir a um encontro sobre budismo que começava às sete e meia na Livraria Cultura da Lorena. Ainda bem que eu fui - estava precisando ouvir minha Lama (mestra) falando sobre generosidade, paciência, diligência...

Espero que o proprietário não fique chateado com isso tudo. Nem que decida "nunca mais na minha vida vou querer fazer uma gentileza".

14 comentários:

  1. Eu te respeito e admiro muito. Parabéns pelo seu trabalho, pela sua conduta pública e pessoal, e pela intesidade com que você se entrega às causas.

    André Luís Omote

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  2. Pegou mal, pegou mal, Soninha...

    E a série de twitters não foi muito brilhante. Deu a impressão que você não considerava grave um administrador público receber favores de contribuintes cujos estabelecimentos devam ser fiscalizados pela autoridade favorecida...

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  3. :( estragaram a surpresa. Se vcs soubessem como ela fica sem jeito de aceitar presentes... e pior: BRAVA comigo!!! Eu juro que ela ia ficar pensando que pagou a festa. JURO.

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  4. No parabéns q cantaram aqui na Sub, na hora do almoço, eu passei chamando as pessoas nas salas: "Vamos lá!!" e a Soninha ouviu. Sabe onde eu passei o parabéns? No banheiro, chateada pra caramba, pq ela gritou comigo no caminho: VÃO SE PUDEREM E SE QUISEREM! VC NÃO TEM QUE "CONVOCAR"!!! - e eu sei q as pessoas preferem ser chamadas, pra não se sentirem intrusas... enfim. O que acontece dentro de 4 paredes, só a gente sabe. Ninguém mais. Fazer o que...

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  5. e eu farei pela Soninha, enquanto eu sentir tudo que sinto por ela, mais e mais e mais gentilezas. Pq não tem preço o que eu aprendo todos os dias, de como ser um humano melhor. E olha que tem dias q não boto mais fé nos seres humanos... e ela me renova isso. Mas enfim. A gente sabe. Pronto.

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  6. Boa tarde!

    Pôxa!... Aqui eu nem recebi um vamos lá... assim fica difícil fazer parte da equipe e da batalha do dia-a-dia...

    Bom... vamos que vamos... esperença é a últiam que morre...

    Andrey

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  7. Andrey, foi mal... olha só um trecho do convite que enviei às pessoas:

    OBS.: Pode encaminhar às pessoas que disserem “puuuxa, nem fui convidado!!” e explique: “não liga, não é pessoal. Foi a Lylian quem enviou este convite. Já era previsto! Ahahaha”

    Beijos!!

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  8. É aquela história da tapioca, fazem escândalo com nada.

    Mas vida de pessoa pública, em especial de políticos, tem dessas coisas. E tem que ter em mente aquela frase batida, mas verdadeira: "mulher de César..."

    Então é isso, tem que pedir nota de tudo. Se quiserem fazem cortesia, agora tem um ótimo argumento: "Vai dar dor de cabeça e vão querer fazer tempestadade em copo d'água". Nota fiscal, sempre. Até de feira.

    []s,

    Roberto Takata

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  9. Que pena que as pessas em geral estão tão armadas e preparadas para "malhar" e desqualificar gestos de carinho e reconhecimento. Eu entendo perfeitamente a intenção do dono bufê e a confusão que isso poderia dar. A gente faz um tudo de coração aberto, mas nem sempre isso fica enquadrado no "politicamente correto"

    Acredito na sua ética pessoal e profissional. É limitante ter que analisar, sobre a visão/caráter dos outros, cada passo que se vai dar.

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  10. É, um dia é um jantar, outro dia um porsche, uma casa na praia...

    Ninguém dá um "presentinho" de 3.000 reais sem interesse...

    Um alfinete ou um milhão de dólares é a mesma coisa.

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  11. olá Soninha,

    depois de tanto tempo na política, você e sua assessoria deveriam saber que o "jogo é bruto".
    Quanto maior a exposição, maior tem que ser o cuidado. A mídia está fazendo a parte dela.
    Num dia, divulgaram sua "festa" de início da pré-candidatura ao governo de SP. No outro sua "festa" de início de idade nova.

    E a campanha ainda nem começou.
    Repasse com sua assessoria:
    "o preço da liberdade é a eterna vigilância".

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  12. Soninha,o lado bom dessa história é que você está "incomodando"...Como diria a própria Folha,você deve estar sendo a "mosca na sopa" de alguém.Considerando os seus propósitos (que eu sei o quão positivos são)podemos imaginar os interesses que se acham contrariados com sua presença no cenário político e se torna compreensível essa patrulha sistemática a tudo que envolva seu nome...

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  13. Minha sugestão era repetir a festa no Cepeca, fui voto vencido!

    a gente aprende com os erros, já dizia Lama Tsering

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  14. Palestra de budismo na Livraria da Vila da Al. Lorena, não Livraria Cultura.

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