quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Enquanto isso, no Campeonato Brasileiro...

"Se eu fosse o Belluzzo, mandava o Obina embora. E olha que eu sou são paulina!"

Belo jeito de chegar em casa. A mensagem da minha irmã chegou quando eu estava entrando no elevador. Comentei o torpedo com meu vizinho, que subia com uma cheirosa pizza, e ele detalhou: "Saiu na mão com o Mauricio na beira do campo". Entrei em casa a tempo de ver a expulsão do zagueiro, na volta para o segundo tempo.

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Estou chegando de uma plenária, isto é, reunião em formato de auditório em que os presentes tem direito à palavra. Um evento quase sempre fadado à frustração, irritação, agressividade.

Era uma audiência promovida pelo NAL, grupo organizado de moradores da Vila Romana. A ideia deles: chamar os vereadores mais votados na região para discutir a possibilidade de destinarem recursos de emendas orçamentárias para melhorias e intervenções diversas. A Subprefeitura foi convidada também para ajudar a esclarecer onde recursos adicionais poderiam ajudar a executar melhor nossas tarefas.

Fiz uma lista com as obrigações básicas do dia-a-dia - poda, capinagem, limpeza de boca-de-lobo... - que podem ser mais bem desempenhadas se pudermos contratar mais equipes (e para isso precisamos de mais $). Fui um pouco além das tarefas de zeladoria e manutenção: podemos contratar projetos de requalificação de praças, becos, escadarias, ruas e quadras; podemos organizar muito mais eventos e atividades, como projetos de educação ambiental junto a escolas e entidades da região ou promoção de apresentações musicais ao ar livre no fim da tarde. E coloquei também alguns sonhos, como implantar rede wi-fi para acesso dos cidadãos em toda a Lapa e reformar os Cingapuras Água Branca e Madeirit... Querendo mandar dinheiro pra gente, temos um vasto cardápio de alternativas!

Mas é impossível fazer um encontro desse tipo entre a população, vereadores e Subprefeitura sem que vire uma sessão de desabafo, reclamações, protestos enraivecidos.

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"Faz UM ANO que eu tenho um problema sem resolver!".
Sabe o que é pior? Deve haver uns 1000 problemas esperando mais de um ano para serem resolvidos.

"Eu vou lá na Subprefeitura e não consigo falar com você!".
Mas não pode aparecer lá sem marcar e achar que eu vou poder. Pode até dar sorte, mas eu posso não estar no prédio, posso estar recebendo as pessoas que marcaram hora, respondendo duzentos mil emails, tomando providências... Não dá pra garantir que eu vou estar livre para atender.

"A gente tá CANSADO de pagar imposto e não ver ninguém fazer nada! Queremos segurança, queremos polícia"
Eu também moro aqui, também pago imposto, também quero segurança. Mas não é simples assim: "Eu pago imposto, tudo vai dar certo". E a Subprefeitura não tem responsabilidade sobre a polícia.

"Por que vocês não conseguem cortar uma mísera árvore?"
Porque não é "uma mísera". Tem seis mil pedidos para atender, fora as que não tem pedido e também precisam de providências; podar como se deve e, principalmente, remover uma árvore são serviços demorados. Eu queria poder podar todas amanhã, mas NÃO DÁ.
"Não dá por que?"
Porque com os recursos que eu tenho dá para contratar cinco equipes. Se me mandarem mais recursos, por exemplo por meio de emendas parlamentares, eu contrato dez!

"E a sujeira das calçadas? Não aguento mais tanta imundície"
Deixa eu contar uma coisa: o contrato de varrição determina que as equipes varram o meiofio. A calçada é responsabilidade do munícipe. Muitos não varrem - e eu já vi muita gente varrendo a calçada e deixando o lixo no meiofio...

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Caras feias, cabeças abanando, ruídos de desaprovação.
"Eu não posso vir aqui e dizer "vou fazer, deixa comigo, logo estará tudo resolvido" Vocês iam gostar mais de ouvir, mas seria mentira!"
Caras feias, etc.

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O clima era tão beligerante que, a certa altura, nem me lembro por que, eu disse: "Tô vendo gente aqui do Jaguaré, Pompeia, Vila Anglo, Vila Ipojuca..." Uma parte do auditório protestou ruidosamente: "Não! Não! Aqui é reunião da Vila Romana! Da VILA ROMANA!"
Oh god. Parecia até que eu tinha inventado, por alguma razão maluca. Ou que aquelas pessoas não deviam estar ali.

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Os vereadores presentes se manifestaram.

Um deles criticou a terceirização dos serviços - "antes, as prefeituras tinham suas equipes. Se pecisava cortar mato, limpar bueiro, mandava lá os funcionários da prefeitura, saía mais barato".

Discordo.

Para a prefeitura fazer a poda de árvores, por exemplo, teria não só de ter os funcionários em quantidade suficiente (e "perder" cada um deles no mínimo um mês por ano doze, contornar as ausências a que os servidores concursados tem direito, etc) mas também ter motosserras, gasolina para as serras, caminhões, kombis... E precisar comprar cada parafuso, armazenar, manter, consertar... NÃO, o serviço ganha muito mais eficiência quando uma empresa contratada tem o dever de providenciar kombi, caminhão, motosserra, funcionários treinados. Se um caminhão quebrou, o problema é deles; eles tem de mandar outro caminhão no horário marcado, ou serão descontados.
"Ah, mas tem muita malandragem, você contrata a equipe e pensa que ela está trabalhando em um lugar e ela não está".

Como se isso não pudesse acontecer com funcionários diretos!

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No momento de maior ódio aos políticos, à prefeitura e, em particular, à Subprefeita um senhor gritou: "Tomara que você vá lá também, tropece e bata a cabeça!"
Já com o auditório vazio e ele mais calmo, reclamei: "O senhor me desejou O MAL, seu Ramón?!"
"Ah, a gente perde a cabeça... É que tá tudo errado. Um país como esse, em que nasce batata o ano todo, em que nasce de tudo, não podia estar desse jeito. Sabe o que é? Aquela revolução de 64 destruiu tudo".
"É, a gente deixou de fazer muita coisa quando devia ter sido feita e também fez muita coisa mal feita que agora tem de corrigir... É muito difícil".

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Antes de ir embora, lembrei que é impossível ouvir todo mundo hoje à noite (se cada uma das 60 pessoas falasse 2 minutos, seriam duas horas só falando...), e que também não é necessário ouvir cada um dos problemas individuais no auditório... Não é um caso de "falem agora ou calem-se para sempre". Podemos continuar conversando.

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Fomos embora moderadamente em paz. A moto que eu peguei emprestada estava na porta! Aí eu chego em casa e o Palmeiras deu mais um vexame.

8 comentários:

  1. Sim, Soninha... não bastasse a pataquada da vida real, as contas a pagar, as reclamações incessantes, o Palmeiras, ou melhor os ilustres Obina e Maurício ainda inventam mais essa. Ainda bem que estamos no apagar das luzes do campeonato, de outra forma, fariamos companhia ao Sport.

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  2. A grande questão é a boca sempre aberta para pedir e exigir coisas. Será que todos estão fazendo a sua parte ? Não dá para esperar sentado que ,por que pagamos impostos , tudo tenha que ser feito pelo poder público. Somos coniventes e cometemos pequenos delitos no dia a dia. Fechamos os olhos e a boca para dezenas de coisas erradas que nos cercam. Sempre se encontra justificativas para se permitir que fatos/atos acabem degradando nossa rua, nosso bairro, nossa cidade e por fim nosso Brasil.
    O dia que cada morador levantar os olhos do próprio umbigo, quem sabe as coisas comecem a mudar.

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  3. Mas acredite Soninha, ainda assim isso é um avanço na construção de um sociedade democrática.

    O desafio, claro, é sairmos do patamar da "discussão" e exercer o sublime e tão belo exercício do "diálogo". Isso é realmente complexo.

    E eu tenho certeza de que só teremos uma democracia plena se a comunidade, em todos os seus setores, se relacionar de modo dialógico.

    Namastê

    (Marcos Moreira Vaz)

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  4. a questao e ninguem quer trabalhar em prol de uma comunidade em conjunto,ou seja euuuuuuuu quero,euuuuuuuuu desejo,euuuuuuuuu preciso como disse nossa amiga mARIA DO CARMO,cada um tem um umbigo maior do que lhe compete certo?

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  5. A questão toda se resume em educação. Mesmo pessoas engajadas e que se preocupam com a sua "Vila Romana" não sabem o que podem exigir de cada representante, qual a sua parcela de culpa na situação e com isso misturam os assuntos, frustrações e etc. Eu nasci na Lapa, me mudei, mas ainda frequento a Lapa e até hoje não vi uma nova escola (estadual ou municipal) ser construída, mas prédios foram aos montes. Falta educação.

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  6. Em primeiro lugar Soninha, agradeço a sua presença no encontro. Realmente a população fica em casa esperando tudo do governo e seus representantes, são incapazes de levantar da poltrona, de frente a TV, e ir conversar, saber o que está acontecendo, de quem é a culpa, o que podemos fazer para mudar isso...
    NADA, não querem fazer nada, querem tudo na mão. "Pagamos os im postos e temos direito", só isso que ouvimos de todos.
    Infelizmente, como membro do Núcleo de Ação Local Vila Romana, e sendo o Núcleo organizador deste encontro, dos vereadores e a comunidade, tenho que admitir que as pessoas querem apenas e tão somente, resolver os seus problemas, cortar a sua árvore, tapar o seu buraco na rua, e mais nada. As pessoas não conseguem pensar como sociedade, como comunidade, pensar no bem comum, pensar no "SEU VIZINHO".O ser humano é egoísta demais.
    Muito obrigado por aceitar nosso convite para participar do encontro.
    Como nos envolvemos demais com a comunidade, sabemos dos problemas de todos e sabemos da dificuldade dos responsáveis em resolver estes problemas.Para nós do Núcleo de Ação Local Vila Romana, o encontro VALEU.
    Adriano Romão

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  7. Eu concordo plenamente ... em relação ao comentário sobre a Kátia Abreu, na verdade eu .. (in off)nem sou muito fã dela, é como a chamam mesmo ... rainha do desmatamento ... assino embaixo os eu comentário. No momento não pensei em escrever isto. rs

    www.vivoverde.com.br

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  8. Prezada Soninha

    Talvez a diferença toda em encontrar pessoas na defensiva em reuniões com a comunidade, como aconteceu no Colégio Módulo, ou pessoas dispostas a ouvir e compartilhar, seja no atendimento recebido na Sub, por telefone ou pessoalmente.
    Se fossemos atendidos com o mínimo de respeito e educação, mesmo que a resposta a nossa solicitação seja impossível, demorada, enfrente uma lista de espera, etc... as pessoas não estariam tão agressivas.

    Um abraço

    Rosely de Freitas

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