terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sonoras

Políticos se matam por um microfone. 15 segundos de sonora no Jornal Nacional valem por meses de esforço para aparecer de outras maneiras. Os motivos pelos quais querem aparecer podem até ser nobres, creiam! Chamar atenção para um tema em pauta (ou fora da pauta :oP) no Congresso... Fazer uma denúncia... Um esclarecimento importante...

Mas não é difícil aparecer no JN, no Bom Dia Brasil, no Datena, no Faccioli. Um monte de gente simplesmente está passando na rua, um repórter lhe faz uma pergunta e pronto: sua resposta é selecionada para mega exibição em horário nobre em rede nacional. Um desabafo, uma opinião irrefletida, uma implicância... Tanto faz. Se encaixar na tese da matéria, entra.

Eu não me conformo com essa falta de critério. E me lembro da primeira vez em que alguém chamou atenção pra isso - foi a Hyliana (Hilyana?), professora de Didática no curso de Magistério no Colégio Santana. Ela pediu para assistirmos o Jornal Nacional prestando atenção na ordem das matérias, sua duração e edição. Na aula seguinte, comentaríamos.

Naquela edição, havia uma matéria falando sobre a obrigatoriedade, recém-estabelecida, de motociclistas usarem capacete. Polêmica! Especialistas falavam sobre a necessidade, a segurança, proteção à vida. Motociclistas estavam divididos... Muitos eram contrários (claro :o/).

Pois bem, a professora ficou indignada com o último depoimento utilizado na matéria. Um motociclista dizia que, na verdade, o capacete atrapalhava e piorava a segurança, porque diminui o raio de visão.

Ela achou isso um absurdo. "Como é que ele fica com a última palavra? A última impressão? Depois dele tinha de ter um especialista, ou os próprios apresentadores no estúdio, dizendo que isso não é verdade. Que a visão é mais do que suficiente para a segurança e a proteção à cabeça é fundamental".

A gente achava a professora meio chata, dramática, exagerada. Mas lá no fundo eu reconheci: "É mesmo. Ela tem razão".

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Ela tinha razão. É impressionante a quantidade de bobagens ditas na televisão que passam batido, sem contestação, sem esclarecimento. Quem quiser, pode plantar alguma coisa com dolo (acontece muito!). Mas por genuína ignorância também se disseminam informações erradas.

A Jovem Pan, anos atrás, repercutia algumas "notícias" na rua: "Você sabia que o Maguila será o próximo Ministro da Educação? O que você acha disso?". "O Ayrton Senna foi convocado para a seleção brasileira de futebol. Você apoia?". Neguin' respondia QUALQUER NEGÓCIO. "Vi, acho um absurdo. O Maguila?". "Pelo menos o Senna vai vestir a camisa! Tá certo o Parreira".

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Hoje de manhã a Globo estava comentando a ordem judicial para que o Cingapura perto do Center Norte seja desocupado.

Assim como faz com reconstituições de crimes, esse é o tipo de coisa que merece um "desenhinho" pra explicar. Começa que as pessoas - inclusive as "esclarecidas" - fazem a maior das confusões e não entendem que ordem judicial a prefeitura cumpre; não é uma decisão do Poder Executivo. Ela pode recorrer, ganhar ou perder. Se perder, não tem escolha. É assim que funciona em um Regime Democrático - as instituições se respeitam e as regras do jogo são seguidas.

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A Justiça tem seu poder, sua autoridade. Mas também é uma instituição humana, sujeita a paixões, equívocos, disputas, vaidade. O fato de a Justiça ordenar a desocupação pode ser uma decisão correta ou equivocada.

É delicado, claro que é. Não é trivial determinar o que é cautela - talvez em excesso, talvez não - e o que é oportunismo e sensacionalismo. POR ISSO A IMPRENSA PRECISA SER CRITERIOSA, oras. Ouvir os técnicos, ler o que escreveu o juiz, confrontar opiniões contrárias, ponderar.

Voltando ao Cingapura: a Globo mostrou "moradores" (dois adultos e uns quinze moleques) virando uma caçamba de lixo no meio da rua em "protesto". E mostrou uma moradora dizendo que era um absurdo sair de lá porque eles não teriam para onde ir e "depois a gente não volta mais!", dando a entender (não me lembro das palavras exatas) que havia uma conspiração para tomar os imóveis deles e colocar outras pessoas no lugar.

E pronto. Foi essa a matéria. A prefeitura está recorrendo da decisão judicial, informaram. E quem assistiu que se vire para ter os mínimos elementos concretos para tentar concluir se o certo é sair ou o certo é ficar; se a Justiça está exagerando ou a prefeitura está sendo negligente.

Se eu tivesse mais tempo, iria atrás do despacho que determinou a ocupação. Se alguém quiser fazer isso por mim, aceito :o/.




Um comentário:

  1. Ola Soninha bom dia ou boa noite quando lerem minha opinião da qual aceito as mais sinceras criticas! É importante lembrar que a construçao tanto do Shopping Center , e dos prédios do Cingapura também tinha sido autorizados a muitos anos para serem construídos naquele espaço que estão hoje! E por que não se viu isso antes das respectivas construções? E agora fica uma situação difícil para os moradores, os comerciantes e a própria justiça de julgar!
    Espero que o povo nao sofre dessa vez, principalmente aqueles que lutaram e lutam pra ter sua casa própria! Obrigado pela oportunidade e grande abraço

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