quarta-feira, 28 de março de 2012

Tá todo mundo louco, oba ["oba": NOT]

Ou: como espalhar uma notícia sem dar um pinguinho de atenção a ela

Peguei a história no Twitter:

Tucanistão. RT : Diretor da revista "História" foi demitido por publicar resenha de "A Privataria Tucana…

Como em QUALQUER notícia, e as de demissão em especial, fico com a purga atrás da oreia. Às vezes neguin é demitido por mil outras razões e alega "perseguição". Na Subprefeitura, havia funcionários cujo currículo era uma capivara, mas na hora em que eu mexia com eles... "Tá de marcação comigo!" 

Cliquei no twitshort

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Elio Gaspari denuncia que diretor da revista "História" foi demitido por publicar resenha de "A Privataria Tucana" (transcrição abaixo)

PATRULHA E CENSURA

Diga qual foi a publicação onde aconteceu isso:

Tendo publicado em seu site uma resenha favorável a um livro, ela foi denunciada pela direção de um partido político e daí resultaram os seguintes acontecimentos:

1) A resenha foi expurgada.

2) O autor do texto foi dispensado.

3) Semanas depois o editor da revista foi demitido.

Isso aconteceu na revista "História", o livro resenhado foi "A Privataria Tucana", a denúncia partiu do doutor Sérgio Guerra, presidente do PSDB, o jornalista dispensado foi Celso de Castro Barbosa e o editor demitido foi o historiador Luciano Figueiredo.

Em nove anos de poder, não há registro de que o comissariado petista com suas teorias de intervenção na imprensa tenha conseguido desempenho semelhante.

A revista é editada pela Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, que pouco tem a ver com a administração da veneranda instituição. No episódio, sua suposta amizade ofendeu a ideia de pluralidade essencial às bibliotecas.
06:09 PM Mar 28th via webreply  
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Minha primeira reação: Sergio Guerra, que a-do-ra o Serra [NOT], iria se dar ao trabalho de "denunciar" uma resenha de "A Privataria Tucana", que trata JS como o mais sórdido dos políticos a passar pela administração pública? Hmmm...

E qual seria o teor e qualidade da "resenha"? Vai ver era um troço panfletário, mal escrito, sei lá. Fiquei muito curiosa para ler. Mas, como diz o Elio, "tiraram do ar". Bom, fui pesquisar a resenha... Achei aqui

O JORNALISMO NÃO MORREU - Celso de Castro Barbosa

Privataria Tucana’ prova que a reportagem de investigação está viva e José Serra, aparentemente, morto. 

Engana-se quem imagina morta a reportagem de investigação no Brasil. Embora os jornalões, revistas semanais e emissoras de TV emitam precários sinais vitais do gênero, ele está vivíssimo, como prova A Privataria Tucana, livro do premiado repórter Amaury Ribeiro Jr.

Lançado em dezembro e recebido pela grande imprensa com estridente silêncio, seguido de críticas que tentaram desqualificar a reportagem e o autor, o sucesso do livro, já na terceira edição e no topo das listas dos mais vendidos, não se deve a suposto sentimento antitucano. Até porque os fatos objetivos relatados não poupam o PT. Não há santos na Privataria.

Com base em documentos oficiais, da CPI do Banestado e outros que o autor conseguiu em cartórios, Amaury torna pública a relação de dirigentes do PSDB e a abertura de contas no exterior de empresas de fachada, responsáveis pelo retorno ao Brasil do dinheiro sujo da corrupção. Dinheiro que voltou, naturalmente, limpo.

Muita gente deve explicações à Justiça que, nesse episódio como em outros envolvendo expressivos representantes da elite brasileira, move-se a passos de tartaruga. Ou simplesmente não se move. Pelo cargo que ocupou na época das tenebrosas transações, as privatizações da era FHC, José Serra, então ministro do Planejamento e depois duas vezes candidato à presidência, prefeito e governador de São Paulo, é quem tem a imagem mais chamuscada, para não dizer estorricada, ao fim da Privataria Tucana.

De origem humilde, o tucano paulista exibe patrimônio incompatível com os rendimentos de um político. Tudo em nome de sua filha, Verônica, que ao lado de Ricardo Sérgio, tesoureiro das campanhas de Serra e Fernando Henrique, emergem como principais parceiros do ex-governador no propinoduto que marcou a venda das empresas de telecomunicação.

Além de jogar uma pá de cal na aura de honestidade de certos tucanos, o livro de Amaury tem ainda o mérito de questionar, involuntariamente, a atuação da grande imprensa no país. Agindo como partido único, onde só é permitida uma única opinião, jornais, revistas e mídia eletrônica defenderam, com unhas e dentes, a privatização. O principal argumento era a vantagem que traria aos consumidores: eficiência e tarifas baixas por causa da concorrência. Passados mais de dez anos, o Brasil cobra tarifas de telefone das mais altas do planeta e as concessionárias são campeãs de reclamação nos Procons.

Não bastasse, ao ignorar o lançamento do livro, a imprensa hegemônica mostra sua face semelhante à dos piratas: um olho tapado, que nada vê, e outro atento à movimentação dos adversários.


Hmm... Ruinzinha como resenha, hein? De fato é um panfleto...

O sucesso do livro (...) não se deve a suporto sentimento anti-tucano". Nããão, que é isso. 

"Até porque os fatos objetivos narrados não poupam o PT. Não há santos na privataria". Gozado que os "fatos objetivos" que "não poupam o PT" não são citados, praticamente... Nem pela "grande imprensa". 

O processo "move-se a passo de tartaruga". Pois é, depois de oito anos de governo petista. Estranho. E a CPI até agora não saiu, embora o governo tenha maioria na Câmara (apanha aqui e ali, como na Lei Geral da Copa, mas tem). 

Aliás, muito antes de uma editora topar publicar o livro, o PT e o atual governo poderia ter lido tudinho, não? Não podia ter saído há muito tempo na internet, como "O Chefe", do Ivo Patarra, em copyleft? Amaury nunca escondeu suas relações com o partido. Enfim, a "resenha" não tem um trecho sequer do livro, só elogios esfuziantes e críticas à imprensa hegemônica. 

(Ah, sim, e ele fala em "documentos que o autor conseguiu em cartório" - contratando um despachante para forjar uma procuração e cometer um crime, pelo qual ele responde na Polícia Federal). 

***

Ainda não li o diabo do livro, mas quero. Mas vi uma entrevista do Amaury... Santo deus. Como disse um advogado sobre Luxemburgo anos atrás, "ele não domina o vernáculo". Vejam, por favor:  





(O link antes disponível na Revista Fórum não está mais lá -
http://www.revistaforum.com.br/blog/2011/12/12/assista-entrevista-de-amaury-ribeiro-jr-no-lancamento-de-a-privataria-tucana/ ).

Começa "bem" (1min23): Amaury diz "Eu tô nessa jornada mais de 20 anos, né (...) Há 20 anos eu tento publicar esse livro e não consigo. A imprensa não quis publicar isso (...) No Globo eu não consegui". Vinte anos atrás - 1992 - sequer Fernando Henrique era presidente. 

***

Voltemos ao tuíte original. 

A Revista de História é "da Biblioteca Nacional", como diz sua própria capa - e não "editada pela Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, que pouco tem a ver com a administração da veneranda instituição". E a Sociedade de Amigos tem tudo a ver com a veneranda instituição - sua página, aliás, está no site da Biblioteca Nacional, veja aqui . 

A Revista de História tem "patrocínio" da Petrobrás, do Ministério da Cultura, do governo federal... Vejam: 


Não são exatamente instituições tucanas, neam?

Qual seria, então, a fonte sobre a demissão do jornalista Celso de Castro Barbosa? 

O próprio: achei uma carta dele aqui.

Trechos em destaque:

"Depois de ler ‘A Privataria Tucana’, livro do premiado repórter Amaury Ribeiro Jr., destaque em todas as listas dos mais vendidos no país, sugeri a publicação de uma resenha no site da revista, haja vista o silêncio estridente com que livro foi recebido pela grande imprensa. Sugestão aceita, o texto foi publicado em 24 de janeiro de 2012, permanecendo à disposição dos leitores por nove dias até ser censurado e retirado do ar. Fato que me fez lembrar da ditadura militar, quando os gorilas de plantão ordenavam o recolhimento de alguma publicação que não lhes agradasse"

"O que passo a contar agora não encontra paralelo em tudo o que vi e vivi em ambiente de redação. Em 1º de fevereiro fui chamado à sala do editor, que me comunicou o seguinte: que concordava com praticamente todas as observações da minha resenha; que o sr. Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central no governo FHC, mobilizara o alto escalão tucano para protestar contra o texto" 

[A Revista é patrocinada pelo Petrobrás etc e editada pela Fundação Biblioteca Nacional - que é ligada ao MINISTÉRIO DA CULTURA, não custa lembrar]


"Afinal vivemos num país democrático, cuja constituição garante a todos os brasileiros o direito a opinião, sem falar da liberdade de imprensa. Disse ainda que o PSDB tinha todo o direito de reclamar, assim como o PT, que também não foi poupado na resenha".

"Não sou petista, muito menos entusiasta do governo Dilma e não tenho simpatia pela pessoa da presidente. Um fato, no entanto, me leva a admirá-la, ainda que parcialmente. O de não ter delatado seus companheiros de organização política, nos anos 1970, nem sob tortura. Admiração semelhante tenho por Roberto Marinho, que protegeu seus empregados sempre que foram atacados. Na ditadura e na democracia".


[Alegação básica para protestar isenção: "Não sou petista"... E declarar admiração por algum "inimigo"... Hmmm].

"... apurei meu faro de repórter de forma a me proteger e saber com quem de fato estava lidando.Em consulta à página da Plataforma Lattes, do Cnpq, fiquei sabendo que o professor Luciano Figueiredo é contratado da Universidade Federal Fluminense em regime de dedicação exclusiva. Em consulta ao Gabinete do Reitor da UFFfui informado de que é vedado aos professores contratados sob este regime quaisquer atividades remuneradas, mesmo que relacionadas às suas áreas. E em consulta ao Ministério Público, fiquei sabendo que é crime acumular as duas funções".

[Então... Seu algoz trabalha para dois órgãos federais. Bom, lá atrás o próprio Celso já tinha escrito:]

"Em 1º de fevereiro fui chamado à sala do editor, que me comunicou o seguinte: que concordava com praticamente todas as observações da minha resenha; que o sr. Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central no governo FHC, mobilizara o alto escalão tucano para protestar contra o texto; que redigiria uma nota assumindo toda a culpa pelo episódio".

[Só temos a versão do Celso, mas se o professor, funcionário público federal, disse que gostava de "praticamente tudo" na resenha mas os tucanos estavam pressionando... Por que ele cedeu, hein, se a chefe, em última instância, é a Dilma??]

***

Enfim, a origem da história está no fato de um colunista do PIG (Elio Gaspari, da Folha e do Globo), ter publicado uma nota com erros crassos, elementares:

1 - Isso aconteceu na revista "História" ---> Essa é outra; foi na "Revista de História".

2 - A revista é editada pela Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional ---> Não, é publicada pela própria Fundação Biblioteca Nacional.

3 - "...a Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, que pouco tem a ver com a administração da veneranda instituição". ----> Não, tem tudo a ver, é uma sociedade civil diretamente ligada à veneranda instituição, que por sua vez é vinculada ao Ministério da Cultura. 

 "A denúncia partiu do doutor Sérgio Guerra, presidente do PSDB" ---> bom, aí não sei, o próprio Celso citou outros tucanos. 

4 - "Em nove anos de poder, não há registro de que o comissariado petista com suas teorias de intervenção na imprensa tenha conseguido desempenho semelhante". ----> Então... a publicação é do governo federal. Aquele, do PT/PMDB, partido que preside o país hoje, com o glorioso Michel Temer, na ausência da presidente. 

*** 

PS1: Desde quando ser da lista de "mais vendidos" é prova de qualidade e fidedignidade? (O resenhista destaca muito isso. Bem... Grande coisa)

PS 2: Algumas participações de Celso Barbosa na internet:



#Phyno.


Espírito democrático.

(A resposta do Augusto tb... Afe. Bom, a página é esta aqui)

PS 3: Preciso mesmo ler A Privataria. Mas não foi a resenha que me convenceu, não.




Um comentário:

  1. Leitura obrigatória. Depois de ler acredito no ditado: "O macaco senta-se no rabo e acusa o macaco de ter cuada grande".

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