domingo, 18 de janeiro de 2009

Rede de intrigas

Hoje de manhã, fui a um evento no Pelezão, um clube escola municipal na Lapa. 28 anos atrás, eu ia lá jogar basquete... Minha mãe dava aula na Cultura Inglesa da R. Pio XI; eu pegava carona com ela e encontrava amigos de Peruíbe que moravam ali perto, passava a tarde com eles.

O coitado do Pelezão já passou por fases de total abandono, mas melhorou muito nos últimos anos. Tanto que passou de 500 usuários para 12.000. O acesso é condicionado ao uso de uma carteirinha, mas obtê-la é facílimo (foto 3 X 4, documento de identificação, comprovante de residência).

O Supervisor de Esportes da Sub da Lapa mostrou, justificadamente orgulhoso, algumas das melhorias recentes. “A gente iluminou aquela pista de caminhada. Sabe quanto custou para a prefeitura? 500 reais”. Animador – algumas coisas muito simples deixam de ser feitas apenas por falta de iniciativa; se alguém se importar, elas acontecem.

Nos próximos dias, ficará pronta outra novidade – a piscina se tornará totalmente acessível para cadeirantes. Eles terão vestiário adaptado e uma rampa até a borda da piscina (antes havia degraus). De lá, se tiverem movimento nos braços, conseguem sair sozinhos da cadeira-de-rodas e ir para a água. Algo ao mesmo tempo singelo e fundamental – poder ir sozinho à piscina!

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A ocasião concentrou dois tipos básicos de reação à minha ida para a Subprefeitura: um, feliz e otimista: “Que bom, eu votei em você, sou seu fã, adoro suas idéias, conta com a gente, tenho certeza que você vai fazer um trabalho muito legal. É um pepino/ uma guerra/ um desafio, mas a gente está torcendo e acreditando”. Outro, especialmente por parte de quem já trabalhou na máquina pública e, em alguns casos, de quem já precisou se relacionar diretamente com ela, tem tom de alerta grave: “Olha... Não é fácil. Você se prepara. A coisa aqui não é bolinho”. E aí contam casos com maior ou menor riqueza de detalhes.

Como já vi em outros lugares, é impressionante a variedade de formas de desonestidade. Por exemplo: tem gente que fala em nome da Subprefeitura sem ter qualquer vínculo real com ela. Concedem autorizações, impõem restrições... O interesse pode ser financeiro (em um caso ou em outro, cobra-se para autorizar, retirar obstáculos) ou político-partidário-beligerante. Exemplo: alguém se apresenta como representante da Subprefeitura e diz: “Vocês se preparem porque qualquer dia desses a prefeitura vai vir aqui e derrubar todas as casas/ fechar a biblioteca/ mandar todo mundo embora/ acabar com o Bilhete Único/ privatizar o hospital e acabar com o atendimento gratuito”. Semeia-se tal terror que é dificílimo convencer as pessoas de que não há risco de aquilo acontecer.

(Não fiquei sabendo disso agora, ao me preparar para o cargo. Acompanhei muitas histórias parecidas como vereadora, tentando desmontar redes de intrigas em vários cantos da cidade).

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Algumas pessoas se gabam de terem sido responsáveis pela minha indicação para o cargo; outras espalham que eu não vou tomar posse porque elas vetaram meu nome. É incrível.

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Na “máquina” tem de tudo, é óbvio. Aliás, já devo ter falado isso mil vezes.
Tem, por exemplo, uma funcionária que um dia disse ao chefe: “Não vou mais fazer plantão”. Os plantões fazem parte das suas atribuições; há um rodízio entre todos os funcionários do departamento. O chefe, naturalmente, disse que não poderia atender seu pedido (ordem?). O que ela fez? Passou a usar todas as prerrogativas concedidas aos servidores públicos, tirando seguidas licenças, faltando com e sem justificativa, saindo de férias em seguida... Ou seja, sumiu, largou mão do trabalho, deixou o serviço acumulado para os colegas. E não há quase nada que se possa fazer, uma vez que, oficialmente, está tudo certo, ela só está exercendo seu direito.

Enquanto isso, outra funcionária, de função equivalente à dela, se queixa: “A gente queria fazer muito mais do que faz. Ter mais projetos, mais trabalho”. Fica frustrada com improdutividade ou impotência. É justo que as duas gozem da mesma estabilidade no emprego?

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Existem outras categorias de reação ao meu novo cargo. “Vendida, traidora, duas-caras, oportunista, carreirista, sem-vergonha. Eu sabia, você só queria uma boquinha. Você vai dar sustentação a um partido da ditadura militar”. E também: “Soninha, você sabe o quanto eu gosto de você, não vá. Não porque eu não confie em você, mas porque é missão impossível. É uma máfia/ é muita burocracia/ a estrutura é muito ruim/ você vai encontrar muita sacanagem”.

Não é muito diferente do que eu ouvi quando fui candidata a vereadora e deputada...
Se as pessoas entendem – com bons motivos, infelizmente – que assumir um cargo pode ser o equivalente a arrumar “uma boquinha”, o que elas sugerem que eu faça? Deixe o cargo para quem gosta dessa idéia? Recuse dizendo: “Não, obrigada, eu não quero o cargo porque minha vontade é trabalhar para valer”? – para provar que sou honesta, idealista?

E se entendem que o setor público tem muitos problemas e sacanagens, muita corrupção e má-vontade, o que esperam de mim? Que eu diga “Não, obrigada, eu não quero o cargo, convide alguém que não se importe tanto com os problemas”?

Eu quero problemas... Se fosse formada em medicina, seria do Médico Sem Fronteiras. Quero ir onde tem trabalho para fazer.

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Um dos problemas típicos do bairro: as árvores muito antigas. Algumas aparentemente frondosas, mas condenadas. Outras precisando de uma poda, que precisa ser autorizada pela Secretaria do Verde ou, em alguns casos, até pelo Compresp (Conselho do Patrimônio Histórico). Enquanto isso não acontece pela dificuldade de entendimento (às vezes há pareceres conflitantes – remover X podar) ou dos trâmites burocráticos, algumas árvores caem. Na última chuva forte, foram sete, uma delas em cima de um carro, derrubando postes e fios. Impressionante a quantidade de gente que já me parou para falar das árvores.

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Uma observação – perfeita – de um funcionário da Sub: “A comunidade daqui da Pompéia, da Lapa, é muito articulada, exigente. Mas você tem de ir pro Jaguaré e Jaguara. Lá tá muito largado... Comparado com aquilo, isso aqui tá ótimo”.

Claro que não está perfeito, mas não dá para negar que alguns distritos estão muito melhores do que os outros, por razões diversas. (São seis no total: Pompéia, Perdizes, Barra Funda, Leopoldina, Jaguaré, Jaguara). Mas essa diversidade também me atrai. Lindo é poder respeitar as diferenças entre as regiões e superar as desigualdades entre elas.

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Amanhã é a cerimônia de posse. Estou animada e feliz. Não vejo a hora de começar.

6 comentários:

  1. Boa sorte na posse minha (sub)prefeita !
    beijos do estraviz

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  2. Apesar de também ser contra a gestão DEM em São Paulo, jamais torcerei contra a minha cidade ou contra uma pessoa que prova a cada dia o quanto quer fazer do mundo um lugar melhor não só para ela, como para todos.

    Subprefeita, seja muito feliz em sua nova fase. Que todos os obstaculos sejam facilmente superados e que você consiga alcançar todos os seus objetivos para ajudar o povo!

    BOA SORTE! E PARABÉNS!

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  3. O legal do Blog/twitrer/etc. é que vamos poder ver se sua empolgação vai continuar... é até uma maneira de VOCÊ mesmo se cobrar. Todo político devia fazer isso (por vontade própria)... é uma relação mais HUMANA. Confesso que não sou (ou era) lá muito seu fã, mas lhe admiro pela coerencia e compromisso.

    Felicidades e Boa sorte!

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  4. Boa sorte, Soninha! Você está indo para um bairro onde o seu perfil se adequará muito bem neste momento.

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  5. Fico MUITO feliz que você tenha assumido o cargo, meu voto nas eleições a prefeitura foi destinado a você.

    Só tenho uma dúvida: Moro na Vila dos Remédios, bairro que fica entre a Vila Leopoldina e a Vila Jaguara. É a sub da Lapa que administra aqui?

    Mal vejo a hora de poder ir na Sub da Lapa pras assembleias!

    Boa sorte!

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  6. Giovane, a Vila dos Remédios é da Sub Lapa sim. E que bom! Assim temos mais um pra ajudar!
    Espero que possa participar mesmo!

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