domingo, 8 de fevereiro de 2009

Aí vem o dilúvio

Postado por Soninha Francine

Tutatis não ouviu nossos apelos e o céu caiu sobre nossas cabeças.

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Eu fiquei rezando - só o que me restava - para não cairem mais árvores.

Na televisão, imagens de carros amontoados na Vila Madalena.

Toca o telefone da Lylian, que estava comigo (depois de ter ido a um evento dos escoteiros no Pelezão): "Você já soube da Avendida Pompéia?", pergunta o Eduardo Fiora, do Jornal da Gente. "Teve carro amontoado, um caos!".

E lá vamos nós...

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Contornamos os congestionamentos e paramos o carro a três ou quatro quarteirões do "ponto zero". Ficamos boquiabertas com as cenas de filme-catástrofe. Carros espalhados para todo lado, apontando em todas as direções, encaixados uns nos outros ou em objetos diversos - postes de luz, árvores, placas de trânsito, lixo. Alarmes disparados. Dezenas de pessoas meio atarantadas, abrindo porta-malas, tirando objetos pessoais, tentando fazer o carro funcionar. Lama para todo lado.

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Em um sobradinho, a água inundou o andar de baixo até a altura da minha testa. A estante com dezenas de livros, o aparelho de som, o aspirador, a enceradeira foram todos inutilizados.

"A cada dia que passa no verão eu agradeço: ufa, passou mais um. [Mais um dia sem enchente]. Hoje não passou".

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Ao lado da casa dela tem uma loja da Hering. O proprietário veio conferir os estragos; abriu a comporta que procura conter a inundação e foi "saudado" por enxurrada que saía, com muita força e volume, pela fresta entre a porta e o chão. Ou seja: a loja estava inundada. Não parava se sair água.

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Eu nunca vi tanto giuncho de automóvel junto na minha vida. A proporção era mais ou menos assim: 1 da Fortaleza/ 1 da Mondial (acho que é isso)/ 1 da Azul não-sei-quê/ 20 da Porto Seguro. Virou até piada - a gente achou que era sempre o mesmo guincho que ficava desfilando para parecer que eram vários. Não deu pra rir muito tempo porque toda hora víamos três ou quatro guinchos da Porto ao mesmo tempo...

Em compensação, um rapaz que chamou o seguro do Itaú às seis da tarde para tirar seu carro do canteiro central da avenida esperou até as duas da manhã para ser atendido. Quando, depois de muitas ligações e palavrões, foi informado de que seu guincho só chegaria às quatro e meia da manhã. bufou, espumou e resolver contratar um guincho particular. Ele já estava esperando há OITO horas! Depois pediria reembolso e processaria a seguradora, pronto. Só o dano moral de ficar horas parado enquanto vê um desfile de caminhões da outra seguradora já merece indenização...

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Pois na hora que ele foi embora, apareceu o guincho.

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A dona da casa alagada, que perdeu coleções inteiras de livros (a do Monteiro Lobato, grandona com capa dura esverdeada, era igualzinha a minha), que teve a casa invadida por água suja e fedida, que teve uma janela e a cristaleira quebradas por força da água, conversava com a gente como se não tivesse todos os motivos do mundo para estar p* da vida.

Disse que da outra vez (não é sua primeira enchente) procurou a Sub da Lapa para saber como pleitear desconto ou isenção no IPTU, para compensar os danos da inundação. E disse que não conseguiu nada.

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Veio a CET ajudar a organizar o trânsito e desencorajar os motoristas que corriam demais nas pistas cheias de barro); veio um caminhão de lixo com três (depois quatro) pessoas incrivelmente prestativas e bem-humoradas; veio um caminhão pipa lavar a rua enlameada (pena que a água dele acabou antes de o serviço ficar completo, mas era uma lama grossa, pesada, que deu muito trabalho para ser removida. De onde terá vindo? De prédios em construção?

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Desculpem se o texto estiver meio descosturado. Estou morrendo (coloquem uns cinco ee aí) de sono e escrevo quase sonâmbula.

Ainda bem que parou de chover.

10 comentários:

  1. Sra Sub Prefeita
    Sonia Francine

    Isto é reflexo do DESCUMPRIMENTO TOTAL das leis
    pelos municipes (e pela prefeitura: “de olhos bem fechados”)

    DESDE 1992 o CODIGO DE OBRAS LEI 11.228/92, REZA:
    “......
    10.1.5 - As condições naturais de absorção das águas pluviais no lote deverão ser garantidas pela execução de um ou mais dos seguintes dispositivos:
    a) reserva de, no mínimo, l5% (quinze por cento) da área do terreno livre de pavimentação ou construção;
    b) construção de reservatório ligado a sistema de drenagem.......

    10.1.5.3 - O volume de água captado e não drenado em virtude da capacidade de absorção do solo, determinado conforme critérios fixados pelas N.T.O., deverá ter seu despejo no sistema público de águas pluviais retardado, para tão logo este apresente condições de receber tal contribuição.....”

    http://plantasonline.prefeitura.sp.gov.br/legislacao/lei_int.php?id=1040

    ALEM DA ESQUECIDA
    LEI Nº 13.276, DE 04 DE JANEIRO DE 2002
    Torna obrigatória a execução de reservatório para as águas coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500m².(Regulamentada)
    (Projeto de Lei nº 706/01, do Vereador Adriano Diogo - PT)
    http://plantasonline.prefeitura.sp.gov.br/legislacao/lei_int.php?id=28

    Para completar o samba do criolo doido
    a SEMPLA (secret. de planejamento, não dispoe nem usa essas leis, DESCONHECEM SUA EXISTENCIA)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Afora que o volume de água que caiu do céu foi extraordinário!
    De cara pensei na Lapa, oh Santa Clara!

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  4. Oi, Soninha. Tudo bem?
    Sou a Thais Arbex. Não sei se vai se lembrar de mim, mas participei no ano passado do debate no iG com os candidatos à prefeitura de São Paulo. Fui umas das três internautas que fizeram perguntas durante o debate. Preciso muito falar contigo.

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  5. Tais, me mande um email por favor, que eu marco para vocês: lylian@soninha.com.br

    E eu vou mandar uma carta ao Vaticano, pedindo a oficialização da "Nossa Senhora da Defesa Civil", para quem eu tenho rezado diariamente... :o(

    E a canseira? E a preocupação? A única coisa que me consolava era: NINGUÉM SE MACHUCOU.

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  6. "Nesses momentos, agradeço a Deus por morar num lugar alto" é o que uns dizem. Mas a verdade é que, como mostra o colega aí de cima, as leis são lindas mas não respeitadas pelos mesmos (nós)que as criam.
    Não se preocupe com a publicidade ruim do Itaú, eles colocaram um comercial bem cinematográfico com crianças e idosos para nos comover. Além de que, como você é funcionária da prefeitura, deve receber generosas barganhas (ou venda casada, se preferir) do seu gerente do Itaú.

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  7. Olha, muitas coisas podem ser ditas a respeito da chuvarada de ontem e seus respectivos estragos... mas há muito tempo não presenciava tanta água vinda do céu... podem estar certos disto!

    Na região da Lapa de Baixo (onde moro) a situação foi bastante complicada, sobretudo pela inundação das passagens de nível. As duas passagens possuem sistemas de drenagem porém foram insuficientes para sanar a quantidade de água das chuvas de ontem. Outro fator relevante diz respeito à quantidade de lixo jogado no chão! Ambulantes que compram produtos para revender nos trens (pulam o muro da linha férrea)jogam o lixo nas ruas da Lapa da Baixo (Tenente Landi, Eng. Aubertin, Eng. Fox e outras).

    Bom, para "parar de reclamar" e pensar de maneira propositiva, podíamos pensar em alternativas para a questão (uma tentativa de "conscientizar" os comerciantes a disponibilizarem locais para que o lixo seja recolhido.. sei lá...)

    Podemos ajudar enquanto moradores também!

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  8. Robson, hoje pela manhã estive nas ruas que você citou e em algums outras e o volume de lixo era imenso! Os cocos verdes e as espigas de milho que são comercializados todos os dias bem na entrada da passagem da Lapa de Baixo para o Mercado e Terminal ( Buraco de Tatu ), estavam esparramadas por toda a rua,bloqueando as bocas de lobo,enfim... o caos! A Rua da feirinha de sábado ( que fica ao lado do sacolão ) lotada de restos de frutas, legumes,verduras, pedaços de madeira, caixotes etc. Terminou a feira e ninguém recolheu o lixo que ficou. Veio a água e espalhou e entupiu tudinho. Fiquei com medo do vento...acho que deve ter chegado a uns 70/80 quilometros por hora. Na Praça Jacomo Zanella, várias arvores cairam, felizmente sem afetar as vias públicas. Ficamos sem luz por mais de 3 horas.Rezo por todos que foram atingidos pela enchente, pois isso é algo que ninguém merece. Nem que a Sub Lapa pudesse fazer milagres, conseguiria resolver de pronto essa calamidade.É água demais, é lixo demais e cidadania de menos.

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  9. Ola Soninha,
    Sobre a enchente na Av. Pompéia:
    Ano passado, em uma reunião que participei com sua predecessora, moradores da região reclamaram que o piscinão do Shopping Bourbon era ridiculamente pequeno e o acordo com a prefeitura de construí-lo, fôra escamoteado.
    É certo que choveu muito, mas essa questão do piscinão do Shopping Bourbom não foi apurada e ficamos sem resposta. Fica ai uma sujestão para que o assunto seja esclarecido.

    Obrigado.
    José Félix
    http://www.psdblapa.com.br
    webmaster@psdblapa.com.br
    @ze_felix

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  10. Isso aqui é terra de ninguém. Dá uma vontade de ligar o foda-se de uma vez. Aqui perto também encheu. É lixo pra todo lado; o vizinho querendo arrancar outra árvore; o outro cimentando até o tronco; o construtor invadindo a calçada pra cumprir a metragem permeável da obra.

    Aí recebo um convite de sociedade de um rábula “bem sucedido” entre comerciantes do bairro, metido também no ramo imobiliário e planejando expandir pra virar empreiteiro. Me mostra sua obra de 1 milhão, minha sala exclusiva, aponta o marfim, as cadeiras de couro, procura o hipotético rutilar nos meus olhos e revela advertindo: o negócio é oferecer um serviço diferenciado, por isso temos contatos em todos os órgãos, a gente faz inventário até de gente viva. No final riu, um pouco embaraçado.

    Explico que não dá, sinto raiva de ter me transformado no meu pai e também revelo: já, já o Kassab me chama. É uma 600 pilas por mês. Aí ele ri de novo, incapaz de entender.

    Mas eu também nunca entendi direito.

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