A dona da casa cujo primeiro andar foi todo alagado, que perdeu coleções inteiras de livros (como Monteiro Lobato e Agatha Chirstie), equipamentos eletro-eletrônicos, móveis, discos, etc., e que mora com duas pessoas com dificuldades de locomoção, e que já foi alagada várias vezes, e que aguarda a conclusão de um processo de desapropriação para sair dali (impossível vender a casa agora), demonstrava senso de humor, calma e paciência inacreditáveis.
Enquanto jogávamos pilhas de livros enlameados no caminhão de lixo, ela às vezes dizia: "Nem vou pensar senão eu choro". Eu já estaria chorando - de raiva, tristeza - há muito tempo.
Ainda teve a idéia de trazer coca-cola na bandeja para quem estava na calçada com ela. Se solidarizava com o vizinho que tem uma loja de peles (a janela foi arrombada pela água), lembrava outros episódios, contava as cenas absurdas que já viu nos últimos anos.
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Uma das lembranças foi uma reunião na Subprefeitura, na gestão do Adaucto. Enquanto conversavam no auditório, alguém tacou uma pedra - segundo as descrições, quase um paralelepípedo - pela janela próxima ao palco. Só não pegou no Subprefeito porque ele estava na platéia.
Quem atirou? Um ex-funcionário.
(Trilha sonora: faroeste).
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Naquela época, os moradores que reclamavam mais ardidamente eram qualificados como "gente do PSDB, que só vem aqui pra encher o saco". Nos anos posteriores, os críticos mais contundentes eram classificados como "petistas a fim de atazanar". Ê, laiá.
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Diz que a água chega a atingir 100km/hora quando desce a Pompéia. Que a Kalunga, para se proteger, subiu um muro meio metro e acabou prejudicando o escoamento do vale. Que o pessoal da escola de samba que fica debaixo do viaduto precisa sair correndo para não se afogar. Que o shopping pagou seis milhões para a EMURB e nada foi usado, até agora, em benefício do bairro. Que precisa fazer a ligação da galeria com o rio. Que a CET costuma aparecer a tempo para fechar o trânsito, mas que dessa vez foi tudo muito rápido. Que foi a comunidade quem conseguiu que o SESC Pompéia botasse uma placa dizendo "Em caso de chuva, não estacione aqui - risco de alagamento".
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Os lixeiros quiseram tentar salvar algumas coisas, como o aparelho de som. E disseram que a empresa tem uma sala só com coisas "boas" que as pessoas jogam fora - livros, por exemplo. "Esses não têm jeito, mas tem gente que joga livro bom, livro inteiro. Todo mundo gosta e lê".
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(Dos lixeiros): "Se você fosse prefeita, ia aumentar nosso salário, não ia?"
"Se eu pudesse, não tenha dúvida".
Por enquanto, prometi "só" um lugarzinho no céu. Na área VIP.
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A moradora não quer sair do bairro. Tem amizade com o pessoal do supermercado, conhece todo mundo no quarteirão e, principalmente, não quer se afastar da unidade de saúde (um CAPS) onde o filho faz tratamento. "Eles são dez. O Dr Luiz é fantástico, todo o pessoal é demais".
O que eu menos esperava àquela altura era uma boa notícia.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPrezado pedrinho,
ResponderExcluirDe acordo com a lei 14.493/2007, todos os prejudicados pelas enchentes (sim, incluindo o shopping Bourbon) terão isenção de até R$ 20 mil no IPTU do próximo exercício (ou seja, de 2010). Os interessados deverão solicitar o benefício na Subprefeitura.
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/financas/servicos/iptu/index.php?p=4212
Excelente
ResponderExcluirGostaria de sugerir:
Um comunicado da Sub Prefeitura nos jornais de bairro da região e nos de grande circulação, esclarecendo os munícipes-leitores atingidos de como proceder.
Dar uma orientação-treinamento na Praça de Atendimento de como atender, orientar e dar prioridade às pessoas que para lá se dirigirem com essa finalidade.
Quem sabe o Setor de Cadastro possa identificar os possíveis imoveis atingidos e o setor de comunicação Lapa mandar correspondencia aos mesmos esclarecendo os direitos e benefícios previstos na Lei 14.493/2007 e de como proceder (SAC, Visitaà praça, etc..)
grande abraço
arq.pedrinho@gmail.com