segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

"Projeto Pessoal"

Hoje eu soube que um jornalista da Transparência Brasil formulou a seguinte pergunta para um vereador (ou para todos, nem sei): "A vereadora Soninha usou seu mandato para um projeto pessoal. O senhor pretende usar o seu também?".

Eu às vezes não entendo a visão que a Transparência tem de cargos públicos.

Como assim, "usei meu mandato"? Eu me candidatei em 2004, obtive um mandato como vereadora, o exerci tão bem quanto pude, fiz escolhas doloridas (que me levaram a ter muito mais dificuldades lá dentro) e, ao final, decidi que não queria mais um período como parlamentar, e sim disputar a prefeitura de São Paulo.

(Depois de, em 2006, em uma última tentativa de ser feliz no meu antigo partido, que vivia uma crise medonha, ser candidata a deputada federal - e disso eu me arrependo, sinceramente, porque fui sem convicção e foi horrível).

Isso é "usar" o mandato? Mais ainda, para um "projeto pessoal"?

Quer dizer que candidatos à prefeitura não são candidatos a um cargo público, voltado para a sociedade - são alpinistas sociais ou coisa parecida?

Juro, eu queria que ele me explicasse o que é "usar o mandato". Meus assessores parlamentares trabalharam intensamente pelo mandato, pela cidade, pela sociedade - não acompanhou o trabalho deles quem não se interessou, porque tudo era escandalosamente transparente. Se cometemos erros, se fracassamos em algumas coisas, não foi porque "usamos" a Câmara para outros fins.

Eu, aliás, sacrifiquei vários "projetos pessoais" para ser candidata a vereadora e, depois, candidata a prefeita.

No primeiro caso, fui dispensada da Rádio Globo, onde era comentarista. (A ESPN sempre segura a onda...). No segundo, saí do Saia Justa - onde, por uma gravação + reunião de pauta por semana, eu recebia quase o dobro do salário de vereadora. Ou de Subprefeita). Sem falar da vida familiar, que foi para o beleléu (um internauta chegou a dizer no chat do Terra: "Sua casa é muito bagunçada, como você pode querer governar a cidade?" Eu NÃO PARO em casa!).

Perdi duas Olimpíadas para ser candidata. Para quem não gosta de esporte, pode parecer ridículo. Para quem ama...

Agora, como Subprefeita - será que este é um "projeto pessoal"? - precisei sair também da Folha de São Paulo. Trabalho doze horas por dia e tenho um telefone que não desliga, como se eu fosse pronto-socorro. Todos os problemas nos 40 km² que me cercam são "meus". Adoro estar aqui, estou muito feliz, mas "vem ser Subprefeita pra ver como é bom" (parodiando a Marta, fula da vida com o Chico Pinheiro - fui e sou totalmente solidária a ela naquele caso).

Inacreditável como uma organização que se propõe a elevar o nível de conhecimento das pessoas sobre a administração pública pode fazer um julgamento tão canhestro.
Já que eu "usei o mandato", gostaria que eles me dessem um exemplo do que é "não usar". É sair da Câmara e nunca mais ser candidato?

O feio é ser candidato??

10 comentários:

  1. Concordo que a pergunta foi mal formulada, mas será que teve essa conotação? “Usar o mandato” é expressão difícil de explicar mesmo. Já a intenção de ser prefeita como sendo um “projeto pessoal” é mais fácil, porque não são coisas incompatíveis, desde que o exercício do executivo seja prazeroso na medida em que viabiliza eventual desejo de trazer melhorias pra cidade, o que me parece ser seu caso. O poder pelo poder é que uma merda.

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  2. É, vai ver a conotação não era negativa... Mas ainda acho mais provável que tenha sido!

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  3. Eu acho que a sociedade passa por um momento louco onde todo mundo acha que ser maduro e inteligente é praticar o cinismo e esperar sempre uma chande de apontar o dedo. Praticam isso para posar de "politicamente correto" (The horror, the horror).

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  4. Ao menos a pergunta valeu pra vc revelar (aqui) qual seu projeto pessoal (sic) que é muito mais coletivo e nada individual, e a prova disto é a sra encarar a administração de uma subprefeitura!

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  5. Um "projeto pessoal"
    Depende muito se cercar de pessoas
    de CONFIANÇA ABSOLUTA, ajudando e vestindo
    a camisa. i.é.
    (digo dando sangue e suor, às vezes lágrimas)

    Quanto às DEMAIS pessoas,
    tentar a técnica da cenoura em frente ao focinho, digo nariz...

    Metas a alcançar é bom

    Quem não cumprir as "Tuas Metas"
    que cumpra horário....

    Um exemplo duvidoso mas esclarecedor
    SEHAB-Aprov produz 150-200 processos mes
    200/50 tecnicos = 1 proc/semanaqtécnico...
    que pouquito...

    http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/habitacao/aprovacao_edificacoes/0001

    QQUER hora tá sempre meio vazio.

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  6. Infelizmente você deixou a bola "kicar". Não foi eleita para nada e aceitou um cargo comissionado, acho que você terá que OUVIR essas colocações sem QUESTIONAR. Infelizmente concordo com a afirmação do portal Transparência Brasil. Você pode ser diferente dos outros ( e é) mas a atitude foi a mesma apesar de você ter mais credibilidade quando diz que tem boas intenções.

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  7. Se (segundo o portal)tudo até agora, foi um "projeto pessoal" seu, quero dizer que aposto muito nos seus objetivos.

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  8. Soninha, não dê atenção aos falsos moralistas. Siga em frente no seu corajoso trabalho, é o que importa. Fazer bem e com a consciência tranquila. Sâo Paulo só terá a ganhar com seu talento e sua vontade por mudanças. Um abraço.

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  9. Se serve de consolo, certo site de "transparência na política" andou listando como corruptos até políticos que tiveram processos abertos contra eles, foram absolvidos e devolveram processos de calúnia e difamação contra os acusadores.
    Pra não dizer que sugeriram na cara-dura a extinção do cargo de vereador!
    Abrir processo, acusar, caluniar, todo mundo pode. Difícil é provar e arcar com as conseqüncias.

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