Comparando abordagens

Título do Correio Braziliente sobre a passagem de Serra por Pernambuco ontem

Ao chegar atrasado a um concerto, Serra é recebido com vaias

Serra não "chegou atrasado a um concerto" - dá a impressão de que ele tinha um compromisso e perdeu a hora (ok, não é a coisa mais rara do mundo...). Mas não foi assim. Em Gravatá, onde acontece o esplêndido festival Virtuosi, ele caminhou por cerca duas horas pelo Pólo Moveleiro, parando a cada dois passos para ouvir, falar, tirar fotos (ninguém fala muito sobre "o impacto dos celulares nas caminhadas de campanha", mas é imenso :o)) e, depois dessa atividade, passou pela Igreja Matriz de Sant'ana,  onde estava se apresentando Victor Asuncion, aclamado pianista filipino. Claro que ele não quis perder a oportunidade de vê-lo; nem precisaria que seus anfitriões tivessem insistido tanto... Por um lado, seria até indelicado não ir (com má vontade, não faltaria quem dissesse: "Sem poder pedir votos, Serra esnoba recital..."); por outro, entrar na igreja na metade da apresentação causaria indesejável incômodo - e não deu outra.

Mas veja o que o próprio Correio Braziliense relata no primeiro parágrafo da matéria:

Caruaru e Gravatá (PE) — O candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB), experimentou, pela primeira vez no Nordeste, o peso da desaprovação. O tucano, ao chegar atrasado a um concerto na igreja matriz de Gravatá, cidade do agreste pernambucano, foi recebido com vaias em repúdio à chegada estrepitosa da comitiva tucana. Segundos depois, o público percebeu quem eram os visitantes e transformou as vaias em aplausos.

O título (que é tudo que aparece no Google, por exemplo), fala em "vaias para Serra". A primeira frase, no "peso da desaprovação". Logo depois explicam que a desaprovação foi ao barulho da comitiva - e que as vaias se transformaram em aplausos quando viram quem era!

No menu das "últimas notícias em destaque", na lateral da página em que aparece essa "notícia" (acho incrível que nem ao menos se aproveite a ocasião para informar aos leitores que Gravatá, no agreste pernambucano, tem um Pólo Moveleiro e um festival de música clássica), há os títulos de notícias anteriores: "José Serra deve visitar ao menos uma vez por semana estados em que está atrás de Dilma nas pesquisas" - uma pegada negativa, sem dúvida. Logo abaixo tem: "Dilma faz no Rio primeiro comício de campanha ao lado de Lula". Pegada... neutra, para dizer o mínimo. Na foto que ilustra a matéria, Lula ergue o braço de Dilma, triunfante.

A matéria fala em "15 mil pessoas", segundo "estimativa da Polícia Militar". Outros veículos falam em "cinco mil pessoas". Não comenta as declarações de Sérgio Cabral antes do comício, de que esperava "entre cinqüenta e cem mil pessoas", publicada em vários lugares.

No comentário de um leitor em um site de notícias, alguém que termina dizendo "Dilma 13" reclama do próprio governador, reproduzindo um texto sem citar a fonte: "Num comício esvaziado no Centro do Rio, ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, e do governador Sérgio Cabral (PMDB), que tenta a reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou ontem para menos de mil pessoas - a PM calculou os presentes em mil, mas havia cerca de 500 - e foi mais aplaudido que os candidatos. Foi o primeiro comício das campanhas de Dilma e Cabral, mas, apesar da presença de militantes pagos e carros oficiais, a chuva atrapalhou e a maior parte do público foi embora antes dos discursos no palanque, na Cinelândia" E conclui: "Fora Cabral".

No mesmo site, um comentário reproduziu outra notícia sem citar a fonte: 

Servidores encaram ida a comício no Rio como serviço extra Nem a anunciada presença do presidente Lula animou os moradores da Baixada Fluminense a enfrentar a distância e a chuva para participar do comício da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, e do governador Sérgio Cabral (PMDB), que concorre à reeleição. Por volta das 15h, dois ônibus estacionaram na praça do Eucalipto, em Queimados (55 km do centro do Rio), para levar moradores gratuitamente para o comício. Eles estavam a cerca de 100 metros da prefeitura. Durante uma hora, não apareceu nenhum interessado. Aos poucos, chegaram 18 empregados da prefeitura. Com ar cansado, alguns torciam para que a viagem fosse cancelada e que os ônibus voltassem para a garagem. Mas o compromisso foi mantido. Um ônibus voltou para a garagem, por falta de passageiros; o outro seguiu viagem, semivazio. O prefeito de Queimados, Max Lemos (PMDB), tinha convocado moradores para o comício com carros de som. No dia anterior, ele afirmara que dez ônibus sairiam de lá em direção ao Rio.

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Ontem vi um vídeo mostrando uma kombi "a serviço da prefeitura do Rio", como dizia a placa colocada no painel, com material de campanha do PT. 

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Tentando descobrir (no Google) alguma fonte oficial da PM sobre a presença de público, foi engraçado encontrar essa matéria no clipping do Ministério do Planejamento - tiveram a honestidade de não retirá-la do ar. É de abril de 2010: Palanque para Dilma, Rio recebe o triplo de verba. 

Ainda no Correio Braziliense, a notícia sobre Marina saiu assim: Marina faz corpo a corpo em Goiânia e apresenta um estilo de fazer campanha recheado de frases de efeito. Tem uma cutucadinha também... E não tem foto. A notícia do Zé Maria é neutra, eu diria: Estatização do sistema bancário é uma das bandeiras de Zé Maria.  Nada de foto. A única dessas notícias com foto é mesmo a que mostra Dilma e Lula. 

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Corrigindo: acabo de ver outra matéria com foto: Socialismo Marxista é a solução para os problemas do país, defende Rui Costa Pimenta.

Acho que não há há menos possibilidade de discordar de que se trata de uma abordagem muito mais simpática à candidata do governo do que aos opositores - ou ao menos os opositores com mais visibilidade e expressão

Já me perguntaram várias vezes o que eu acho sobre a suposta neutralidade dos veículos de comunicação. Como neutralidade não existe, costumo dizer que prefiro que os editores assumam, no espaço adequado, suas escolhas. O espaço adequado é o espaço opinativo... No noticiário, deve-se procurar o equilíbrio, a honestidade, a justiça. Não é fácil porque, de novo, o olhar não é de um robô, é de uma pessoa, que sempre será influenciada de alguma maneira por suas próprias visões. Mas é preciso ao menos procurar.

Em alguns casos, veículos procuram ser "justos" - sendo injustos, alternadamente, com os dois lados, com matérias superficiais, mal apuradas ou mal redigidas. Aí cada lado aproveita a injustiça que lhe interessa para atacar o outro lado. #lástima