Czarina

“Mãe, são 5 horas, vou dormir na casa da avó, eu volto na quinta ou sexta, tá bom? A Helena passeou com o Dub, ele ficou todo molhado”.

#resumodeumacampanha

A filha deixa recado no celular e tchau. Ainda bem que as crianças de hoje em dia (e as minhas, desde sempre) se viram.

***
Quando eu soube que não seria mesmo candidata a nada – a governadora porque o partido decidiu não ter candidatura própria desta vez; a senadora porque o Tribunal Eleitoral enxerga um resto de verticalização que amarra coligação para o governo e coligação para o Senado; a deputada porque não quero ser deputada – pensei: “Vou ter mais sossego nesta eleição”. Sendo cabo eleitoral e não candidata, podia ter uma agenda cheia, mas incomparavelmente menor.

E assim foi –viajei pra cima e pra baixo, participei de alguns eventos do PPS (ou com o PPS), fiz algumas reuniões.

Comecei a participar das discussões presenciais do programa do Alckmin (tô querendo falar disso faz tempo, vou ver se escrevo logo mais) e do programa do Serra na internet (propostaserra.ning.com). Adoro essa parte; uma de minhas ocupações favoritas é ser “palpiteira mor”.

Até que...

***

“Oi, Soninha. Não sei se você lembra de mim, eu sou o Marcio Aith”.

Lembrava dele como assinatura em uma coluna impressa. Lembrava até de ter escrito para reclamar de algum texto dele que me desagradou (#ocupaçãofavorita n.2: protestadora, reclamante). Mas não o reconheceria se encontrasse na rua, embora tivéssemos uma conexão curiosa: “Sei quem você é, eu faço aniversário no mesmo dia que o seu irmão” (amigo do amigo). A gente já tinha estado algumas vezes na mesma festa de aniversário (eu era amiga da irmã da namorada do irmão).

Mas o assunto não era alguma reunião de ex-alunos da ECA e sim um convite de outro tipo. “Quero que você venha aqui trabalhar no site da campanha do Serra”.

***

Lá se foi, pra começar, o feriado de 9 de julho. Mesmo meio desempregada (quando se tem 3 ou 4 empregos, ficar com um só é esquisito), eu queria o feriado. Fica para o ano que vem.

Conversamos, “Claro que eu quero”. “O que exatamente eu vou fazer? Quando eu começo?”.

Resposta 2: pode começar já. Resposta 1: estamos descobrindo juntos.

***

Não sou nenhuma guru de internet, mas gosto dela e acho que ela gosta de mim também. Blogo, tuito, replaio, retuito... Não navego de jetski mas me viro bem com meu barquinho. Acho que sou boa para dizer o que funciona e o que não funciona, o que está agradável e interessante e o que parece correspondência de banco.

Se me perguntassem “o que você quer fazer na campanha do Serra”, muito provavelmente eu diria: “quero escrever”. Vou escrever bastante...

***

Minha função na estrutura é ser coordenadora do portal serra45.com.br. “Coordenadora de portal” talvez seja uma função que não existe com esse nome, mas não tem outro melhor. “Editora”? Eu tenho a palavra final sobre muitas coisas, mas não todas (sei lá se os editores de portais tem. Já tive muitos empregos relacionados de alguma forma à internet, mas minha participação nunca foi muito além de “eu escrevo e mando publicar”. A coisa mais elaborada que eu já fiz foi cuidar do Soninha.com.br durante o mandato de vereadora, mas vamos combinar que, embora ele estivesse cinco anos à frente de outros sites de parlamentares, nem se compara com o que vou fazer agora).

***

Do jeito como escrevem por aí, parece que sou a nova czarina. “Coordenadora da campanha do Serra na internet”. Hmm... Não. Coordenadora da face unificada (também chamada de “site oficial”) das muitas ações de internet da campanha.

A comunicação de uma campanha – ah, sim, o Marcio Aith é coordenador da comunicação, se é que é esse o nome – tem muitas faces. Divulgação da bio do candidato, suas realizações e suas propostas, debate sobre as propostas, compromissos assumidos, resposta às demandas da imprensa, cobertura da própria campanha (fotos, relatos, transcrições), acompanhamento do que sai na mídia, relacionamento com os eleitores (decididos e potenciais), sugestões para mobilização dos apoiadores, atualização da agenda, propaganda eleitoral... O portal do candidato tem de dar conta disso tudo. Aprofundar (como só a internet permite fazer) e facilitar o acesso, lembrando sempre que as pessoas podem ter graus muito diferentes de familiaridade (com a internet, com o candidato) e de interesse (superficial, profundo, crítico, apaixonado). Preciso estar bem abastecido de conteúdo visível, organizado, interligado.

Minha função é reger essa orquestra. Que já tinha alguns instrumentistas em turnê, outros tirando o instrumento do estojo. Alguns super afinados, outros esperando alguém mandar a partitura. Alguns instrumentos eu conheço bem e posso até tocar se for o caso; para outros posso solfejar e esperar que o instrumentista transforme aquilo em música.

***

“É verdade que você derrubou ........? “. Preencha a lacuna com vários nomes diferentes, alguns que eu estava ouvindo pela primeira vez. Não derrubei ninguém; não tinha ninguém nesse lugar em que estou agora. Não era nem uma cadeira vazia, era um lugar esperando uma cadeira.

A última pergunta desse tipo (quarta-feira, 18:30) foi: “É verdade que você derrubou o Sergio Caruso?”. Veio do Ig.

Estive com o Sergio de manhã, tivemos uma conversa ótima. Ele cuida de uma parte da comunicação com os internautas: envio de emails, acompanhamento das respostas, atualização das comunidades, oferta de materiais de campanha para baixar (papel de parede etc). Tudo isso tem vida própria e aparece, eu disse, à repórter, “como um azulejo na fachada da nossa casa”. Quem entrar no serra45.com.br poderá, se quiser, ir direto a esse azulejo: “Participe”.

“Então você está acima do Sergio?”. “Não, ele é uma das muitas partes do site que eu coordeno”. “Mas então como ele não está abaixo de você?”. “Ele não depende de mim, não se reporta a mim para ter permissão ou aprovação... Nós precisamos nos comunicar, eu posso pedir ou sugerir coisas a ele e ele pode fazer a mesma coisa comigo. Não sou chefe dele”.

“E a Talk?”. “A Talk faz a arquitetura, tem as ferramentas, faz planta baixa virar construção”. “Você manda na Talk?”. “Sim, a Talk faz o site, executa o que eu peço pra ser feito”.

“Mas você sabe o que estão dizendo, né? Que você chegou pra derrubar todo mundo, que o Gonzalez e o Marcio ficaram surpresos quando souberam que você ia chegar”. “Imagine, foi o Marcio que me convidou! Tô aqui com eles, quando eu sair da sala onde eu entrei pra atender o telefone vou estar do lado deles, venho aqui direto pra conversar, fazer reunião”.

Desliguei o telefone e comentei com meu colega da Talk o teor da entrevista. Ele riu: “Afe...”. Eu: “Vacilei, eu devia ter dito logo – você não está entendendo, eu vim para o lugar do Gonzalez. HUAHUAHUAHUA”.

***

Olha como saiu:

Eleições 19:01
Soninha confirma que passou a mandar na Talk
Já instalada em uma sala ao lado da coordenação de comunicação e marketing da campanha de José Serra, Soninha confirma que a empresa Talk Interactive passou a ser subordinada a ela. A ex-vereadora nega que tenha desbancado Sérgio Caruso:
- Na janela da minha casa, ele tem um azulejo.
Ah, agora, sim, ficou claro.

Eleições 19:02
Soninha derruba poderosos da campanha de Serra
Com a nomeação de Soninha Francine (PPS-SP) para comandar a campanha de José Serra na internet, o antigo ocupante da função, Sérgio Caruso, perdeu todos os poderes.
Ele se licenciou da presidência da ONN Networking – uma das principais empresas de tecnologia de São Paulo – para se dedicar exclusivamente à campanha tucana. Agora vê seu trabalho totalmente esvaziado.
Na prática, os poderes de Soninha – que tem acesso direto ao candidato José Serra – vão além da simples coordenação do site.
É a ela que passou a responder Moriael Paiva, da Talk Interactive, que implementou na internet a campanha do prefeito Gilberto Kassab (DEM), em 2008, e agora faz o mesmo para Serra.
Para completar, Caruso ainda sofreu um assalto nesta manhã. Levaram seu celular e notebook.

Autor: Thais Arbex
***
Como disse um amigo meu outro dia, depois que você dá sua primeira entrevista, nunca mais vê a mídia com os mesmos olhos. Porque podem ser coisas completamente diferentes – o que você disse e o que apareceu na televisão/jornal/revista/rádio/internet. (Ele participou de um debate na TV Brasil e ficou besta de ver como editaram o programa de tal modo que coisas muito importantes foram suprimidas, coisas pouco importantes foram mantidas e o sentido final foi totalmente deturpado. “Nunca mais”, foi a conclusão dele depois de assistir).

***
E isso é só o começo...
Já estou cansada, já perdi várias coisas por causa do trabalho novo (além do feriado, o primeiro tempo ao vivo de Uruguai X Alemanha, a Festa Junina do Pelezão, a despedida do filho de um amigo no Karaokê da Mama, o lançamento do enredo da Unidos do Peruche no Olido, algumas refeições e algumas horas de sono). Nem sempre estou alegre, às vezes fico possessa, às vezes desanimada, mas de modo geral estou feliz.

[Escrito ontem à noite, no saguão do aeroporto de Congonhas, de onde eu deveria ter decolado às 20:35. O avião saiu às 22:45 "por causa do mau tempo no Rio", segundo a companhia aérea. Meu 3G não funcionou e a sala VIP da AMEX estava sem conexão.Por sorte o celular já tinha voltado a funcionar - na terça-feira ele "morreu" porque a bateria acabou, o carregador quebrou e não havia meio de encontrar outro carregador compatível. #belahorapraficarincomunicável]