segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O "I" do BRIC

Já que estou desencavando rascunhos não publicados, vou publicar mais um. Comecei a escrever esse texto assim que cheguei a Istambul - na verdade, a tradução de um boletim publicado pelo Urban Age sobre quatro cidades da India e algumas comparações com Londres, Nova Iorque, Berlim e Joanesburgo.

Urban Age é "uma investigação mundial sobre o futuro das cidades". Como funciona? Foi concebida a como "uma sequência de seis anos de conferências internacionais promovidas em cidades na Africa, Asia, nas Américas e na Europa entre 2005 e 2010. O Urban Age vai construir um suporte para uma rede crescente de indivíduos que trocam informações, experiências e dados, enfatizando as relações entre investimentos, planejamento e construção, e os processos econômicos, ambientais, sociais, políticos e culturais que moldam a vida na cidade".

Não tinha publicado ainda porque queria traduzir mais um pouco, mas acho melhor compartilhar logo. Como é comum em casos como esse, o texto nos parece dolorosamente familiar. O que se diz sobre a Índia poderia tranquilamente ser usado em uma publicação sobre o Brasil, com mínimas alterações. A foto da capa do Boletim poderia ter sido feita em alguma cidade nossa.

Quero escrever muito mais sobre o Urban Age - a Conferência de que participei em Istambul foi uma das coisas mais legais que fiz nos últimos tempos. Como nunca terei tempo para fazer os imensos relatos e reflexões como gostaria, acho que vou gravar em vídeo, como se fosse uma entrevista. Já queria ter feito isso, mas também não deu tempo. Quem sabe hoje...

Por enquanto, vai aí o tal texto sobre a India. Tem mais no site, mas em inglês: http://www.urban-age.net/publications/reports/india/



"Em 2007, o Urban Age, uma iniciativa conjunta da London School of Economics and Political Science e da Deutsche Bank’s Alfred Herrhausen Society, iniciou um programa de pesquisa em quatro cidades da India (Mumbai, Calcutá, Delhi e Bangalore), seguido por uma conferência em Mumbai, para entender como essas cidades estão lidando com os desafios do crescimento e comparar essa resposta com as que são encontradas em outras cidades pelo mundo.

As quatro cidades estudadas tem uma população de quase 35 milhões de pessoas (78 se incluirmos as regiões metropolitanas) e uma economia que movimenta cerca de $360 bilhões no escopo de suas aglomerações.

O crescimento dessas cidades foi explosivo nas últimas décadas do século XX, largamente alimentado pelas pessoas que se mudaram do campo para trabalhar nas cidades que se industrializavam rapidamente. Esse crescimento diminuiu nos últimos anos, mas criou forte pressão sobre a infraestrutura. Ruas que não foram projetadas para carros estão sufocadas pelo tráfego, com conseqüências que incluem o aumento da poluição, queda da eficiência econômica e uma contribuição para o desafio global das mudanças climáticas. Sistemas de drenagem e saneamento também estão sobrecarregados, levando a índices consideráveis de fatalidade decorrentes de enchentes e doenças (mais ainda pelos padrões climáticos alterados como resultado do aquecimento global).

Depois de décadas de mudanças velozes, essas cidades ocupam hoje o ponto de culminância entre a economia globalizada e os desajustes que surgem em seguida: indústrias de ponta na área da Tecnologia da Informação convivem com baixas taxas de alfabetização, novos condomínios dão vista para favelas. As densidades variam, mas tendem a ser mais altas nas áreas mais pobres: na Grande Mumbai, mais de 50% da população vive em favelas que ocupam 8% do solo da cidade.

(...)

Cada uma das cidades estudadas pelo Urban Age está buscando empregar o uso do solo e o planejamento de transporte para assegurar uma forma mais integrada e eficiente de desenvolvimento urbano, mas toas enfrentam desafios sistêmicos e comportamentais:

- O crescimento urbano acelerado atropelou o processo de planejamento, resultando em planos reativos e, frequentemente, ultrapassados;
- A execução é fraca e a área do planejamento é vista como de baixa capacidade, levando à perda da credibilidade;
- Uso do solo e planejamento do transporte são conduzidos como atividades separadas, levando a novos empreendimentos sem transporte, e infraestrutura de transporte que falha na expansão das visões de longo prazo da cidade;
- A responsabilidade pelo uso do solo e o planejamento de transportes é fragmentado entre diferentes órgãos e níveis de governo, apesar de recentes mudanças constitucionais voltadas para a racionalização das estruturas locais de governo.

(...)

Aproveitando o dinamismo do desenvolvimento urbano na India, os líderes das cidades podem fazer a diferença. Com reforma organizacional e a criação de novas estruturas governamentais que reconheçam o papel das cidades, eles podem colocar suas cidades na linha de frente do crescimento sustentável".

9 comentários:

  1. Bom diaaaaaaaaa Soninha, você tem (espero) que compartilhar mais porque suas atividades (e seus olhos) no legislativo e no executivo acrescentam perspectivas que a gente não tem. É legal saber das dificuldades e reflexões de “bastidores”, ainda que pareçam banais, e ainda que não tenhamos nada a acrescentar, pois só o fato de ter outra visão já ajuda, uma vez que o panorama de cidadão tudo mundo tem. Só não sei bem como duplicar seu tempo...huahuauhauhauh

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  2. Sugestão: acabei de ver o tópico de assuntos do SAC (inclusive sobre animais...rs). Seria interessante saber quais as reclamações recorrentes em cada tópico, a lei que rege o assunto, as dificuldades e os caminhos normalmente sugeridos. Tem assunto ali pra mais de ano...huahuauhahuuha.

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  3. gostaria de ler uma análise parecida com a do apagão, mas em relação ao rodoanel.
    os nomes dos envolvidos, seus partidos, suas declarações, as relações com a cratera do metro, o suposto uso de materiais impróprios praquela obra, o barateamento da obra, os custos pra população..
    o que será que a urban age falaria sobre o rodoanel?
    aguardo anciosamente essa análise.

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  4. Soninha, falando em rascunho (fiz um hoje, e vou mandar por aqui, se me permite), e já que todo mundo descobriu sua genialidade (e quer sua análise sobre tudo), gostaria de aproveitar sua experiência no ramo desportivo e perguntar: você acha que a melhor forma de esvaziar o STJD (verdadeira monstruosidade, a começar pela nomenclatura com pretensões solenes...huahuahuauh. Ai, ai) é:
    1) fazendo um lobby no Congresso? (como fizeram os bancos pra derrubar o limite constitucional de juros, que era de 12% ao ano, eliminado um artigo). Se sim, basta derrubar os §§ 1º e § 2º do Art. 217. Assim não é necessário desenvolver teses.
    2) desenvolvendo teses jurídicas polêmicas, como a tese de inconstitucionalidade de norma constitucional? Se sim, vide conclusão da pergunta 3.
    3) desenvolvendo teses jurídicas menos polêmicas (isso não deu certo pra aplicar o artigo que limitava os juros, mas talvez funcione pra não aplicar os tais parágrafos do artigo 217 da CF), como uma ligada a choque de princípios, e aos objetivos da república (Art. 3º, CF) – tornando balizada a dita autonomia das entidades desportivas (Art. 217, I, CF), uma vez que o processo administrativo na “Justiça” desportiva não obedece ao devido processo legal (por uma série de razões), o que acaba lesando o Estado (que aporta dinheiro no esporte – Art. 217, II, CF ); lesando o patrimônio dos clubes, e consequentemente sua propriedade, considerada inviolável (Art. 5º , caput, CF); e lesando a sociedade, que tem interesse no lazer como forma de promoção social (Art.217, §3º); pra não falar de sua proximidade com tribunais de exceção e sua “pequena” afronta à inafastabilidade da jurisdição (ao menos temporal, mas justiça também é – ou principalmente é- tempo...rs)? Se sim, fala pro Juca Kfouri procurar bons constitucionalistas, já que a CBF (e o STJD) se importa(m) mais em divulgar decisões contrárias ao jornalista em seu (s) site (s) do que em fornecer links pra leis desportivas ou explicações do funcionamento do esporte no país (perdi meu tempo lá neste fim de tarde).
    4) NDA?

    Ps.: Desculpe o texto longo.

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  5. Mais uma...

    O juiz Pedro Sakamoto, da 13ª Vara Cível de Cuiabá, proibiu em decisão liminar que dois blogueiros emitam "opiniões pessoais" sobre denúncias movidas pelo Ministério Público Estadual contra José Riva (PP), presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.

    O juiz determinou ainda a exclusão de postagens já publicadas consideradas "ofensivas". Caso descumpram a decisão, os jornalistas Enock Cavalcanti e Adriana Vandoni estão sujeitos a multa diária de R$ 1.000 e "posterior ordem de exclusão da notícia ou da opinião".

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  6. Cada vez mais sei que devo votar em você.

    Se precisar de ajuda no bairro do Brooklin, add ae.

    @rucianonunes
    lucianonunes.net
    luciano nunes no facebook

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