Calor da moléstia em São Paulo. Comércio ilegal de cãezinhos correndo solto da Praça Apecatu.
Os bichinhos são mantidos em caixas de papelão o dia todo, sem o menor cuidado. Claro que eles não tem documentos, certificado de vacina, vermifugação, nada disso. Não tem nem água e comida durante o dia... Morrem de calor, enquanto a freguesia não se decide por um deles.
Vai saber o grau de responsabilidade dos compradores. Se não se importam com as condições em que se encontram ali no canteiro central da avenida, será que estarão dispostos a agüentar todas as dificuldades de ter um animal de estimação por treze anos ou mais?
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“Quando eu voltar, tiro uma foto deles”. Já reprimimos esse comércio por dois meses no lado da praça que fica na Subprefeitura da Lapa. Deixamos uma viatura da fiscalização estacionada ali, com nossos agentes, durante oito ou mais fins-de-semana seguidos. Depois de um tempo sumidos, se instalaram no lado da Sub de Pinheiros.
Na semana passada, fizemos uma operação de repressão a esse comércio, com GCM, Polícia Militar, apreensão e um veterinário voluntário, que pudesse constatar os maus tratos aos bichinhos.
Os vendedores reagiram violentamente. Disseram que o veterinário é de uma ONG que os “persegue” e não aceitariam seu laudo. O veterinário é reconhecido como tal pelo CRMV... Em todo caso, se quisessem contestar a ação na Justiça, ok, não há o que opor. É seu direito
No fim, acabaram todos na delegacia, autuados por sua atividade que, além de irregular, é ilegal. Mas fizeram um escândalo. Ficaram eles mesmos como depositários dos bichos (não podemos metê-los em um saco de ráfia e levar para o depósito da apreensão...) e foram multados.
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Na volta (da inspeção veicular), passei por ali e, como tinha planejado, tirei uma foto (para adicionar aos processos contra eles – e aos planejamento das novas ações. Brinquei com a Rachel – “Fica com o telefone na mão, preparada para ligar para 190”.
Quase chegamos a esse ponto.
Parei o carro e tirei esta foto:
No mesmo instante, ouvi uma pancada no carro. Não sei se foi um tapa ou se arremessaram algo. Tirei mais uma foto dos carros estacionados, mas ficou péssima por causa da distância.
Apareceu um sujeito com um celular tirando fotos do meu carro. Veio na minha direção e começou a berrar: “O que você está fazendo? Não sabe que não pode tirar foto do carro dos outros?”
“Sei que não pode fazer o que vocês estão fazendo. É comércio irregular”.
“Ah, é? Pois eu sou polícia também!”, gritou, apoplético. Olhos injetados, aparência lastimável. Se for policial, deve estar afastado ou de licença – não se chega àquele ponto depois de um ou dois dias de folga. “Você vai ver”.
“Se você é policial, pior ainda”.
“Vou fotografar seu carro”.
“ E eu vou fotografar você, posso?”
Aí ele veio pra cima de mim (que não cheguei a sair do carro): “Se me fotografar eu quebro a sua câmera”
“Eu vou fazer um B.O. de ameça”.
“Faz! Faz!”
Outras pessoas chegaram perto. Uma mulher começou a gritar: “O que você quer? Sai aqui fora! Vem aqui, vou quebrar tua cara!” E começaram a bater no carro, enquanto ela já punha a mão pela janela.
Cheguei a pensar que a coisa ia mesmo ficar feia – o fato de ser em plena luz do dia, a poucos metros de uma delegacia e de um posto da PM, de haver várias testemunhas, não os impediu de gritar, cercar o carro, bater na lataria. Eles quebrariam a câmera, partes do carro, quem sabe a minha cara. Estavam absolutamente transtornados. Como disse um dos presentes à operação da semana passada, “o pessoal ali é barra pesada”.
“Não, eu vou fazer B.O.”
Na delegacia, me disseram que tenho seis meses para fazer o registro da ocorrência e que não precisa ser ali. Mas se além do registro eu quiser levar a ação adiante, precisarei representar contra as pessoas que me ameaçaram no distrito correto.
O que eu quero é reunir elementos para que eles parem de fazer o que estão fazendo e respondam por todos os seus malfeitos. Vou fazer o que for preciso.
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Na volta da delegacia, passei por uma das entradas de estacionamento do Parque Vila-Lobos. O rapaz alto e magro, que aparece na foto, estava saindo de lá – tinha acabado de estacionar um dos carros deles ali.
Quer dizer, eles praticam comércio ilegal, maus tratos, sujam o canteiro central, ameaçam... e param o carro no estacionamento do parque, tomando a vaga de quem só queria passear com os filhos ou netos. Que beleza.
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A inspeção veicular foi tão breve que mal deu tempo de ler uma carta enquanto eu esperava. Fiquei feliz com a organização – nem precisamos apresentar o número do protocolo de agendamento; o moço na primeira cabine digitou o número da placa e já localizou. A orientação é cortês e correta; tudo bem planejado e bem executado.
Comecei a tirar fotos para mostrar como as coisas funcionam bem (ai, como é bom quando funcionam bem... Ali na porta (Engenheiro Billings) a prefeitura tem há meses um problema seríssimo para resolver (solapamento de uma pista) e até agora nada...). Mas logo um rapaz apareceu para dizer que “não pode. Só com autorização”.
“Quem pode autorizar?”
“O Supervisor. A sra quer que chame?”
“Quero”.
O Supervisor veio e disse que só com solicitação prévia à direção da empresa. Ai, que saco, eu queria elogiar o serviço, mas tudo bem, eles foram educados, não quis brigar. Mas também não ia desistir. “E você tem um contato da pessoa para quem preciso pedir autorização?”. “Tem no site, no mesmo lugar em que a sra. agendou a inspeção. Aí marca com a assessoria de imprensa, que vai agendar uma data durante a semana para a senhora vir aqui e dar todas as informações necessárias”.
Já sei o que vou fazer: vou passar as fotos que tirei antes de ser advertida (foram 3 ou 4) por email para a assessoria de imprensa e ver se ela me autoriza a publicar.
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Acho que o meu horóscopo hj desaconselhava tirar fotos.
Olá, Soninha. Meu nome é Paulo Leonardo. Sou jornalista também, de Belo Horizonte.
ResponderExcluirImpressionante seu relato deste sábado. Eu sei que é perigoso mexer com esse pessoal, mas acho que você não vai poder deixar isso barato. Eles têm que ser combatidos e punidos!
Pena que eu não moro aí em Sampa, senão votava em você! :)
Também comentei no seu Twitter.
Um abraço.
Putz! Passei por lá hoje cedo e lembrei de você! Sei que tá brigando com aquele povo. Em outro lugar perto daqui, mas Sub Butantã, tem outro canto desses... desesperador ver os bichinhos!!
ResponderExcluirAi... ando tão sem ação!
Beijo
Santa Maria!!! Ou estou muito enferrujado (o que é bem provável), ou eu não entendi nada (o que também não é difícil), ou tá todo mundo muito louco (inclusive você, se arriscando dessa forma) . Maus-tratos é crime (Art. 32, Lei 9605/98), a ação penal é pública INCONDICIONADA (Art . 26, idem), os animais devem ser entregues a entidades competentes (Art. 25, idem). Ou seja, se seu objetivo é evitar que isso volte a acontecer (os maus-tratos), faça um relato online para o MPF e mande as fotos (fé na lei...), já que o delegado encontrou soluções estranhíssimas e parece não querer se desincumbir do seu ofício investigativo. De qualquer forma, seja de quem for a “competência”, o que não pode é você ficar se expondo e sofrendo ameaça pra colher elementos de prova. Isso é ridículo!!!!Enfim...
ResponderExcluirSoninha,
ResponderExcluircomo o Paulo Leonardo disse, impressionante todo o seu relato.
Fico pensando como eles iriam agir se houvessem vários fotógrafos (amadores ou profissionais) e/ou alguém com credencial de jornalista perguntando ali sobre o que eles fazem. E ouvindo o que vc escreveu, também me dá vontade de ir lá tb, parar o meu carro e ter provas para mostrar que o que é feito lá é ilegal e desrespeitoso.
É difícil lidar com essas coisas. Estudava perto dessa região, e esse comércio não era tão freqüente como hoje. Acho que vc deve fazer o que for preciso. A ajuda nesse caso também é importante; embora tenha dito que faria o mesmo que vc, acho que resolver tudo "sozinho" não seria tão saudável, principalmente considerando o nível das pessoas que estão por lá...
[]'s!! Força!!
Estava aqui pensando com meus botões e agora ficou mais fácil de entender a discussão a respeito dos poderes investigatórios do MP (e a inércia suspeita da polícia), e mais difícil de entender a demora do STF...rs.
ResponderExcluirE sobre o Rouboanel Soninha, vai falar ou não, 15 anos de lenga lenga , pior do que isso só o metrô, 30 anos esperando ampliação.
ResponderExcluiro estado mínimo nunca deu certo no Brasil.
Mudando um pouco o rumo da prosa, estive pensando numa forma de regularizar o tal comércio (acho que deve ter gente querendo fazer as coisas de maneira correta) e acabei achando a Lei Municipal 14.483/07. Pois bem, ao contrário do comércio ambulante de roupas e tecidos, acho quase impossível que os comerciantes ilegais consigam manter o bem-estar dos bichanos, como prevê o mais importante artigo da Lei (Art. 10 § 2º Bem-estar animal é a garantia de atendimento às necessidades físicas, mentais e naturais dos animais, devendo estar livres de fome, sede e de nutrição deficiente; desconforto; dor, lesões e doenças; medo e estresse; e, por fim, livres para expressar seu comportamento natural ou normal). Assim sendo, não se tratando de mera formalidade fiscal ou idiotice do gênero, acho que a política repressiva nesse caso não pode ser abandonada, infelizmente. Em conclusão, tendo em vista que a Lei Ambiental também autoriza a apreensão em caso de descumprimento de posturas administrativas, não vejo como as Subprefeituras (e não você, pessoalmente...rs!!!) se furtem da tarefa.
ResponderExcluirVictor,
ResponderExcluir1) Que "Estado mínimo"??
2) O metrô não só demorou demais para ser expandido como as primeiras linhas foram feitas sem a menor inteligência do ponto de vista do planejamento urbano. Tem erro de tudo qto é jeito: desapropriações em excesso, distância dos pontos de interesse, prioridades equivocadas, redundância, falta de conexões perimetrais, especulação imobiliária, pouca integração com o automóvel, obras invasivas demais, etc. Na última gestão, felizmente, o transporte sobre trilhos na Região Metropolitana voltou a receber a atenção que merece - há séculos a CPTM, por exemplo, não recebe tantos recursos. E corrigir agora o que foi mal feito e largado é muito mais difícil - dotas as estações de acessibilidade, por exemplo, é complicado, mas está sendo feito. Em todo caso, os primeiros erros foram do Estado; os atuais avanços também são do Estado.
2) O Rodoanel também demorou muito - em parte, porque havia exigências relacionadas ao seu impacto ambiental que o governo resistiu a aceitar (a Vejinha chegou a dizer que "esses ambientalistas atravancam o progresso). A atual gestão resolveu seguir tudo à risca e tocar a obra. Existem veterinários e biólogos, por exemplo, acompanhando cada trecho da obra. De novo, é uma obra do Estado - não é à toa que vc está me cobrando isso, não é? Mas o governo não tem empreiteiras, ele contrata empreiteiras. Por isso vc está confundindo isso com "Estado Mínimo"? O fato é que houve algum erro GRAVE na obra desse trecho - só falta alguém vir dizer que foi um temporal que derrubou, mas até agora não vi isso.
Pra encerrar: eu sou a favor de um Estado forte; não acredito que, quanto mais liberdade você der ao mercado, melhor será para a sociedade como um todo - mercado quer lucro rápido, vencer a concorrência e premiar os mais fortes ou mais sabidos, e essa não é a melhor fórmula para um mundo melhor pra todo mundo. Mas forte é diferente de inchado, gordo pesado. Tem gente que defende o Estado Mínimo, o que não é o meu caso; tem gente que critica o peso e os defeitos da máquina estatal, aí você pode me incluir nisso. Até porque, além de usuária dos serviços, estou dentro da máquina e vejo como ele pode ser ruim.
Soninha, acho um absurdo a venda de cães na porta do Villa-Lobos. Apoio seu empenho!
ResponderExcluirAPROVEITANDO: dentro do parque temos um problema não resolvido - a área destinada aos cães está com a cerca furada em vários pontos. Cachorros menores como minha Westie Terrier acabam escapando - já tomei até bronca do guarda! Isso deveria ser arrumado, antes que aconteça um acidente.
abs!!!
Hugo T. Mourão
COMPLEMENTANDO meu comentário anterior: Já reclamei com a administração do Parque Villa-Lobos que respondeu rapidamente (diretor Roberto Rosa), mas ainda não foi resolvido...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSoninha
ResponderExcluirMuito bom ler isso, passei dezembro e parte de janeiro passados naquele local, e era dificil ter um dia em que não fossemos ameaçados(quatro gatos pingados contra uma corja!).
mas conte comigo para as proximas, inclusive acredito que o que precisa ser feito é persistir no caminho de cobrança das multas previstas na lei do Tripoli, (partindo sempre do principio que diz que seu orgão sensivel é o bolso).
QUanto às apreensões dos filhotes, tem um veterinario da ancivepa que sugeriu parceria com clinicas veterinarias que já fazem castrações gratuita coordenadas com ccz que tenham hoteis, para hospedar os animais apreendidos, castra-los na hora certa e encaminha-los para adoção.
abraço
Denise Grecco VAlente
esqueci
ResponderExcluirno dia 25 de janeiro, quando o Aurelio Miguel nos ajudou a levar alguns vendedores de filhotes para a delegacia, chovia muito e misteriosamente o limpador dianteiro do parabrisa do meu carro foi quebrado
o pobre do chefe de gabinete do Aurelio miguel tomou toda aquela chuva tentando conserta-lo.. gente fina messsssssss.
Denise
Já falei isso aqui e em outros lugares: essa gente é uma máfia. Além de serem autuados por estarem burlando Lei Municipal 14.483/2007,bem como pelos maus tratos aos animais, deveriam ser inclusos também por formação de quadrilha. Enquanto isso não acontecer, fica esse pega e solta e eles continuam com esse comércio vergonhoso.
ResponderExcluirSe você soubesse em que condições eles conseguem esses filhotes... a coisa é terrivel!! Quando os cães e cadelas não servem mais para procriar, eles soltam nas ruas ou deixam morrer
em algum canto do "canil", sem socorro, água e comida suficiente para a sobrevivência. Eu penso que a criação e comercialização de animais deveria ser proibida por uns 20 anos, até que todos os abandonados fossem adotados e que houvesse como controlar essa mafia.
Parabéns por se envolver nessa demanda também como cidadã. Mas, tome sempre cuidado e fique atenta daqui para frente. Essas pessoas são perigosas e não tem nada a perder.