terça-feira, 2 de março de 2010

Uma entre muitas histórias tristes

Desci da moto, uma mulher se aproximou. Olhos cheios de lágrimas, pediu para falar um minuto comigo.

Parece flashback; a cena já aconteceu muitas vezes desde que cheguei. Imaginei o que era e acertei - ela quer trabalhar. O caso dela é dos mais complicados.

Ela tem uma barraca de yakisoba e trabalha na Barra Funda, perto da Uninove. Não tem licença e, por isso, está sujeita à ação da fiscalização (apreensão do material e multa). Não veio pedir misericórdia, veio pedir ajuda.

A filha foi atropelada aos 18 anos, quando já estava na faculdade, e ficou tetraplégica. Mais do que isso, tem problemas de saúde e precisa muito do auxílio da mãe. Ela (a mãe) trabalhava em um laboratório de análises clínicas e tinha uma vida confortável, mas começou a faltar ou se atrasar demais no trabalho para acudir a filha, que fica em casa com a avó. Resultado: perdeu o emprego. Com o tempo, perdeu o apartamento que morava.

Hoje se vira com o yakisoba. Já teve um carrinho e vendia em embalagens de isopor no centro da cidade, mas sempre perdia a mercadoria para a fiscalização. Com a barraca, fatura R$80,00/dia (bruto). Ela trabalha apenas algumas horas, no fim da tarde e começo da noite.

A filha recebe uma aposentadoria de R$400 e alguns dos remédios de uso constante de que precisa (são entregues em casa por um serviço da Secretaria Estadual de Saúde). Outros precisam ser comprados, bem como as fraldas (sonho com um serviço de fornecimento gratuito de fraldas geriátricas). A mãe dela não recebe nenhum benefício; o pai tem uma aposentadoria (não perguntei de quanto). O marido morreu anos atrás em um acidente e também não recebeu benefício algum (pelo que entendi, porque era estrangeiro e talvez não tivesse sua situação regularizada, não sei bem).

"Eu tinha uma vida normal, não quero virar mendiga", disse a moça, cansada de tanto chorar. Não quer correr da fiscalização, não quer ganhar muito dinheiro, só quer conseguir trabalhar. "A moça que trabalha lá perto com cachorro-quente tira R$1.500 por dia. Eu não quero isso, eu só quero o suficiente para cuidar da minha filha". Uma amiga tem duas kombis e ofereceu uma para ela trabalhar, mas ela tem medo de a kombi da amiga ser apreendida.

Expliquei que não posso deixá-la montar sua barraca na rua se ela não tem Permissão oficial. Também não posso conceder uma Permissão, porque não tenho essa atribuição. Seria como rodar dinheiro em casa. Posso pedir (e peço) para a fiscalização ser cuidadosa e respeitosa; eles devem determinar a interrupção das atividades não permitidas e que o ambulante recolha seus pertences, apreendendo as mercadorias e até mesmo os pertences (carro, cadeira, geladeira etc.) se houver resistência ou reincidência (o que mais tem...). Mas é sempre sujeito a turbulências, há muitas provocações e predisposições beligerantes, e eu não posso pedir "mexam com todo mundo que está irregular menos com ela".

"Não tem nenhuma porta de garagem para alugar ali perto, algo assim? Aí você monta seu negócio direitinho, sem irregularidade". Ela fez que não com a cabeça.

Sugeri que procure a Assistência Social para verificar se existe algum outro benefício a que ela faça jus; o CAT para obter auxílio na renegociação de suas dívidas ("eu tenho nome sujo na praça, devo dinheiro para o banco") e, quem sabe, o encaminhamento para um emprego (embora ela ache que não dura muito tempo em nenhum, em função das emergências todas com a filha), o Banco do Povo para se inscrever no MEI e, quem sabe, obter crédito que permita começar um pequeno negócio que não seja na calçada. Deixei meu email com ela para que me conte como as coisas vão indo, se tem alguma novidade, se está batendo um desespero.

Mas é muito f* não ter dinheiro, não ter trabalho, não ver por onde ir para garantir uma vida sem sufoco, com um mínimo de estabilidade. O que você faria no meu lugar? O que você faria no lugar dela?

13 comentários:

  1. Muito provavelmente ela foi uma das eleitoras do Lula. Então eu diria a ela "pede para o Lula te ajudar". Bolsa-família, fome-zero...

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  2. Será que ela não conseguiria um trabalho de zeladora em algum prédio? Assim teria aluguel de graça e trabalharia perto da filha...

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  3. Dificil essa situação..
    é facil jugar, o dificil é ajudar isso sim.
    Acho que os conselhos q vc deu sobre seus direitos e alguns beneficios ajudaria muito.
    A filha precisa de cuidados, é dificil ter q trabalhar fora e ainda dar conta de trabalhar fora.
    Acho q ela devia montar seu próprio negócio, em casa mesmo.. vendendo por encomenda, entrega ou algo do tipo

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  4. Boa Tarde Soninha tudo bem?
    Me chamo Andréia, sou estudante de Jornalismo do 4° ano e estamos iniciando uma nova revista no mercado com objetivo de despertar ao jovem o interesse pela politica.
    Queremos transmitir noticias importantes economicas e eleitorais com uma linguagem mais apropriada, e pensamos em você como a nossa entrevistada, pela sua tragetória de vida e por tantas mobilizações. Acreditamos que você conseguirá nos ajudar a mobilizar o jovem de hoje a enchergar a importancia do voto (principalmente nesse ano de eleição)
    Segue meus contatos : andreiapn@yahoo.com.br/andreiastarsp@hotmail.com
    Gostaria que me informasse seu e-mail para conversarmos melhor.

    Obrigada pela atenção e boa tarde.

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  5. Ela está trabalhando no lugar errado! Deve vir para as vizinhanças do Terminal da Lapa, Mercado da Lapa ou então, bem nas entradas dos túneis de acesso da Lapa de Baixo para a rua 12 de outubro e Mercado/Terminal. Por ali, não existe fiscalização, o ambulante pode montar sua barraca onde quiser que não será incomodado. E tem mais : se quiser deixar a bancada de trabalho no local, tudo bem! Ninguém mexe e no dia seguinte é só colocar o material e começara as vendas do dia.

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  6. A questão é que ela deveria trabalhar em casa, nesse caso. Fazendo comida para fora, qualquer tipo de negócio que lhe desse liberdade de tempo e possibilidade de regularização.
    Por mais dura que seja a situação dela, sempre haverá alguém em situação pior que poderá pedir o mesmo tipo de "liberdade" e "quebra-galho". Além do mais, vender yakisoba na rua é ultra-perigoso e pode contaminar várias pessoas: não se pode vender fritura na rua!

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  7. Eu pediria que ela conversasse com Deus , mantivesse a FÉ e a esperança! Deus é poderosos para reverter qualquer situação e estará com certeza cuidando dela e a sustentando! Fome eu tenho certeza que ela e sua filha não vão passar ...

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  8. Sera que num tem mais um cabide em seu escritório...Não só pra pendurar o paletó.
    O sistema ta quebrado, a a democracia capenga
    com os Arrudas e Sarneys...e outros.

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  9. Soninha,

    Ainda sou um socialista romântico. Mas não só por isso, esse teu texto acaba mostrando-me ao menos duas faces da subprefeita da Lapa: capacidade administrativa e sensibilidade poética.

    Dessas duas elogiáveis qualidades reunidas é que o mundo precisa!

    Meu aplauso.

    www.Mude.blogspot.com

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  10. Bem Soninha, no seu lugar eu faria o que voce já faz: frequentaria um templo budista para acalmar o coração que sempre será atribulado pela triste realidade de nossa cidade. No lugar dela procuraria trabalhar em casa, faria uma parceria com alguém e procuraria tentar descobrir como inverter a polaridade dessa vida tão dificil.

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  11. Essa condição é típica de muitas outras pessoas que realmente querem trabalhar e precisam.
    Hoje temos bolsa disso, daquilo , mas infelizmente, não tem emprego ou se quer uma condição e oportunidade para quem quer e precisa trabalhar decentemente.
    É lamentável ver uma pessoa dessa, com garra, coragem e audácia não ter para onde correr.

    Acho que agora depende dela, somente.
    Espero que fique tudo bem.

    Abçs,

    Viviane C.

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  12. Você poderia pedir para o Roberto Freire ajudar a mulher. Ele ganha R$ 12 mil por mês como conselheiro de duas autarquias do governo do José Serra, apesar de morar em Brasília.

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  13. sabe o que e engraçado todo mundo da uma opiniao mas ninguem faz nada pra ajudala gente vamos por a mao na massa se dessemos as fraudas todo mes e mais algumas coisas quanto nao ajudariamos sempre dizemos assim a se eu fosse rico ajudaria tanta gente acho q isso enoja deus vamos ajudar nao sendo ricos sou pobre mas se quiser fazer uma campanha pra ajudar conta comigo orkut paulo jose alves

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