segunda-feira, 5 de julho de 2010

Já ficou velho

(Este post foi escrito - offline - há dez dias, mas parece que faz um século. Azar, vou publicar assim mesmo)


Revi o jogo da Itália hoje de manhã, ou melhor, revi os últimos 15 minutos. Fiquei fascinada como se não tivesse visto antes. Quem não gosta e não costuma ver futebol vai ficar com idéia errada do esporte – ele não costuma ser emocionante assim não :o).

Gostei do Quagliarella. Me lembrou o Zé Roberto em 2006 – deu um gás, jogou bem, sofreu até o fim, chorou...

Gostei de ver também a ansiedade do Buffon, do Gattuso... Torciam à beira do campo como se fossem garotos entusiasmados na arquibancada, não astros super-experientes com um título mundial no currículo.

Como eu sou a campeã mundial da pena, fiquei com dó do Lippi. A cara de triste dele durante todo o jogo, até mesmo quando a Itália fazia um gol (e ela fez dois! Incrível!), me impressionou. Não era cara de raiva, de irritação, de desgosto – era cara de triste.

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Como se vê, disciplina é importante, espírito de luta também, mas não resolvem. E não foi só isso que faltou em 2006.

Lembro de ir a um treino da seleção logo no começo da campanha. Era a primeira vez que eu tinha essa oportunidade. Achei sem graça que só. Perguntei para o Tostão, que estava do meu lado: “É sempre assim?”. “Não, não é. O Felipão treinava bem. Esse é um treino fraco, mesmo”.

Lembro que o Parreira fazia muito treino tático e coletivo com campo reduzido. É uma das estratégias de treinamento, para acostumar os jogadores a encontrar espaço em um jogo apertado. Mas o tempo todo??
Pior que isso – tanto quanto possível, um coletivo é uma simulação do jogo. Mas os times eram todos misturados; jogava um zagueiro titular com um reserva, idem para a dupla de atacantes... Pra que?

O Parreira até poderia interromper um lance, mostrar por que o posicionamento não estava certo, sugerir uma mudança, pedir determinada jogada. Mas ele não fazia isso não.

Já no começo da preparação na África do Sul, o Tostão escreveu que era bobagem interromper os ótimos treinos que Dunga vinha fazendo para jogar contra Zimbabue e Tanzânia. Mas isso também não resolve tudo... Aí tem a escalação, a estratégia do jogo, a inspiração, o talento individual, o estado psicológico, a pontaria, a sorte.

E não é que tem dias em que nenhum desses aparece?

(Lembrete: isto foi escrito depois de Brasil X Portugal)

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Teve gente que chamou o trabalho de Parreira na África do Sul de fiasco – por ser a primeira vez que a seleção dona da casa não passa da primeira fase. Acho que o trabalho dele foi mais-ou-menos, mas classificar a África seria uma proeza – e o contrário de proeza não pode ser fiasco!

Nunca na história das Copas houve uma seleção-de-país-sede tão fraca. Mesmo a Coréia do Sul estava uns passou adiante. Quer dizer que se a Copa for em Honduras ou Nova Zelândia, o técnico terá o dever de classificá-la?

Às vezes parece até que, entre todos os mil fatores, o mais importante é o apoio da torcida... Mas vuvuzela não desara, não dribla, não bota a bola pra dentro do gol não, viu? Coitado do Parreira.

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Vi  um jornal na CNN repercutindo com os torcedores a eliminação dos EUA. Pra gente que sempre pensa nos estadunidenses como desinteressados no “nosso” futebol, é uma surpresa ver quanta gente se reuniu em praça pública para acompanhar a seleção e roeu unhas, sofreu, vibrou, lamentou. Alguns reconheciam que Gana fez por merecer a vitória; lastimavam o esforço extra que o time sempre precisava fazer por sair em desvantagem e o fato de terem tido tão pouco tempo para se recuperar da partida puxadíssima contra a Argélia.

Como no futebol os EUA ainda são “pequenos” (embora já não sejam “café-com-leite”), fico com dó deles também.

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A frase mais linda sobre o futebol foi dita pelo técnico do Uruguai, um cavalheiro, em sua emocionada entrevista depois do jogo [Uruguai X Coreia do Sul], em que lembrou dos 3 milhões de uruguaios que há muito tempo não tinham uma alegria como essa: “E pra que serve isso tudo, senão pela felicidade de la gente?”

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