quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Fui-eu-que-fiz

Quando eu era vereadora, abri mão várias vezes de assinar alguns projetos de lei e iniciativas diversas porque isso aumentava muito as chances de eles serem aprovados - às vezes porque estávamos em pé-de-guerra (eu X rapa rs), às vezes apenas porque as pessoas se empenham mais em fazer acontecer algo que é delas também e não "dos outros".

Exemplo do tipo 1: PL que criava o Conselho Municipal da Juventude. Ele estava no "acordo de líderes" para ser aprovado, mas quando chegou a vez dele na votação em plenário, o presidente (Antonio Carlos Rodrigues - PR) interrompeu a sessão e avisou: "Projeto dela? Não vota". O co-autor, Carlos Alberto Bezerra (PSDB), ficou louco da vida, compreensivelmente, mas já ia se conformar e escolher outro projeto dele para ser aprovado. Eu preferi mil vezes retirar meu nome do projeto e assim permitir que ele fosse aprovado de uma vez (estávamos há 4 anos tentando!). Se não fosse assim, não haveria outro jeito, porque ninguém ali desafiava o presidente da Casa...

Exemplo do tipo 2: Quando resolvi apresentar Projeto de Lei institucionalizando em São Paulo do Dia Sem Automóvel, concluí que ele teria muito mais chances de ser aprovado se todos os vereadores assinassem como autores do projeto. Embora não fossem necessariamente entusiastas da ideia (muito pelo contrário, em boa parte dos casos...), não se recusariam a fazer parte do movimento coletivo a favor da mobilidade sustentável, capice? :o) E assim foi feito.

Meus assessores não achavam essa ideia muito legal não, por razões óbvias - todo vereador precisa ter uma série de ações das quais possa provar a autoria para prestar contas de seu mandato à sociedade (e, talvez, ser candidato de novo). Mas eu preferia fazer as coisas acontecerem do que ter uma lista de coisas com meu nome e... engavetadas ad infinitum. Enquanto isso, prestaria contas de todos os meus atos e pronto.

***
Nos anos seguintes, já houve momentos em que lamentei tamanho altruísmo, ehehe. Apesar de todos os esforços de um praticante budista para aniquilar o ego, ele é ardiloso que só. Aí quando aparece alguém reinventando a roda que eu já tinha reinventado (rs), me dá um pouco de... raiva. Aquela vontade de aluno cdf subir na cadeira, levantar a mão e dizer: "EU, professora! Eu sei! Eu fiz!".

Uma dessas ocasiões foi qdo o movimento Nossa São Paulo resolveu abraçar - e que bom que o fez - o Dia Mundial sem Automóvel como uma de suas primeiras bandeiras de mobilização mais intensa. Mas parecia até que o Dia tinha sido concebido ali, sem nenhum antecedente na cidade. gnargnargnar

O anjinho em cima do meu ombro diz: "Pouco importa, boba. Quem te acompanha sabe que você é militante antiga nessa coisa de mobilidade, meio ambiente, o coletivo X o individual etc.)". Aí o diabinho retruca: "Então tá, boba. Fica aí esperando que as pessoas sejam justas, tenham boa memória e te reconheçam. E desencana, por exemplo, de ser prefeita um dia".

Resultado:
Anjinho 0 X 1 Diabinho!

Então fui fuçar nos meus arquivos digitais e ressuscitar escritos de 2005 sobre o tema da mobilidade urbana -vamos lá:

- Pronunciamento na Tribuna no dia 21/09/2005 - Dia Sem Automóvel
Fotos do primeiro Dia Sem Automóvel na Câmara (as sessões plenárias normais foram suspensas para que fizéssemos um debate sobre mobilidade a tarde toda)
- Blog criado especialmente para o Dia
- Projeto de Lei, meu e do Chico Macena (PT), propondo alterações na Lei que instituiu o Dia Sem Automóvel (que acabou sendo aprovada e sancionada apenas em 2006 - eu nem lembrava que tinha demorado tanto!)
- Entrevista ao Boletim da Bancada do PT na Câmara sobre o PL do Dia Sem Automóvel
- Relato sobre a Bicicletada do Dia Sem Automóvel em 2006
- Fotos sobre eventos do Dia Sem Automóvel em 2006 - Bicicletada, Vaga Viva
- Post no Apocalipse Motorizado
- Post no Vá de Bike
- Pronunciamento no Plenário da Câmara em 2008

***
Portanto, Meritíssimo, acho que há elementos suficientes para demonstrar que provar que eu defendo essa bandeira há bastante tempo, aprendi muito desde 2005 e posso ser perdoada por eventuais momentos de irritação e manifestações de orgulho ferido quando aparecem "pioneiros" do movimento que aprenderam ontem o que é "vaga viva" e saem por aí bradando "mais ciclovias!" como se realmente estivessem engajados em mobilidade sustentável #prontofalei. uff






4 comentários:

  1. Soninha,
    Porque você tem no seu site uma frase em inglês?
    Você não é vereadora de uma cidade brasileira?
    Você realmente acredita que a maioria da população que mora em São Paulo, que na verdade deveria ser seu público-alvo, sabe ler uma língua estrangeira?
    Se liga Soninha, essa foi péssima!!!

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  2. Soninha,
    Você realmente acredita que vai resolver os problemas de mobilidade urbana de São Paulo com Dia Sem Automóvel? e os outros 364 dias do ano?
    Eu acho que esse tipo de lei não resolve nada e só serve pra ganhar os votos do público adolecente, que acredita nessa bobagem.
    Na minha opinião outras medidas como investimento em transporte urbano o suficiente pra fazer a classe média deixar o carro em casa e usar o ônibus e metro deveria ser sua bandeira, não essa palhaçada de dia sem automóvel.

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  3. Desacocheio:

    Oi?
    Qual frase?
    (PS: Não sou vereadora. Fui - até 2008).
    (PS2: "Público-alvo", na internet, é qualquer um em qualquer lugar).
    (PS3: Quem usa a internet com desenvoltura tem mais familiaridade com inglês do que quem não usa)

    ***
    Dã, claro que o Dia Sem Automóvel não vai "resolver os problemas" de mobilidade urbana. Minha "bandeira" é não só o coletivo ter prioridade sobre o individual, mas também promover a reorganização da cidade, a utilização racional do solo urbano, a melhor distribuição da atividade econômica X moradia para que haja menos DEMANDA por viagens. Nenhum sistema de transporte no mundo vai dar conta de uma situação em que Ferraz de Vasconcelos, por exemplo (Região Metropolitana de São Paulo) tem mais de 200 mil habitantes e pouquíssimo emprego. MAS o uso do automóvel não é só decorrente de necessidade e "falta de transporte público", mas também uma questão de hábito - para não dizer vício. Muita gente já podia se reorganizar de forma a pegar o metrô nos horários em que ele tem capacidade ociosa (peguei hoje às 9:30 e estava super tranquilo nas linhas Vermelha e Azul), mas não deixa o carro em casa DE JEITO NENHUM. Carro é símbolo de status, virilidade, etc. Então o Dia Sem Automóvel serve para promover, pouco a pouco, uma mudança cultural - ele ajuda a pautar a mídia, os governantes, a sociedade. O governo E a sociedade precisam de uma mudança de paradigma para superar a dependência, o uso abusivo ou compulsivo do automóvel.

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  4. O diabinho está perdoado. Obrigada a ele por instigar o post. E a você por seu exemplo e por se importar.

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