terça-feira, 15 de novembro de 2011

Amo, conheço, estudo, vivo, escuto, não me conformo

(Discurso feito no Congresso Municipal do PPS de São Paulo, no dia 22 de outubro)

Vocês estão cansados, né? (...) Isso não é nada, é só o começo, embora vocês não estejam começando  hoje - pra chegar até aqui, já caminharam muito, já estão batalhando para se apresentarem hoje como pré-candidatos ou apoiando um pré-candidato.

***
Vocês que já me ouviram falar antes, ouviram falar que eu amo política. 

Porque é uma conquista da humanidade. Política é uma construção da civilização, é uma construção dos seres humanos. É a forma mais avançada, mais sofisticada, evoluída de mediar conflitos, de mediar pontos de vista divergentes, interesses que às vezes coincidem e às vezes se opõem. É a forma mais elevada de escolher lideranças, escolher representantes. Não fosse a política, essa conquista da humanidade, a gente resolveria isso tudo na base da força bruta; a gente estaria resolvendo na base do tacape.

A política é uma construção, uma conquista, como a filosofia, as artes, a ciência, a tecnologia... De tudo isso os homens podem fazer mal uso - o que não tira o valor, a nobreza, de cada uma dessas conquistas e dessas construções.

Na política, na nossa sociedade, a gente se organiza. A gente é naturalmente atraído pelas pessoas com quem tem afinidade: às vezes isso é quase intuitivo; a gente simpatiza com alguém, tem a empatia, e quer chegar mais próximo. Às vezes é uma decisão mais racional, de caso pensado (e mesmo aquela atração intuitiva precisa ser confirmada depois.

Uma das formas de se organizar é o partido político. Não é a única forma - o PPS é um partido tão corajoso que na sua proposta de reforma política prevê que possa haver candidaturas avulsas, reconhecendo que pode haver lideranças que pleiteiam um cargo legislativo, que são de fato representativas da sociedade, não necessariamente vinculadas a um partido político; ao mesmo tempo em que defende também o voto em lista fechada, reconhecendo portanto essas duas formas de representação - a da pessoa que representa, sim, um grupo e determinadas visões de mundo e interesses; e a do conjunto de pessoas, reunidas sob um mesmo compromisso coletivo, sob algumas bandeiras.

Mas o partido é, ainda, a grande forma de organização política, a grande maneira de se interferir decisivamente nos rumos da sociedade. E eu escolhi esse meu partido, o PPS, não naquela decisão intuitiva, foi de caso muito pensado, quando eu, da metade pra frente do meu mandato aqui como vereadora, pensava que nunca mais queria fazer parte de partido nenhum. Não significava que eu ia desistir da política, da militância, mas eu achava que essa militância não seria mais em um partido político.

Mas acabei escolhendo o PPS, de caso muito pensado, por ouvir e por observar as atitudes tomadas pelo PPS que confirmavam aquilo que o PPS me dizia, e não tem coisa melhor do que ver uma atitude confirmando a teoria, confirmando as palavras.

Eu escolhi o PPS, e essa é a minha divergência aí com o Peterson, porque é um partido de esquerda, que portanto acredita na solidariedade, na colaboração, na cooperação como uma forma melhor de organização da sociedade do que a competição, como prega o capitalismo. Na competição o mais forte, o mais competente é o vitorioso - o que significa que alguém perdeu... Se alguém ganhou, alguém perdeu!

A gente compete naturalmente, até as plantas competem por claridade. Mas a gente não precisa escolher isso como a principal como forma de organização da sociedade. Na nossa evolução, a gente pode escolher a colaboração, a cooperação, a solidariedade como formas melhores de organização da sociedade do que a competição. Um partido de esquerda preza o coletivo, mais do que o individual. Outras visões de mundo prezam a liberdade individual acima de tudo - cada um tem que ter a sua liberdade, o seu direito, a sua oportunidade e quanto menos o Estado interferir melhor. A gente acredita na prioridade dada ao coletivo, a um número maior de pessoas, do que simplesmente ao indivíduo sozinho "e ele que se vire pra triunfar por aí".

Agora, isso não quer dizer que a gente seja a favor da supressão das liberdades individuais, como alguns governos de esquerda fizeram em nome da igualdade. Em nome da coletividade, aboliram completamente as liberdade individuais, a ponto de no regime maoísta, por exemplo, as pessoas não terem direito de expressar o que pensam, ou de pensar diferente, nem sequer de se vestir de maneira diferente.

O PPS é um partido de esquerda e é um partido que faz questão de ser democrático. Ou seja, que tolera, que aceita, que respeita a divergência, que respeita as diferenças, o direito de as pessoas colocarem as suas opiniões diferentes pra serem debatidas, de haver disputa.

Então, a gente preza a solidariedade, a colaboração, a igualdade e a democracia... E a República.

A "coisa pública" é sagrada. Se eu estou neste partido é porque eu concordo com a visão dele, com os seus princípios, mas nem por isso eu acho que posso submeter o que é público ao meu partido. "Porque o meu partido é o melhor, eu sei o que é melhor pra todo mundo, então eu me aproprio da coisa pública"? De jeito nenhum. O PPS é também um partido republicano.

Vocês não precisam simplesmente ouvir, acreditar, decorar e repetir. Aliás, não devem, vocês têm de observar o que é o PPS, o que é a atuação do PPS na Câmara Municipal sob a liderança do Cláudio Fonseca, na Assembléia Legislativa sob a liderança do Alex Manente, na Câmara Federal sob a liderança do deputado Rubens Bueno.

Eu escolhi o PPS, e eu tenho orgulho do PPS. Eu tenho o maior gosto de fazer parte do PPS. Pela história do partido, um partido que lutou pra ser partido, pra ser reconhecido, pra ser permitido como forma de organização da sociedade. Um partido que lutou tanto tempo na clandestinidade - muitos de vocês aqui foram protagonistas desta luta - e um partido cujas lideranças ainda estão aqui, fiéis e coerentes com aquilo que defenderam por tanto tempo. Um partido cujas lideranças a gente ouve falar, e diz: "Que bom que são estes os condutores". Um Moacir Longo, sempre presente, sempre low profile rs. Ele fica ali escondido como se não tivesse participando decisivamente disso tudo... Maria Salas, Anivaldo, Rubens, Roberto, todo mundo que já passou por este microfone e que enche a gente de orgulho.

E a gente se organiza num partido porque quer ter mais poder na sociedade, né, Jorge? A gente quer, sim, ter poder de interferir. Poder de determinar o rumo das coisas. No caso, estamos aqui pleiteando hoje uma participação maior no Poder Legislativo municipal e a chefia do Poder Executivo municipal.

Eu fui vereadora por um mandato, não quis me candidatar de novo; eu tinha grandes chances de ser reeleita vereadora e pouquíssima chance de ser eleita prefeita na primeira tentativa, mas eu sabia o que queria. Eu adorei ter sido vereadora, com todo sofrimento e frustração que fez parte do meu mandato - mas eu cheguei à conclusão de que o lugar em que eu quero estar no poder público é o Poder Executivo. E não foi por outra razão que eu não disputei a eleição de 2010, que eu podia ter disputado como candidata a deputada federal ou estadual, mas eu sei aonde eu quero estar, e é no Poder Executivo.

Eu amo essa cidade de São Paulo, mas não é um amor, assim, divino, sagrado, porque eu odeio os defeitos de São Paulo - e não é bem como eu entendo o amor entre as pessoas, por exemplo (rs). Eu odeio os problemas de São Paulo! Eu não me conformo com o que São Paulo tem de torto, injusto, mal planejado, mal feito, e eu quero participar da correção desses problemas da cidade. Eu não me conformo com eles, ainda que a minha vida seja muito melhor que a da maioria absoluta dos paulistanos, mas eu não consigo me satisfazer com isso, simplesmente.

E eu conheço muito essa cidade. Conheço porque fui repórter, porque fiz matéria pra tudo quanto é canto, porque fui voluntária, dei aula em Heliópolis, dei aula na Brasilândia, porque fui vereadora e candidata a vereadora (e já na campanha a gente conhece mais e mais e mais da cidade); porque fui candidata a prefeita, e mais e mais a gente conhece a cidade. Porque fui Subprefeita, que é um dos lugares mais difíceis pra se estar na administração pública, com imensas responsabilidades e pouquíssima autonomia, pouquíssimos recursos, pouquíssimo poder de fato, que é o que a gente quer ter quando está na administração pública!

E eu conheço a cidade também porque eu estudei e continuo estudando; vocês vão me encontrar por aí em tudo quanto é seminário, congresso, fórum, debate. Ou caminhando...

Conheço a cidade porque eu vivo essa cidade.

Eu sou usuária do transporte coletivo. Eu ando de ônibus porque no meu trajeto, pra minha sorte e felicidade, da Pompéia até aqui a Rua Boa Vista, onde eu trabalho, é muito melhor vir de ônibus, ou de ônibus e metrô, do que de carro. Com todas as deficiências, todos os defeitos do sistema de transporte coletivo, o meu trajeto é muito melhor.  É uma escolha informada, é uma escolha pelo meu conforto; posso ir de pé ou posso ir sentada, mas eu vou olhando pela janela, ouvindo música e pensando na vida.

Eu também uso o transporte coletivo, algumas vezes, mesmo que não seja exatamente a melhor alternativa, a mais curta, a mais confortável, porque eu fico sem graça de botar o meu carro na rua, eu sozinha dentro do meu carro. Se eu estou levando mais alguém, se eu estou levando muita bagagem, aí não fico tão constrangida, mas eu não quero ser mais uma congestionando... Porque o congestionamento é feito por cada um de nós, com o seu carro na pista, não são só os outros que estão congestionando o meu caminho. Então às vezes eu não saio de carro porque eu quero contribuir e deixar um pouco mais de espaço liberado.

E eu também uso o transporte coletivo porque eu acho que eu devo, se eu pleiteio ser prefeita. Porque nada se compara à experiência concreta de cada um - então eu ligo 156, eu entro no site da prefeitura, eu faço um SAC, marco consulta na UBS.

E eu escuto as pessoas, porque por mais experiência que eu tenha, nunca vou estar em todos os lugares. Eu não vou saber o que é ser Guarda Civil Metropolitano, o que é o funcionário da CET trabalhando ali no cruzamento, eu não vou saber o que é ser professor da rede pública, nem aluno da rede pública, nem pai de aluno da rede pública. Funcionário da praça de atendimento da subprefeitura.

Então além de tudo o que eu vejo, do que procuro eu mesmo experimentar, eu ouço as pessoas, e vocês todos fazem parte disso. Vocês me levam pra tudo quanto é canto, me trazem as suas dificuldades, as suas propostas, os seus projetos, os seus problemas. Vocês me levam pra Cidade Ademar e pra Cidade Dutra; pro Jardim Robru e pro Jardim Capela. Eu preciso que vocês me digam, eu preciso que vocês me levem pra todos esses lugares; nós precisamos uns dos outros pra fazer uma cidade melhor      

Então eu asseguro que eu sou capaz de disputar a prefeitura em 2012 e que eu posso ser prefeita em 2013, porque eu não estou sozinha. Porque eu conto com muita gente, de muitos lugares da cidade, com muito conhecimento, muitas experiências diferentes, pra fazerem isso comigo. Então eu preciso muito de vocês na campanha eleitoral do ano que vem, e vocês podem contar comigo pra campanha de vocês; eu vou precisar muito de todos vocês quando eu for prefeita, e vocês também poderão contar comigo.

E normalmente eu encerro a minha fala recitando o texto do nosso jingle da campanha de 2012, que não é simplesmente uma musiquinha pra grudar na cabeça, a gente quer dizer mesmo aquilo tudo que tá dito no nosso jingle. Mas hoje eu vou aproveitar os versos de uma outra compositora:


Em tudo o que eu faço existe um porquê/ (...) No ar que eu respiro eu sinto o prazer/ De ser quem eu sou, de estar onde estou/ Agora só falta você.


[O texto foi minimamente revisado para ficar um pouco mais organizado... Como sempre acontece quando releio o que escrevi/ escuto o que falei, tenho vontade de modificar algumas coisas, mas... Foi assim que saiu na hora, tem o vídeo registrando, então vale o que foi dito...]

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