quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Rio de Janeiro continua...

Faz meia hora que o Bom Dia Brasil faz uma cobertura especial triunfante sobre a ocupação da Rocinha e a prisão do traficante Nem.

"Dia histórico no Rio de Janeiro! Novo capítulo sendo escrito na direção de uma cidade pacificada".

Menos,  pessoal, menos.

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Perto dos Secretários de Segurança que o Rio de Janeiro teve nos últimos anos, nos governos anteriores do PMDB, o Beltrame é um Winston Churchill. Incomparavelmente mais esclarecido em bem intencionado do que um Álvaro Lins, por exemplo, que era praticamente (ou literalmente?) um chefe de quadrilha.

É evidente que o governo está ATUANDO e de maneira mais sistemática, e isso é positivo. Mas o tom de exaltação às medidas e a avaliação dos resultados é muito condescendente, complacente e otimista.

Tá, é preciso elevar o moral da tropa, projetar uma imagem mais positiva e dar confiança a moradores, investidores e visitantes. Mas sem fazer do limão azedo uma musse adocidada. Sem fazer da imprensa (i.e., a Globo) a porta-voz + agência de publicidade do governo Cabral.

Até o fato de esse assunto não estar apenas nos Datenas e Facciolis da vida e aparecer praticamente TODO DIA no Bom Dia Brasil e outros noticiários "normais" é sintomático do caos que ainda vigora. Ver imagens de policiais em posição de tiro e ler no www.twitter.com/leiseca_rj "tiroteio aqui, tiroteio acolá" como uma notícia que não causa horror, mas apenas uma informação como "congestionamento na saída da cidade" ou "chuva no final da tarde" não pode ser normal.

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Outro dia foi assassinado um repórter com tiro de fuzil. Meu, isso era assunto para uma semana de telejornal. Jornalista abatido em ZONA DE GUERRA, foi o que aconteceu. "Ah, ele foi imprudente, a TV é culpada, quem se mete em coberturas como essa está sujeito a tomar um tiro"... #Falô. Vamos fazer de conta que nenhum cinegrafista morreu - aquelas imagens que eles mostram são normais, aceitáveis? Quando não tem morte de profissional da imprensa, parece até que é, de tão anestesiados que ficamos. Aquilo não é Bagdá, não é Kabul, é mais uma operação de guerra em um bairro da segunda maior capital do Brasil, sede da Olimpíada de 2016.

Como é que a cidade pacificada ainda tem tanto tiroteio? Como é que os bandidos ainda tem tanto fuzil, granada, revólver, submetralhadora?

E na favela onde morreu o câmera da Band, na Rocinha, na Mangueira e em outras "comunidades pacificadas", as imagens das ruas ainda são de um lugar imundo, sem pavimentação, sem calçadas, precário, deteriorado, um século distante da Zona Sul. Cara, ainda falta muito, MUITO.

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Ainda sobre a prisão do Nem - ótimo, foi uma boa operação conjunta (PM, PF, Exército) que culminou com o flagrante do bandidão no porta-malas de um carro de luxo. Inteligência, persistência, perspicácia, presença de espírito e resistência à oferta de propina estiveram presentes, parabéns. A tropa tem todo o direito de se sentir orgulhosa.

Mas daí a dizer que "este é um dia histórico, de recomeço"... Quem dera.

Marcola não tá preso? Fernandinho Beira-Mar não foi preso? E...?

Felizmente o Rodrigo Pimentel bota uns pingos em alguns is. "Está desarticulado o crime na Rocinha?", pergunta o apresentador. "Claro que não, a operação continua nos próximos dias. Ainda se estima que haja 200 bandidos armados na Rocinha e muitos fuzis, granadas".

Muito bem. Avanços importantes aconteceram nos últimos anos, mas o jogo está longe, longe, longe da conclusão. E comemorar os gols do nosso time é bom para estimular a equipe, mas fingir que o adversário está morto e ignorar o quanto o placar ainda exibe uma pontuação alta para ele pode animar a torcida que vê o jogo pela televisão, mas não engana por muito tempo o povo que está no estádio. (Embora eles adorem reeleger seus governantes... Mas essa discussão (eleições) fica para outro post)

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