quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Por que desaprovo o programa de combate ao crack do Haddad - 10 razões




1 - Porque o alcance é limitado demais para ser chamado de política pública. Um número muito pequeno de usuários alcança a possibilidade de morar em um hotel social, um posto em frente de trabalho e remuneração. As outras centenas ou milhares de usuários de crack, não tem a menor possibilidade de serem incluídos.

2 - Além de a imensa maioria não ter acesso ao "De Braços Abertos", os "resultados positivos" aludidos pela prefeitura também são em número muitíssimo reduzido. Até a minha Associação, que nem sede tem, muito menos acesso a recursos públicos, tem resultados semelhantes. 

3 - Os hotéis oferecidos aos usuários são verdadeiras pocilgas, totalmente indignos. Quartos coletivos e banheiros sujos, com nenhuma mediação de conlflito ou coisa parecida - e morar junto é um desafio para qulaquer um, quanto mais para pessoas em situação tão instável psicológica e emocionalmente. Qdo eu questionei a Secretaria da Assistência Social em uma Audiência Pública, ela respondeu: "Não são cinco estrelas mesmo, são compatíveis com o que eles vivem". Ou seja; "pra quem é, serve". Como se o oposto de "lugar horrível" fosse "cinco estrelas", e não algo simples mas decente.

4 -  Mesmo com alcance pequeno, é uma política cara e muito pouco transparente. Como os hotéis são selecionados? Não souberam me responder. Como os valores foram definidos? Também não. A ONG que foi a responsável pela primeira fase recebeu milhões em recurso por meio de um "aditivo de contrato" (ela já era parceira da prefeitura em outro serviço, teve o objeto do contrato alterado e o valor inicial multiplicado por dez). Um descalabro. Nem site ela possuia para conhecermos melhor seu trabalho. A ONG que assumiu depois, aliás, teve de lidar com essa herança maldita. 

5 - Os pagamentos eram feitos em dinheiro vivo com zero transparência e controle, embora o contrato previsse que deveriam ser feitos depósitos em contas correntes abertas para esse fim. Naquela mesma Audiencia Pública, a Secretaria comandada por Luciana Temer disse ela tinha descobrido que "a maioria deles não tem documentos, então não deu pra abrir conta". Descobriu a América!!! Isso porque ela dizia que tinham estudado meses antes de lançar o "programa". (Um representante do Conselho Regional de Psicologia reagiu: "Redução de dano não é sinônimo de parar de usar, e traficante não aceita cartão", disse, defendendo o prefeito).

6 - É simplista demais achar que um lugar tosco para dormir e um trabalho braçal remunerado constituem uma "política de redução de danos", capaz de fazer os usuários sofrerem menos as consequencias negativas do uso do crack. Deixar de usar é dificílimo, a dependência é violenta e a abstinência tem efeitos devastadores. Reduzir o uso também não é fácil! O corpo PEDE pedra, não é só uma questão de ter força-de-vontade, auto-estima e coisas para se ocupar. Um trabalho multidisciplinar envolvendo psicóloga(o), psiquiatra, T.O, Assistente Social etc é fundamental. 

7 - Aderir ao tratamento de Saúde não é condição para fazer parte do Programa. "Eles têm acesso aos serviços como qualquer outra pessoa". Mas as outras pessoas não têm o direito ao hotel e trabalho... Assumir o compromisso com o atendimento em um CAPS deveria ser condição para ser beneficiário do programa, senão é um privilégio inexplicável. Repito: todos os usuários de crack deveriam ter direito aos benefícios, já que a única condição para participar é estar morando na rua... 

8 - É tão equivocado dizer que internação é inadmissível quanto achar que internação é a única maneira de tratar um depedente. Internação não é sinônimo de cura (é muito mais complexo que isso) mas também não é castigo pode sim ser uma etapa necessária do tratamento. 

9 - A Guarda Civil (e até a Polícia Militar) fazem vista grossa para o comércio de crack no "fluxo". Se a Guarda faz plantão noite e dia e permite a venda a olhos vistos, é porque houve alguma ordem ou permissão, ainda que velada. Mas quando eu digo que maconha é uma boa aliada para ajudar a reduzir o uso de crack, respondem "é contra a lei"! Entendem o que eu quero dizer? A prefeitura escolhe qual lei respeitar. 

10 - Usuários de outras drogas (álcool, cocaína) não passam nem longe de serem atendidos pelo Braços Abertos, embora estejam vivendo em condições degradantes e indignas pelas ruas da cidade. 

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