Pouco mais de um mês atrás, fiz a apresentação do "Programa de Governo" da Sub-Lapa na sede da Associação Comercial de São Paulo da Rua Pio XI. Era um esboço do que eu tinha encontrado, o que já estávamos fazendo e pretendíamos fazer; dos nossos recursos (financeiros, materiais, humanos) e nossas limitações; dos projetos em andamento e dos sonhos.
O ponto-chave (tem hífen?) da apresentação é: compartilhar conhecimento/ compartilhar responsabilidade. Eu preciso informar ao máximo os cidadãos sobre o que fazemos, quando, onde, por que. E preciso que eles me forneçam informações sobre o que fazem, como pensam, o que sabem, o que querem.
Uma das maneiras de fazer essa troca é em audiências públicas. Faço questão delas. Depois da primeira, no distrito Lapa, prometi fazer uma em cada um dos outros cinco distritos e depois começar tudo de novo.
(Sem falar que eu recebo as pessoas no Gabinete, vou às reuniões do Conseg, promovo encontros na Sub-Lapa, dou tantas entrevistas quanto solicitarem, leio emails, escrevo no blog, etc. etc. E que tem dezenas de outras pessoas para receber/ atender os munícipes).
De todo modo, acho bom ter esses encontros com hora marcada, para prestar contas e responder perguntas; fazer perguntas e ouvir sugestões.
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Hoje foi a Audiência no Jaguaré. Já enfrentei reações de desagrado em outros lugares quando eu digo "o Sumaré tem problemas, mas o Jaguaré tem MUITO mais"; "Vila Romana precisa de recapeamento, mas o Jaguaré está na frente da fila". Os distritos mais distantes tem problemas seríssimos - pela distância, pela história e características, pela falta de visibilidade na imprensa etc. Jaguaré, Jaguara e Leopoldina são muito mais maltratados do que Lapa, Perdizes e Barra Funda (que já tem lá seu caminhão de problemas)
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Percebi, logo que eu cheguei, que o clima não seria dos mais acolhedores. Não pelas minhas anfitriãs, queridíssimas. As pessoas na platéia é que não escondiam as caretas de impaciência ou desagrado. Esperavam tudo, menos uma exposição como a que nós fizemos (eu, o Coord. de Finanças e o de Obras).
Por que? Porque elas queriam saber DO JAGUARÉ, ponto final. Se o Lula fosse lá explicar sua estratégia para gerar milhões de empregos, a política cambial e monetária, o Plano Nacional de Educação, elas interromperiam: "E a padaria aqui da esquina? E a escola ali de trás?".
Na nossa apresentação, eu falo, por exemplo, das nossas linhas mestras na área de meio ambiente, esporte, cultura. Digo que, para melhorar a qualidade do serviço público, precisamos investir em melhores condições de trabalho para os funcionários (e informo algumas providências básicas). O Carlos Fernandes (Finanças) expõe o orçamento da Sub para 2009, explica de onde mais podem vir recursos, quantos somos, quanto isso custa, como podemos reduzir despesas etc. O Joca (Obras) apresenta uma tabela com os projetos para a região, explica que temos 319 áreas verdes, 5 equipes de capinagem, 5 de poda e remoção de árvores, 25 Termos de Cooperação em vigor etc. E por aí vai.
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No meio da exposição, eu disse que só em março, por exemplo, a Sub Lapa já podou 300 árvores, removeu mais de 30, plantou 108. São os dados referentes ao trabalho de todas as nossas equipes nos primeiros 20 dias do mês. Fui interrompida: "Quantas no Jaguaré?".
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No final, pra piorar pro meu lado, vieram dezenas de perguntas por escrito - e quase nenhuma delas dizia respeito a ações que competem à Subprefeitura. "O que você vai fazer com a favela da Antonio Noschese e a favela da CPTM? Quando você vai tirar os barracos da rua Dracena? Nós queremos semáforo, lombada, proibição para o tráfego de caminhões, acesso melhor à Marginal! Como você vai impedir a verticalização da região? Não queremos mais tapa-buraco, queremos recapeamento! Ilumine a nossa praça!".
De tanto me ouvir dizer "Isso é CET, isso é Secretaria de Coord. das Subprefeituras, isso é Secretaria de Serviços, isso é Assistência Social, isso é Habitação, isso é CET também", um rapaz falou que estava ficando deprimido.
Bingo! É assim que a gente se sente às vezes. Mal comparando, é como a moça do balcão da companhia aérea que, por causa da ANAC, da Infraero, do Ministério da Defesa, de vários governos, do câmbio irreal, da estabilidade econômica etc, precisava dizer, em meio ao caos aéreo, que não fazia idéia de quando o avião do cavalheiro finalmente decolaria - e tomava uma porrada.
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As favelas, a violência, a miséria, o modelo de circulação de mercadorias quase totalmente baseado em transporte rodoviário, a falta de planejamento urbano, o crescimento econômico pífio, o capitalismo mal ajambrado, o Estado omisso ou incompetente, a legislação deficiente, a burocracia, a corrupção e o diabo permeiam as perguntas escritas em dezenas de tiras de papel e caem todas na cabeça da(o) Subprefeita(o). Que parece uma idiota dizendo "vou pedir, vou encaminhar, vou pressionar, vou solicitar, vou estudar, vou ver".
Será que eu devia simplesmente dizer "Pode deixar, vou fazer" (e nunca mais aparecer por lá??)
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Um dos presentes chegou a dizer no final que, antes de ir lá fazer minha apresentação, eu precisaria ter andado pelo menos duas horas com ele pelo Jaguaré, porque assim já conheceria "tudo". Não devia ter me dirigido à população sem cumprir essa etapa.
Eu já andei muito mais do que duas horas. (Até já morei lá, mas foi nos meus nos tempos de USP, em uma república. Ia a pé pra faculdade, atravessando a favela junto à linha do trem, entrando pelo portão atrás do IPT, não me conformando com o mundo louco que existia/ existe pegado ao muro da universidade). Conheci muita coisa, mas não tudo. Conhecendo ou não, não vou conseguir acabar com as favelas da região como quem põe uma equipe na rua para fazer o corte de mato... Poderia, se fosse "mais bem assessorada", como reza o jargão na política, chegar lá e dizer meia dúzia de nomes de avenidas, chamar as favelas pelo nome certo e causar excelente impressão. Talvez parecesse onisciente, superpoderosa. Mas não resolveria nada.
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O fato é que as pessoas tem milhões de motivos para reclamar, pouquíssimas oportunidades de fazê-lo diretamente com uma autoridade, por mais mixuruca que ela seja, muitíssimas razões para desconfiar que não vai dar em nada.
Mas caramba, se você vai, é criticado por ter ido (!). Se não vai...
Eu tenho muito que conhecer no Jaguaré, Leopoldina, Lapa, Barra Funda. Jaguara, então, nem se fala - é um lugar de São Paulo em que eu seria incapaz de circular sem consultar o guia. Para ver tudo de perto, como temos expectativa quase insuportável (eu e as pessoas de cada lugar), preciso de muito, muito tempo. Para ir às creches, equipamentos sociais, de saúde, escolas, praças, bibliotecas comunitárias, áreas invadidas, favelas... Mas se ficar só indo aos lugares, não tenho tempo de receber as pessoas. Indo aos lugares + recebendo as pessoas, fico com tempo apertado para... resolver! Estudar, discutir, tomar providências!
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As pessoas vão à audiência pública reclamar, reclamar, reclamar da Subprefeitura.
E eu venho no blog reclamar, reclamar, reclamar das pessoas.
Desculpe aí, foi mau.
Fico feliz que você cumpriu com a promessa da audiencia pública, muito mesmo. Fico triste por não saber que a mesma aconteceria no Jaguaré, pensei que todas fossem comunidadas no blog...
ResponderExcluirSobre a população reclarar, é aquilo que você falou na audiencia da Lapa, que precisa agir como prefeito de interior e correr atrás dos recursos... hehehe O que resta agora é fazer pressão sobre as secretárias e tudo para mudar algo.
Uma sugestão: Acho que você deveria dedicar dias específicos da sua agenda para entrevistas e reuniões com munícipes, assim, nos outros você corre atrás das soluções que todos vão até ai te cobrar. Realmente é muito bom ter uma subprefeita acessivel, mas o ruim é muitas vezes a população te sufoca sem te deixar tempo para fazer algo de solução... Agora acho que é questão de ministrar melhor o tempo (que sei que já é curto e que sei que você aproveita muito bem)
Na próxima audiencia (se eu ficar sabendo) vou estar lá com certeza!
Sou muito contente por tê-la como subprefeita!
Bom trabalho!
99% disso tudo é devido a que NEM TODOS, ou MUITO POUCOS, fazem a sua parte e obrigação. E assim sendo, como você mesma disse, a primeira pessoa com um cargo de visibilidade que apareça no pedaço é abarrotada de cobranças. O povo por sua vez, não sabe onde começa nem onde termina o rabo do diabo.Ninguém se interessa em saber quem cuida do que, onde , como e por que.Infelizmente, a grande maioria é um rebanho que vai de um lado a outro sem saber por que.Isso vai mudar ? Duvido! É do interesse quase geral que fique daí para pior.
ResponderExcluirUma pena que não prestem atenção a você e sua equipe que estão fazendo de tudo para mudar muitas coisas e propor novos caminhos de administração e transparência, que lá na frente irá promover benefícios para todos.
Não moro na região da Lapa, sou apenas mais um admirador do trabalho que você desenvolve. Seja no rádio, como vereadora, na GNT, ou na ESPN. Por outro lado moro em São Paulo, em Guaianazes, zona leste especificamente.
ResponderExcluirÉ interessante acompanhar seus "desabafos" pelo Blog, que as pessoas reclamam, reclamam e reclamam dos políticos todos sabemos; agora, o que nunca sabemos é como os políticos reclamam de nós. Sua exposição nos da ideia de como são as angústias dos políticos que trabalham para/por nós. Os que não trabalham nunca saberemos...
Sou professor Licenciado em Educação Física, mestrando nesta área pela Universidade São Judas Tadeu, se puder da uma passadinha no meu Blog www.dialogosefe.blogspot.com
Será uma honra dialogar contigo.
Oi Soninha, te acompanhei por todos os seus blogs (Folha, de Politica, de Campanha, etc)... agora esse.
ResponderExcluirDah pra sentir o peso da responsabilidade nas suas palavras, tem na maioria das vezes um tom grave, irritado... mas nao eh critica... soh uma observacao e totalmente compreensivel devido ao peso e pressoes do cargo.
Sei que A sub da Lapa (e Sampa) soh ganha com isso... mas vou ser egoista e politicamente incorreta e admitir que sinto falta tambem de seus posts mais leves, de assuntos do cotidiano. Mas vai fundo! Que sei que eh tudo por uma otima causa!
Monica
Oi Soninha,
ResponderExcluirBLOG é para isso mesmo, é um espaço de expressão meramente pessoal. E não é porque você é uma figura pública que não possa desabafar em seu BLOG.
Tem mesmo é que botar pra fora o que sente no lugar certo, ou seja, aqui na INTERNET e não no seu dia-a-dia. Imagina só se você "perde a cabeça" no exercício da sua função pública!
Aqui é o espaço certo pra esse tipo de manifestação. Desabafa e manda ver, voce ainda vai ser a Prefeita dessa cidade!
PS: acho que pontochave agora é sem hífen.
Oi, sou morador do Jaguaré, acompanho seu trabalho há algum tempo e nunca soube que haviam audiências públicas por distritos, ainda mais com pessoas do poder público colocando com tanta transparência essas questões.
ResponderExcluirJá participei de encontros da Agenda 21 da região oeste e me motivaria muito colaborar numa próxima audiência.
Bem bacana seu trabalho.
Até mais!
Essa vida de Juvenal Antena não é mole não :-)
ResponderExcluirBoa sorte na próxima.
Soninha, daqui a 6 meses, quando voltares ao Jaguaré, leve informações sobre o Jaguaré. Eles estão errados em não querer entender o todo, mas estão certos em querer ouvir sobre a realidade deles no bairro deles. Vamos conversar disso e do plano de 100 dias na semana que vem? Existe um método bem simples pra administrar essas demandas e que não é pra politiqueiro. Era uma técnica do saudoso Mario Covas. abs do estraviz
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