Com o tempo, a gente vai aperfeiçoando algumas respostas para perguntas que sempre são feitas.
“Qual é o maior desafio na Subprefeitura?”, por exemplo. Eu já respondi que é suportar a pressão de mídia e de grupos mais organizados e influentes quando você decide que a prioridade está em uma área com menos visibilidade e poder de articulação; que é ter muita responsabilidade e pouco poder/recurso/autonomia; que é lidar com a burocracia, os métodos superados e as regras obtusas e obsoletas...
Mas agora cheguei à conclusão que a melhor resposta é: “Fazer as coisas funcionarem sem precisar ficar em cima”. Criar novos métodos, sistemas e fluxos de trabalho que possam ser operados por qualquer um, independentemente das mudanças de governo/chefia. Tirar o atraso de tudo para que a gente possa lidar só com o que chega agora – das benditas podas de árvore aos pedidos de licença de funcionamento. Tornar tudo cada vez mais acessível e transparente para que a própria população possa fazer o controle do que fazemos.
Já está melhorando? Já, sem dúvida. Mas deus do céu, falta muito.
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Águas pluviais, esgoto e córregos, por exemplo: é IMPRESSIONANTE a quantidade de problemas relacionados ao fluxo das águas. É de se espantar que não tenhamos muito mais problemas. O Andrea Matarazzo às vezes diz: “Quando a gente vê como as coisas podem ser enroladas, fica surpreso com o fato de sair água da torneira”.
Além de todos os gargalos e nós que eu já conhecia, ontem eu soube de mais um na Leopoldina (uma galeria que, em vez de chegar até o rio Pinheiros, forma um cotovelo e emenda em outra galeria, que não dá conta da vazão).
Quando a gente vai vendo a quantidade de serviços mal feitos nas décadas passadas, tem vontade de processar todo mundo. Hoje você tem de gastar quinze milhões para fazer uma obra de escoamento de água da chuva que custaria um milésimo disso se tivessem planejado e executado direito.
Ok, tem coisas que sabemos hoje que não sabíamos antes. Mas isso não é desculpa para todas as burradas e picaretagens perpetradas.
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Transporte coletivo, por exemplo. São Paulo lamenta não ter mais metrô e se orgulha do que já tem, mas por que as estações da linha Leste passam tão longe dos grandes conjuntos habitacionais da Zona Leste (em si, aberrantes, porque reuniram milhares de famílias em um lugar longe de tudo)? Ninguém pensou em ligar uma coisa à outra? Ou pensou, mas achou que era mais importante valorizar outra área, induzir o crescimento em outro lugar?
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E continuamos errando... Fazendo edifícios com poucos apartamentos e muitas vagas na garagem em ruas que não agüentam tanto carro... Concedendo incentivo fiscal para quem comprar carro... Para comprar material de construção (quando o maior problema para a moradia popular é destinar a ela áreas bem localizadas e bem servidas por infraestrutura...). Material de construção o pessoal já compra – e constrói onde dá, do jeito que dá.
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“O que precisa para ser Subprefeito?”. Não sei o que eu teria respondido um ano atrás – talvez “bom conhecimento da administração municipal, bom conhecimento da cidade, uma equipe capaz e de confiança, habilidade política”. Hoje eu sei que o que mais precisa é estômago e fígado. E muito, muito saco.
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Se a próxima eleição para prefeito fosse ano que vem e eu precisasse decidir agora se me candidato ou não, eu diria: “NÃO! Eu não agüento”.
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Eu queria terminar o dia fazendo um relatório de tudo o que eu fiz hoje. Aliás, queria terminar todos os dias assim. Mas é IMPOSSÍVEL. Faz tempo que eu estou querendo contar com quantos assuntos diferentes me envolvo em um dia normal de trabalho. Hoje eu contei: entre 9:00 e 13:00, foram 57. Não incluí o apelo de um vizinho na garagem do prédio, antes de sair de casa (porque não lembrei). Talvez tenha esquecido um ou outro problema enviado por email na primeira fase do dia (8:30 – 9:00).
À tarde também parei de contar.
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Satisfação boba: semana passada tive uma reunião com o presidente da CPTM (ótima – descobri muitos pontos de vista em comum, além de ter uma penca de boas notícias. Exemplo: eles também acham importante ter menos muros, verdadeiras trincheiras segregacionistas que fazem muito mal à vizinhança) e fiz uma reclamação de usuária – a falta de sinalização na estação Brás (que faz integração com o metrô). Se você não conhece bem o sistema, fica perdido. Para saber qual o trem para São Miguel, por exemplo, tem de procurar alguém que diga – e confiar na resposta (“Pega o Calmon Viana, na plataforma x”). Agora há pouco recebi um email com fotos das novas placas colocadas na estação, com a relação de todas as paradas de cada uma das linhas – e a observação de que ainda não é a solução definitiva. Mas já melhorou muito!
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Aí eu lembro que ainda não consegui implantar sinalização no próprio prédio da Subprefeitura e sinto uma pontada de desgosto.
Soninha
ResponderExcluirPrimeiramente obrigado por manter blog tão informativo.
Imagino que cada um dos seus "interminaveis" dias
gera uma infinidade de conhecimento e experiências.
Depois, à noite, num árduo sobreesforço ainda tem pique para estas análises e as suas conclusões.
Certamente você sabe que repassar criticamente o dia, os BONS momentos e os menos bons, antes de adormecer (exausta mas feliz..) Gera a energia e determinação para o dia seguinte.
A semana (felizmente) acaba amanhã.
Por favor, dê-se o direito. Aproveite fim de semana prolongado.
Boa Páscoa !!
ps: é recomendavel apenas 30g de chocolate/dia
Xi, acho que já estourei a minha cota :o)
ResponderExcluirÉ, Sonia, essa de sinalização é louca mesmo. Mas acho que você deveria olhar o que você pode fazer antes de ver o da CPTM. Os pontos de ônibus que cada gestão faz questão de piorar ainda mais chegou no clímax -- principalmente nos terminais. A máfia (SP Trans) colocam uns postinhos de design fresco que vai contra a funcionalidade (portante anti-design): fica passando umas letrinhas eletrônicas de um lado e pra você saber qual ponto que é você tem que chegar lá na frente e ver pelo outro lado. "Ah, não é muito". Agora, experimenta ser cadeirante e ter que andar dez metros nas crateras destes locais. Tudo podendo ser evitado com uma placa que fosse grande e bem escrita.
ResponderExcluirMas não. É importante ser "transparente" ficar passando quando o ônibus está previsto pra sair e nunca sai, até na saída dos ônibus a palara do poder pública vale tão pouco. E vai reclamar pro fiscal, levar um esculacho pra ele e os capos (motoristas e cobradores coçadores) rirem da sua cara, vai lá.
Claro, esse não é um problema só aqui da Lapa, mas você pode melhorar isso, não pode? Se não, quem pode?
Esquece... "Cidade Inclusiva" é teoria pra menino da USP fazer monografia.
Fábio, entendo bem o que diz. É uma coisa simples, mas para quem usa e está quase sempre atraso (caso de boa maioria), é realmente terrível! Vamos passar a reclamação para a SPTrans, não é garantia de que vá ser resolvido prontamente, mas vamos tentar!
ResponderExcluirTem muita, muita coisa que precisa melhorar, e os detalhes são essenciais. A impressão que dá é que quem faz já sabe o que vai pra onde e acha que todo mundo também deve saber... fico desesperada quando uso o trem por conta disso. Um sábado desses fomos fazer plantio de árvores ali na alça do Jaguaré, resolvi pegar o trem e fiquei feito barata tonta, a única placa que encontrei e andei uns 30 metros para poder ver o que estava escrito só tinha a logo da CPTM, só. Nenhuma placa informativa e nenhum funcionário!
A Soninha manda tanto na SPTrans quanto na CPTM e na CET, ou seja, nada. Mas claro, como Subprefeita pode solicitar encarecidamente que se dê mais atenção a esses detalhes.
Obrigada pela dica e colaboração. Continuamos aqui tentando, com muita paciência pelas coisas não saírem tão rápido quanto gostaríamos e por sermos tão poucos para tantas demandas.
Abraços e bom feriado!!!
Obrigado pela atenção. Tenha um bom trabalho.
ResponderExcluirE um proveitoso feriado.
soninha,
ResponderExcluirAdmiro e aprecio o seu proceder neste mundo (e haverá outro????).
Oi Soninha, parabéns pelo seu trabalho. Queria saber qual é a sua opinião para o futuro da garagem da SPTrans na Vila Leopoldina, e se existe algum plano/prazo para que possamos ver mudanças no local. Espero que seja uma destinação pública que valorize o verde e quem saiba traga um teatro para nosso bairro.
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