domingo, 12 de abril de 2009

Uma "lei idiota" que não existe

Ferreira Gullar, na Folha de hoje (domingo): “Está na hora de revogar essa lei idiota”. São tantas as leis idiotas; estaríamos pensando na mesma? Fui ler com a maior curiosidade.

Mas a lei de que ele reclama é a que “proíbe a internação de doentes mentais”.

Se tal lei existisse, seria mais que idiota; seria, ela mesma, uma insanidade...

Como uma lei pode interferir de tal maneira na atividade médica?

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Pensando bem, não seria inédito. Há dispositivos legais que estabelecem determinam a internação de usuários de substâncias psicoativas cujo comércio é proibido por lei (genericamente chamadas de “drogas”) por decisão de um juiz, não de um médico...

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Em todo caso, a internação de doentes mentais NÃO É PROIBIDA. A campanha antimanicomial, à qual Gullar se refere com raiva e escárnio, era – é – contra as instituições hospitalares em que os doentes mentais são despejados e dopados, maltratados, abandonados.

Gullar diz que esteve “em muitos hospitais psiquiátricos, públicos e particulares, mas em nenhum deles havia cárceres ou "solitárias" para segregar o "doente furioso". Mas, para o êxito da campanha, era necessário levar a opinião pública a crer que a internação equivalia a jogar o doente num inferno”.

Mas em muitos lugares equivalia, sim, a um inferno! O fato de haver hospitais decentes não significa que todos o eram.

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Gullar tem experiência pessoal com doença mental – por isso ficou tão furioso quando “um deputado petista [Paulo Delgado, de Minas Gerais] que aderiu à proposta, passou a defendê-la e apresentou um projeto de lei no Congresso. Certa vez, declarou a um jornal que "as famílias dos doentes mentais os internavam para se livrarem deles". E eu, que lidava com o problema de dois filhos nesse estado, disse a mim mesmo: "Esse sujeito é um cretino. Não sabe o que é conviver com pessoas esquizofrênicas, que muitas vezes ameaçam se matar ou matar alguém. Não imagina o quanto dói a um pai ter que internar um filho, para salvá-lo e salvar a família. Esse idiota tem a audácia de fingir que ama mais a meus filhos do que eu".

Realmente, é compreensível o rancor. Ele se sentiu atingido por uma generalização – que, como todas, é injusta, mas tem fundamento na realidade!

Segue o escritor: “Esse tipo de campanha é uma forma de demagogia, como outra qualquer: funda-se em dados falsos ou falsificados e muitas vezes no desconhecimento do problema que dizem tentar resolver. No caso das internações, lançavam mão da palavra "manicômio", já então fora de uso e que por si só carrega conotações negativas, numa época em que aquele tipo hospital não existia mais”.

Pois é, aí está outra generalização... Incorreta e injusta. Austregésilo Carrano que o diga. Autor de “Canto dos Malditos”, que inspirou o filme “Bicho de Sete Cabeças”, ele conta as atrocidades a que foi submetido em um “hospital psiquiátrico” depois que o pai descobriu que ele fumava maconha.

Dizer que hospitais “daquele tipo não existiam mais” é sacanagem.

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Muito sensatamente, Gullar explica: “Em geral, a internação se torna necessária porque, em casa, por diversos motivos, o doente às vezes se nega a medicar-se, entra em surto e se torna uma ameaça ou um tormento para a família. Levado para a clínica e medicado, vai aos poucos recuperando o equilíbrio até estar em condições que lhe permitem voltar para o convívio familiar. No caso das famílias mais pobres, isso não é tão simples, já que saem todos para trabalhar e o doente fica sozinho em casa. Em alguns casos, deixa de tomar o remédio e volta ao estado delirante. Não há alternativa senão interná-lo”.

[Continua no próximo post]

4 comentários:

  1. Soninha a rede pública distribui esses medicamentos gratuitamente? Não sabia dos filhos do Gullar.
    Abr

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  2. Engraçado isso... existem leis que parecessem ser feitas para não serem seguidas, simples desperdicio de dinheiro publico e tempo.

    Abs do Lico

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  3. Existem pessoas e pessoas na sociedade, a lei sempre privelegia as pessoas com mais alcunha. Soninha, se quiser me add no twitter, meu nick é serginholiveira e acho que o Prof Palmiro Menucci merece um topico, eles fez muito pela educação, em Leme minha cidade constreuiu com a ajauda da coomunidade e do prof joao machado o CPP e o Clube de lazer do CPP>

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