terça-feira, 28 de julho de 2009

Os tais dos fretados

Seguinte: a circulação de ônibus fretados em São Paulo carecia de normatização e organização. Eu coloquei isso como um dos itens do meu programa de governo na campanha para a prefeitura.

Embora seja transporte coletivo, é privado. Não é qualquer um que pode usufruir de seus serviços. Por ser coletivo, é muito interessante para a cidade, mas não deixa de ser um negócio. E todo negócio precisa de regras que preservem a coletividade.

Imaginem se não houvesse limite algum para a oferta e circulação de fretados. Que, por ser um bom negócio, muito atraente para determinada clientela (que, com muita razão, não quer sair de carro todo dia e também não é atendido com tanto conforto pelo transporte público), poderia se expandir ao infinito. E aí a Paulista, por exemplo, viraria um inferno maior do que já é. Não por culpa dos ônibus, mas com a participação deles.

Então é razoável estabelecer que os fretados não podem parar em qualquer lugar para pegar e deixar passageiros; que não podem fazer ponto inicial e final onde bem entenderem, ocupando muitas vagas de estacionamento na via pública e congestionando as calçadas; que as empresas não podem simplesmente criar linhas novas sem combinar com ninguém antes. Sem verificar onde a circulação já está saturada, sem pedir autorização para fazer seus "terminais".

Não vale dizer que "o governo não me dá boas alternativas de transporte público, então não tem direito de vir mexer com o meu fretado". Se fosse assim, também não poderia mexer com os perueiros clandestinos... E eu, de esquerda que sou, defendo o papel do Estado como mediador, regulamentador, controlador inclusive. Não se pode deixar a livre iniciativa brigar pelo espaço público (no caso, o uso das vias) sem intervir.

Mas isso não significa inviabilizar a atividade, criando tantas restrições que ela deixa de ser interessante... Ou imaginar restrições que, ao aliviar um lado, sobrecarregam outro. E ao que tudo indica as normas inicialmente previstas pela prefeitura resultadiam nas duas coisas. Alguns pontos de transferência previstos, por exemplo, não tem condições de suportar o movimento de ônibus e pessoas. E os gargalos na conexão do transprote privado com o público também não podem ser ignorados.

Enfim, ao menos o tema está sendo estudado, mudanças vão sendo feitas. Pena que as coisas acabam acontecendo assim, com muito estresse, angústia, desgaste. Mas discordo de uma manchete de jornal: onde disseram "prefeitura recua e muda regras para fretados", depois de uma primeira rodada de negociações, deveria ter dito "prefeitura avança e muda regras". Porque reconhecer erros e procurar corrigi-los é uma das melhores coisas que se podem esperar da administração (melhor que isso, só deixar de cometê-los, mas isso sempre é difícil...). Ao chamar toda mudança de "recuo", a mídia acaba "estimulando" as autoridades a não arredar pé do que haviam decidido, para não parecerem maleáveis demais a pressões. Eu não deixo de fazer alguma coisa apenas porque vão dizer que eu "recuei", mas pode ser bem chato passar por fraco quando você foi aberto e sensato.

7 comentários:

  1. Este problema dos fretados na verdade é um problema de miopia. O problema é bem outro. Trata-se da falta de trens de passageiros ligando São Paulo à Campinas, Santos, São José dos Campos, Sorocaba, etc., e da falta de investimento no metrô de S. Paulo. Inaugurado na mesma época que o metrô da Cidade do México, hoje com mais de 200 km de extensão, o metrô de S. Paulo tem menos de 60 km. Ou seja, falta de investimento no transporte público. Duvidam?
    Então verifiquem como vão trabalhar os moradores dos subúrbios e cidades vizinhas de N. York, Londres, Tóquio, etc. Lá não existe fretado, como aqui.
    O resto é conversa prá boi dormir. Enquanto não investirem no transporte público, o problema continua. Ou será que os nossos ilustres políticos querem que o pessoal vá trabalhar de carro? Aí sim que São Paulo não anda mais...

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  2. Soninha, gostei do post pq tocou em um tema delicado: a proibição dos fretados. Vc não se omite e toca no assunto espinhoso..

    mas não consigo concordar com teus argumentos. Fiquei tentado em escrever de forma irônica e debochada, mas acho q vc não merece isto, e os leitores do blog são inteligentes o suficiente pra analisar o caso.

    assim como os fretados ocupam espaços e vagas de estacionamento nas vias públicas, os carros particulares tb o fazem.. só que ocupam muito mais espaço e vagas.

    se eu, em meu carro particular posso (e devo - pra não fazer isto nos semáforos) parar nos ponto de ônibus para pegar ou deixar minha namorada, pq os fretados não poderiam fazê-lo para carregar e descarregar passageiros?

    a proibição aos fretados para melhorar o trânsito me parece tão eficiente quanto a inspeção veicular nos carros novos (carros novos já atendem os padrões de emissão estabelecidos pelo proconve/ibama. Desregulados costumam ser os veículos mais antigos). Parecem meros instrumentos arrecadatórios vinculados a setores dominados por cartéis.

    Concordo q o estado deve regulamentar e controlar, em especial sobre a segurança dos fretados. Mas o q se está fazendo é um erro, uma proibição. Torna o fretado desatraente e obriga as pessoas a pagar mais um ônibus ou metrô (o q representa um peso considerável no orçamento das pessoas).

    se fosse proibir alguma coisa, acho q deveria ser a circulação de carros no centro, não de ônibus fretado! Considero os fretados como parte da solução, e não do problema.

    e por último, não me preocupo muito se os governantes/gestores/administradores ficam chateados com a notícias de q eles recuaram... se estavam errados (e eu acho q estão) não fazem mais do q sua obrigação quando mudam de posição. E no mais, geralmente estão cercados de comissionados bajuladores pra afagar seus egos e evitar crises de depressão...

    um abç e parabéns pelo trabalho.
    desejo q consiga manter a coerência (não deve ser fácil, e talvez nem sempre possível).

    Fernando

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  3. Olá. Bom dia. A cidade de São Paulo sempre cresceu desordenadamente, tudo aqui foi permetidio. Desde a gestão da Dona Erundina (desculpe pela minha opinião) entramos na era do "tudo pode", depois veio as administrações castróficas do Pita e Maluf.
    Sou a favor da proibição dos fretados circulando na cidade sem nenhuma regra. Eles podem tirar muitos carros das ruas, mas atrapalham, na sua maioria são onibus antigos poluidores e também motoristas mau educados. Agora como munícipe - moro no Tatuapé e trabalho na Bela Vista-, sugiro outras pautas.
    - Carroceiros circulando e parando por onde querem. Já vi carroças em faixas na Av. Paulista, em plena luz do dia.
    -Lixo. Que horas os edifícios devem colocar o lixo na calçada? Aqui na Bela Vista é uma imundice.
    -Serviço Social. Nunca tivemos tantos moradores de rua na cidade. E os serviços sociais públicos me parece não fazem nada. Enfim...temos tantos problemas. Ainda tenho uma gota de esperança que com a Copa de 2014 esta cidade melhore um pouco. Será uma grande oportunidade para o Brasil. Soninha...parabéns pelo trabalho e vou entrar aqui mais vezes. Afinal, quem está na rua - e todos os funcionários municipais deveriam ver a cidade como seu espaço de trabalho e tb. reclamar -, sabe o que está acontecendo na cidade. Abraços

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  4. "Imaginem se não houvesse limite algum para a oferta e circulação de fretados. Que, por ser um bom negócio, muito atraente para determinada clientela [...], poderia se expandir ao infinito. E aí a Paulista, por exemplo, viraria um inferno maior do que já é. Não por culpa dos ônibus, mas com a participação deles."

    Não é verdade que não houvesse nenhum limite antes. O CBT, p.e., estabelece vários limites.

    Tb não é verdade que se expandiria ao infinito, já que o tamanho da clientela potencial, embora grande, é finito. E tb isso se dá, em certa medida, com a *redução* de automóveis que transportam uma única pessoa: parte dos passageiros que largam seus carros para andar de fretados.

    Mas o problema é que a regulação pela prefeitura foi feita de modo estrambelhado. Como você nota, tende a piorar as coisas. Ainda mais grave: foi feito sem estudos adequados - não fizeram nem o levantamento das rotas dos fretados!

    Sim, menos mal que, diante do problema, recuaram - sim, recuaram, já que antes proibiam a circulação na Berrini e voltaram a liberar. (Do contrário, é a história do bode colocado na sala...)

    O que há a ser destacado então é que o plano da prefeitura foi muito mal arquitetado, com consequências ruins aos munícipes e aos trabalhadores afetados. E é isso que precisa ser cobrado - sem partidarismos baratos de querer explorar o erro politicamente (embora, sim, haja custos políticos), mas tb sem ser leniente por ser de partido aliado.

    Foi uma bola fora tremenda. Agora é preciso arrumar.

    []s,

    Roberto Takata

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  5. Nossa Soninha, quer defender o governo tudo bem, é um direito seu. Mas se informe primeiro antes de dar sua opinião.

    O transporte público é péssimo sim, é caro e o pior... É PRIVADO também, pois de público não tem absolutamente nada. Veja só como ficam as garagens de manhã e a tarde, principalmente na periferia. Muitas vezes com metade da frota parada pois quem determina a quantidade de ônibus nas ruas são as próprias empresas com a chancela da SPTrans.

    Além do mais, existem dois tipos de usuários de fretados, os que moram em cidades fora da região Metropolitana e aqueles que moram dentro da cidade de São Paulo e região Metropolitana. Aliás, esse segundo grupo é o que mais aumentou ultimamente, pois a maioria tem um perfil de morar longe do trabalho, em média 20 km e para essa maioria, o transporte público é péssimo.

    Os que moram fora, vão ter que se virar com as regras, poucos tem outras opções, já os que moram na cidade, com certeza voltarão para o carro.

    Sugiro que veja a matéria que eu fiz no meu site.

    http://www.ciclobr.com.br/diasemcarro/noticias87_Conheca_o_Joao_Paulo_ele_ia_de_fretado_mas_agora_vai_de_carro.asp

    Pode até ser que tem alguns fretados sem condições de circular, mas a maioria são ônibus novos e confortáveis. O pior de tudo que chegam a ser mais baratos do que o sistema atual.

    Minha mulher por exemplo, de carro gastaria 400 reais por mês de gasolina e 200 de estacionamento.

    Dê ônibus gastaria, no mínimo, R$110,00 por mês, numa viagem de uma hora e meia e de pé o tempo inteiro. Se fizesse integração com o Metrô gastaria R$160,00. Também de pé a viagem inteira, fazendo umas 4 baldeações no mínimo, e levando uma hora e meia.

    Já de fretado gastará os mesmos R$160,00 levando uma 1h15 minutos, com conforto, sem a preocupação de dirigir ou estacionar. Qual é a opção que você quer que ela opte?

    Além do mais esse fretado que ela ia era ano 2008 e poluia menos do que a maioria dos carros que temos na cidade e levava 50 pessoas. Disse ia e levava, pois com as restrições e as dificuldades promovidas pelo nosso querido prefeito, devido a debandada dos passageiros,, não conseguirá manter um ônibus sequer, consequentemente será OBRIGADA a ir de carro todos os dias, como nosso prefeito tanto queria.

    cont...

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  6. Ou seja, enquanto fretados com 50 pessoas são proibidos de circular na Paulista, umas mil suvs, com uma pessoa dentro, poderão circular livremente na mesma avenida, a hora que quiser e quantas vezes quiserem. Acha isso justo? Tudo bem, já que os fretados não podem entrar na Paulista, então vamos encher essas Suvs de passageiros que usavam os fretados, garanto que com a ocupação máxima desses carros, resolvemos o problema de mobilidade na cidade.

    Ainda sou obrigado a ouvir que essas pessoas são egoístas. Cacete... Não é essa mesma prefeitura que diz nas propagandas para as pessoas adotarem caronas solidárias? Se 50 pessoas se reúnem para usarem o mesmo meio de transporte não tem a mesma lógica?

    Cadê o respeito ao Plano Diretor Estratégico que tem como diretriz que o Transporte Coletivo tem que ter prioridade ao transporte individual motorizado? Diretriz essa que o governo, com seu novo Plano Diretor, pretende limar para facilitar sua vida.

    Aliás, cadê o Plano de Transporte que esse governo deveria ter feito como manda a lei? Outra obrigatoriedade que vão limar no novo Plano Diretor.

    Ao invés de gastar milhões, comprando juízes e vereadores para emplacar a mudança do Plano Diretor onde, numa audiência pública, de mais de 30 manifestações, tivemos apenas UMA a favor do novo plano, justamente a do Prefeito. Ao invés disso, porque não colocar em prática o que manda a lei, o que está num plano que foi construído com a participação da sociedade. Porque mudar para algo que ninguém da sociedade concorda? Desculpe, apenas o Sincovi concorda.

    Desculpa Soninha, sabe o quanto te admiro, sabe que eu apoiei sua decisão de assumir a Sub, mas imaginava que você manteria a sua independência e coerência com tudo aquilo que sempre defendemos. Não é só porque você está com eles que é obrigada a concordar com tudo.

    Abraços

    André Pasqualini

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