segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sortidos de segunda-feira

O café da manhã de hoje (toda segunda fazemos um encontro com algum setor da Subprefeitura) foi com o pessoal “da varrição”, como eles mesmos dizem – funcionários da Supervisão de Limpeza Pública, que pertence à Coordenadoria de Infraestrutura Urbana e Obras (CIUO).

O motivo desses encontros é ter a oportunidade de, ao menos uma vez, conversar com todo mundo que trabalha aqui. Cada um fala de onde veio, há quanto tempo está na prefeitura e na Sub, o que já fez na vida e no serviço público, quantos filhos tem (e netos, bisnetos), qual era o sonho de infância, qual o talento secreto... E fala um pouco do trabalho em si, das dificuldades e aspirações.

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Dificuldades mais comuns: salário baixo e sem aumento há séculos, precariedade no trabalho (falta de instrumentos adequados e instalações capengas. Tem cada coisa horrorosa... Cada vestiário, cada copa... Mãe do céu).

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Na turma de hoje, bem numerosa, o que mais chamou a atenção foi a quantidade de gente que disse que não teve nenhum sonho na infância. “Nem deu tempo” foi a resposta mais comum. Um pessoal sofrido, calejado, que começou a trabalhar com 9, 12 ou 15 anos, passou pela roça, quase não estudou... Que no máximo sonhava “melhorar de vida” – ter “um carrinho, uma casinha”. Que não se lembrou de nenhum talento.

E a vida deles hoje continua difícil. “O que você faz?”. “Eu fico na portaria. Abro e fecho portão, atendo telefone”. Não estou brincando. Haja motivação para sair da cama. E tem serviços piores – limpeza de galerias, recolhimento de entulho, conserto de boca-de-lobo...

E o salário, ó...

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Ao mesmo tempo, tem gente pedindo gratificação, pagamento de horas suplementares, cargo etc. que não só não merece aumento como podia bem ser demitido (por má vontade, indisciplina, desinteresse, ineficiência), mas tem estabilidade.

Ô, tormento.

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Do taxista que me trouxe hoje de manhã:

- Passei o fim-de-semana procurando apartamento para minha mãe. Ela morava na Heitor Penteado.

Fiquei surpresa – na Heitor? Morar ali não é barato. Só pensei, e ele parece ter lido:

- Ela era zeladora de um prédio. Perdeu o emprego e ficou sem ter onde morar.

(Desgraça pouca...)

- Estou procurando lá em Carapicuíba, perto da casa do meu irmão. Onde ele mora é sossegado. Mas eu não tenho problema nenhum em entrar e sair de qualquer lugar lá. Já na Brasilândia... Ali é feio demais. Muito cara folgado, muito ponto de pedra e farinha, muita gente sem nada pra fazer.

E aqui no ponto, é tranqüilo?

- Tão tranqüilo que eu até estranho. O pessoal acha que o ponto aqui é bom, mas no outro era muito mais. Lá era máfia, os caras já ganhavam muito e ainda tiravam mais em cima. Era agitado, corrida entrando o tempo todo, você não parava. Corrida de cinco reais, sete, oito, sem parar. Agora preciso juntar dinheiro pra comprar esse carro (que é alugado). Eu sinto falta daquela agitação.

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Hoje começaram a quebrar a calçada aqui na frente para fazer calçada verde – com gramado rente ao muro e trepadeira florida. Aleluia.

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Depois de muito orçar daqui, vistoriar dali, ia começar no último sábado a troca de telhas e calhas em um dos prédios da Subprefeitura. Adivinhe: começou a chover na quinta (ou sexta) e não parou mais.

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Defesa civil acionada pela Cetesb para recolher galões de material estranho (lodo com cheiro de graxa) largados em uma calçada. Associação de moradores reclama de calçadas malconservadas nas praças, árvores que encobrem a iluminação pública, buraco na via, becos e escadarias precisando de limpeza e pintura, portão fechando uma rua com saída, falta de equipamentos adequados no Centro de Especialidades Odontológicas. Também vieram cobrar providências para transformar CDM sub-utilizado em Unidade de Saúde. Bandnews liga para perguntar sobre placas de ruas com grafias conflitantes. Secretaria do Verde entregou um Termo de Referência que estávamos esperando. Clube Escola Jaguaré ainda aguarda resposta sobre palco para grande festa que vai acontecer lá no fim-de-semana. Cooperativas de Reciclagem da Leopoldina se preparam para deixar o terreno da antiga Usina de Compostagem. Retomada de área pública precisa ser consumada. Imóvel desocupado flagrado com atividade irregular e ilegal de comércio de ferro-velho. Secretarias de Governo e do Verde e do Meio Ambiente (municipais), Secretaria de Planejamento (estadual) e Subprefeitura discutem atribuições e cronograma de implantação de parque na Leopoldina. Munícipe reclama de ponto de ônibus em lugar ruim. Dinheiro ta curto, orçamento “fechado”. Munícipe exige fiscalização urgente para obra aparentemente irregular. Munícipes pedem audiências. Etc.

Enfim, mais um dia normal de trabalho. Leve, até (daqui a pouco vou para casa).

3 comentários:

  1. Oi, Soninha. Encontrei o seu blog no Twitter, onde sou seu seguidor. Admiro muito o seu trabalho na ESPN Brasil.

    Um abraço!

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  2. Rá, e pensar que 90% das aporrinhações de uma subprefeita são oriundas de demandas as quais a Subprefeitura não tem representação direta internamente. É tudo de outras secretarias. Inferno. Ou bem re-centraliza tudo e vc fica só cuidando de árvore e buraco no asfalto e camelô (como se fosse pouca coisa) ou bem descentraliza tudo e a Praça de Atendimento vai ser o paraíso da "cumunidadi": com triagem pra todo tipo de aperreio-cidadão. Força na subida, Soninha. Que a gente conta com você.

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