terça-feira, 11 de agosto de 2009

Diálogo no semáforo

- Quer comprar bala?
- Não. Quer uma flor?
(Tínhamos – eu e a Lylian – acabado de comprar copos-de-leite no outro semáforo)
- Não, é sua.
- Mas pode ficar pra você.
- Não quero não. Compra uma bala pra me ajudar.
- Não quero bala. Quer biju?
(Tínhamos comprado biju dois semáforos antes)
- Não, obrigada. Compra uma bala!
- A gente não tem mais dinheiro. Como você chama?
- Silmara.
- Onde você mora?
- Valo Velho.
- Tem muita gente aqui do Valo Velho, né?
(Eu tinha perguntado para outras meninas anos atrás. Aliás, levei-as para casa de madrugada, longe pra danar. Sem trânsito nenhum, levamos mais de uma hora para chegar).
A menina deu de ombros, dizendo “nem sei”.
- Quantos anos você tem?
- Dez.
- Estuda?
- No Betinho.
- Onde é?
- Lá no Valo Velho!
(Exclamação tipo “pergunta besta”)
- Municipal ou estadual?
- Hmm... É das que dão leite.
Sinal abriu, fomos embora. Silmara ficou lá.

**********
E ainda tem quem use o refrão “tem de botar as crianças na escola para tirar da rua”. E quando estão na escola E na rua? Estar na escola garante dinheiro para o sustento e os desejos?

4 comentários:

  1. Oi Soninha

    Muito legal a sua visão. Aliás, eu acho que é aí que tá o problema. A maioria das pessoas fecha a janela e ignoras as Silmaras dos semáforos cidade afora. Essa miopia de "tá na escola = não tá na rua" é pensamento claro de quem não vê a realidade, não participa dela.
    E sabe quem perde com isso? A Silmara, imediatamente. E todo mundo, se tivermos uma visão um pouco mais ampla. Ops, mas visão ampla não combina com miopia, né?

    Abração
    Daniel Rodrigues (não sei se lembrará de mim, mas sou cunhado do seu amigo Claudinho, deficiente, que infelizmente faleceu em 2006. Acompanho seu trabalho há algum tempo, parabéns)

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  2. Ai Soninha, eu ando muito por ai, meu trabalho me leva até uns lugares palpérrimos, e nem é no VAlo Velho, é logo aqui na esquina. Com as aulas supspensas as crianças estão na rua, no meio da rua.
    Fiquei pensando se a escola é mesmo capaz de ser continente aos desejos e a energia delas, criança é movimento, energia, vibração, e a solução da escola? CArteira, giz, lousa e muitos professores entediados!
    Acho que a escola precisa passar por uma reforma profunda, estrutural...
    Sei lá, penso muito na questão da educação, acho que só distribuição de leite não é suficiente para tirar as pessoas desse lugar sem perspectiva!
    Bj

    PAola

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  3. Tirar da rua não tira, mas escola decente é um dos componentes pra quebrar o cíclo de miséria. Talvez não tire a criança da rua, mas evite que os filhos dela venham pra rua na próxima geração.

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  4. Soninha

    Uma sugestão. Que tal não pontuar multas leves como rodízio, e velocidade 10% acima da permitida. Simplesmente multar e ao pagar a multa o cidadão já está sendo punido? tenho 4 multas do ano passado. 3 de rodízio as 7:20 da manha,7:45 e 5:30...as três porque me atrasei por causa do transito. moro no centro e trabalho na zona sul perto de interlagos.a ultima multa levei pois um radar móvel me pegou a 70 por hora num local que era 60. quase perdi minha carteira de motorista e por isso ja teria que dar uma bela grana para fazer escolinha e etc. Vc n concorda que pagar a multa já é punição suficiente? deixem para pontuar multas graves!crimes! o Detran está sobrecarregado é o que dizem...também com esse sistema burro com o unico intuito de ganhar dinheiro!...grata

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