quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Corrigindo o erro errado - post recuperado

(Publicado originalmente aqui - 13/11/2008)

Corrigindo o erro errado - 1 É uma das tragédias brasileiras: pagam os justos pelos pecadores. (E esta não é a última vez que uma palavra ligada à religião vai aparecer neste texto).

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Aqui tem muito pilantra? Ô, se tem. E muitos se dão bem. Mas quem quiser fazer as coisas direito tá ferrado. Há exemplos às pencas. Por causa dos farsantes e da desconfiança generalizada, aqui a gente tem de fazer cópia autenticada – pagar para alguém do cartório carimbar a cópia jurando (por deus?) que ela é idêntica ao original. Tem de reconhecer firma, isto é, pagar alguém do cartório para conferir a minha assinatura no documento com a minha assinatura no arquivo para atestar que sim, fui eu mesma que assinei a minha assinatura. Tem de apresentar original da certidão de nascimento. Tempos atrás, chamaram os pobres dos velhinhos para recadastramento do INSS – por causa dos fantasmas e fraudadores de várias espécies, os vivos tiveram de provar que estavam vivos. E lá foram os idosos para a fila, longas filas.

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Compra-se voto no Brasil? Compra-se. Com cesta básica, saco de cimento, dinheiro, cheque, emprego ou promessa de. Aliás, com promessa de tudo quanto é tipo (já contei de uma mulher que, durante a última campanha eleitoral, me disse: “Voto em você se você prometer eutanásia”? O que ela quer é alguém que garanta que ela não vai viver presa a uma máquina. Se eu prometesse, era voto ganho). Coisa comum em campanha é um candidato “contratar” uma liderança comunitária. Por que as aspas? Porque ele não é pago para trabalhar um x número de horas, ao longo de não sei quantos dias, fazendo campanha – distribuindo folhetos, conversando, promovendo encontros, divulgando o nome, número e as propostas do candidato. Ele é pago por produtividade – pelo número de votos que ele for capaz de assegurar. “Eu tenho cinco mil votos, meu serviço custa quinze mil reais”. Freqüentemente esses recursos são “não-contabilizados”. Caixa 2, na nomenclatura antiga. Entra e sai em dinheiro vivo, sem depósito em conta, sem recibo. E tornam uma disputa totalmente desleal.

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Enquanto isso... Quem quer fazer tudo no “Caixa 1” passa por vários perrengues. 1) Captar recursos licitamente. Muita gente não quer contribuir para campanha eleitoral nenhuma. Outros até querem, mas pedem pelo amor de deus para não aparecer. Se você não topar receber “por fora”, eles desistem da doação. Por que? Porque tem uma demonização das empresas doadoras e de quem recebe as doações delas. O candidato é catalogado, pela mídia e alguns de seus adversários, na pasta dos “vendidos”. “Hm, recebeu doação de banco... De empreiteiras...Já vi tudo”. Lá vamos nós outra vez... Tem gente que subordina seu mandato aos interesses dos patrocinadores? Siiiim. Isso significa que todo mundo faz isso? Nãããão. Vou “complicar” ainda mais as coisas (na verdade, estou falando só da realidade, não dos contos de fadas, em que há bons e malvados e nada mais). Uma pessoa pode receber patrocínio de determinado setor, categoria etc. e legitimamente representá-lo no Congresso, oras. “Estou aqui para prestar atenção especial aos direitos dos profissionais da Saúde”. “Estou representando as micro e pequenas empresas”. O que não pode é violentar o interesse coletivo em nome dessa representação... Deturpar fatos, subornar agentes públicos, distribuir agradinhos financiados pelo setor representado... Pegando como exemplo uma categoria com a qual eu não me identifico nem um pouco: a chamada “bancada da bala”. Se alguns parlamentares defendem que o comércio de armas continue legalizado no Brasil porque acreditam que é assim que deve ser, porque é melhor para a sociedade, ok. Se a Taurus patrocina suas campanhas, é compreensível. Mas se eles ajudam a ocultar ou distorcer os números de crimes cometidos com armas “legais”, se incentivam as pessoas a usar armas ao arrepio da própria lei em nome da “defesa pessoal”, se apelam, com golpes baixos, ao medo da população para favorecer os negócios da empresa, aí é péssimo. Se participam de esquemas de desvio de armas, dizer o quê? Ou seja: até mesmo na lista de parlamentares patrocinados pela indústria de armamentos pode haver os que se conduzem digna e honestamente e os pilantras. (...) Escrito por Soninha às 19h48 [(4) Vários Comentários] [envie esta mensagem] [link]

Corrigindo o erro errado - 2 Vamos ao outro ponto: os laços de família. Tem gente que contrata filho, irmão, sogra, cunhado, avô, primo só para poder pegar para si os vencimentos de todos eles? Todos juntos no refrão: “Ô, se tem”. Mas por isso devemos considerar todos os parentes contratados como aproveitadores, incapazes, funcionários-fantasmas? Não, pelo amor de deus! No entanto, criamos esse novo estigma: É parente de político? Trabalha com ele, ou próximo a ele? Sei, sei... Ser parente virou defeito moral grave. Era só o que faltava.

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Quando eu trabalhava na MTV, uma estagiária – estudante de faculdade de comunicações, como precisava ser – foi muito bem e eu, que na época era coordenadora de produção, recomendei que ela fosse contratada (havia uma vaga em aberto). Encaminhamos todos os papéis para o RH, que se manifestou contrário à contratação. Por que? Pelo sobrenome, identificaram que um primo dela trabalhava na redação, e a Abril não permitia a contratação de parentes. É, a ABRIL. Aquela que passou de pai para filhos, e destes para os netos... Tenham dó!

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Assim, a pessoa qualificada, capaz, esforçada, competente, passa a ser vetada no serviço público por ter laços de parentesco com um político. Mas a pilantragem não se abala... Se quiser ter um funcionário-fantasma de modo usar seu pagamento para fazer caixa de campanha, arruma qualquer um que não seja parente e pronto. Escrito por Soninha às 19h45 [(3) Vários Comentários] [envie esta mensagem] [link] Corrigindo o erro errado - 3 E agora temos um novo “crime”, um novo estigma: mudar de partido. Somos os “infiéis”. À fogueira conosco!

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Há quem mude de partido de modo a obter vantagens pessoais – financeiras, etc.? Everybody now: “Ô, SE TEM”. Então toda mudança de partido é movida a interesses escusos? Claro que não!

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Hoje, no Bom Dia Brasil, Alexandre Garcia adotou seu tradicional tom crítico-debochado, para celebrar a decisão de ontem do Supremo, confirmando posicionamento anterior: “Os infiéis serão punidos. Quem trocar de partido vai perder o mandato”. Esperou providências rápidas do Congresso. E comemorou: “Essa decisão fortalece os partidos”. Arrã...

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Uma repórter corrigiu um pouco a informação dele (porque não, não é automático: “trocou de partido, perdeu o mandato”). Ela lembrou que os casos de perda de mandato precisam passar por um julgamento – e que, por causa disso, “a CCJ da Câmara vai esperar um pouco antes de agir”, ou algo assim. Mas falou como se isso fosse uma manobra para driblar a decisão do Supremo, uma apelação meio sem-vergonha. NÃO: o próprio Supremo reconhece que há casos de mudanças plenamente justificadas. Que nem toda mudança é movida a fisiologismo. (Como escreveu Dora Kramer: “Mudar de partido pode, deixou bem claro o Tribunal Superior Eleitoral em sentença corroborada pelo Supremo. Quando houver criação, fusão ou incorporação de partidos, se a legenda se desviar de seu programa original ou se o parlamentar for alvo de discriminação grave. Mas não pode pelo motivo fútil de formação de maiorias no Legislativo para servir ao Executivo mediante a troca de votos por cargos e outros benefícios propiciados pelo Orçamento da União”).

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