segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Domingo sem fim

Até as seis da tarde, nenhum acontecimento especial. Desliguei o celular para dedicar atenção total ao último período de prática budista ("prática" é o nome que a gente dá às sessões de meditação) antes de eu voltar para São Paulo. O retiro só terminaria hoje, segunda, mas eu teria muitos compromissos (de aniversário da Lapa e do Dia das Crianças) e não poderia ficar lá.

Às oito e pouco, liguei o celular - que não parava mais de apitar, de tantas mensagens não lidas na caixa postal. Umas quinze. Todas com o mesmo recado: "Incêndio outra vez".

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A Lylian tentou brincar para aliviar a tensão - "O Nero tá solto na Lapa". Só que, ao contrário do princípio de incêndio no Bourbon no sábado à noite, sem gravidade, dessa vez a coisa era feia. A TV mostrava as labaredas. Era fogo na favela, um dos mais difíceis de controlar.

Barracos de madeira, fiação acochambrada, pouquíssimo espaço livre, butijões de gás... O fogo se delicia com tanta alimentação. Os bombeiros chegaram logo, mas o fogo foi muito mais rápido que eles. Por milagre, ninguém se machucou gravemente.
Conseguiram logo tirar as crianças, afastar os butijões e correr pra rua.

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"Foram 200 barracos". "100". "250". "Uns 400". Escolha sua informação... É tudo estimado, tudo muito impreciso. Não sobram alicerces para serem contados. Não tem rua, não tem número.

"A prefeitura pretendia remover essa favela daí?". Oh yes, não tenham dúvida. Aquilo não é jeito de viver.

"Até o fim do ano?". Quem dera!

A população total de favelas do Jaguaré era, até algum tempo atrás, de 4 mil famílias. Um conjunto habitacional como o que foi inaugurado há pouco tempo recebe, com algum conforto, menos de trezentas famílias (se for com nenhum conforto, cabe muito mais, mas de novo isso não é jeito... Chega de prédio modelo pombal, pelamordedeus). Ou seja, você precisa de muitos empreendimentos para dar conta de todo o déficit (mesmo considerando que uma boa parte da favela não precisa de remoção, e sim de requalificação). Precisa de muitas áreas, muitos recursos, muito tempo - não se fazem prédios da noite para o dia.

"Então para onde vão as pessoas?"
Boa pergunta.
Um pernoite é algo que a gente tenta resolver de alguma maneira, mas para onde elas vão DEPOIS?
É com isso que estamos lidando agora (segunda-feira, 20:00).
E com o que vamos lidar nos próximos dias, semanas...

Oh god. Déficit de moradia é uma das coisas mais complicadas com que lidar no Brasil. E não é só construir, não é só ter terreno, não é só oferecer crédito, baratear o material de construção, arrumar abrigo... É uma combinação de muitas coisas diferentes, difíceis a médio prazo (senão algum governante milagroso já teria acabado com as favelas em algum lugar do país), megadifíceis da noite para o dia.

Longa noite, longo dia...

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Amanhã conto mais algumas coisas. Sobre a solidariedade e o oportunismo. Sobre o que funciona muito bem e o que precisa ser reformulado. Sobre os personagens curiosos das favelas de São Paulo.

(Hoje choveu a cântaros aqui. O mesmo milagre que poupou todas as vidas fez com que a noite ontem fosse enluarada).

14 comentários:

  1. Parabéns, dona Soninha. Após o rescaldo, vamos remover o lixo (humano) que mora nessas favelas e evitar novas ocupações. O terreno deve valer uma boa grana, logo, as coisas fecham, não? Quanto a onde eles vão morar, é problema deles... O mercado ajustará isso, né? Graças a Deus, vc saiu do PT (graças ao qual conseguiu seus votinhos)e está junto de quem a merece: Freire, Ka$$ab e $erra, caras de profunda sensibilidade social, como a sua. Pra uma DJ da MTV tá é muito bom...

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  3. Não é "lamentável" nem é "história" não, Fernando G. Na verdade, é terrível e é tragédia o nome da coisa (lamantável é quando é com os outros...). A História se repete? A favela do DER, na Av. Roberto Marinho/Aguas Espraiadas, sofreu 3 incêndios, antes de ser "erradicada" pelos socialistas do $erra/Ka$$ab. Também, favela na Berrini, em frente à Globo: assim não dá, assim não pode... Essas coisas não passam na MTV, cara: daria um curto nos (poucos) neurônios dos aficcionados e nos apresentadores.

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  5. Olha Soninha. Com todo respeito, quando o assunto não é banana por quilo, lei antifumo e Cidade Limpa(????) as digníssimas autoridades de São Paulo simplesmente desaparecem. Por isso, a fúria de alguns.

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  6. Sr. Rubens, acione o PT e o coronel Lula para liberar verbas para o povão da favela incendiada. Não precisa ser toda aquela dinheirama que o MST está acostumado a receber viu ?!

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  7. Maria do Carmo se você não fosse tão néscia e reaça veria que o problema das favelas PAULISTANAS poderiam ser resolvidos caso não houvesse a bandalheira e a corrupção BILIONÁRIA que se instalou em órgãos como a CDHU, responsável pela construção de moradias populares no ESTADO DE SÃO PAULO e que foi sucateado e transformado em antro de corruptos pelos amigos da subprefeitinha carguista demo-tucana...a quantia bilionária desviada da CDHU pelos governos Covas-Alckmin-Serra já supera a cifra dos BILHÕES, dinheiro mais do que suficiente para construir moradia popular DECENTE para os milhares de favelados paulistanos...mas esperar de gente sem caráter como você, que até nisso quer meter o Lula e o MST, somente podemos esperar mais 04 anos desse governo paulista cleptomaníaco, o qual é defendido com unhas e dentes pela subprefeitnha demo-tucana carguista e sua troupe de puxa-sacos...bem esperar o que de uma pseudo-budista que se cala e se omite quando a gang que ela apoia joga nas ruas idosos, gestantes e crianças de colo, como foi o caso de Capão Redondo?

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  8. "solidariedade e oportunismo". Está chocante ver isso debaixo do meu nariz, com tanta força e tanto descompasso! Estamos lá... cansados e tentando fazer algo! Beijo

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  9. Fernando G: não se trata de escolha partidária, mas de simples constatação política. Acaso acha vc que o DEM,o representante do atraso social e o porta-voz da elite dominante, que ora ocupa a PMSP (numa triste aliança com o PSDB), tem alguma preocupação social que não seja a manutenção dos privilégios de seus pares? Dinheiro federal para remoção de favelas há, o que faltam são projetos e terrenos a serem disponibilizados, o que é de exclusiva responsabilidade dos governos estaduais e municipais. O que é vergonhoso é que uma prefeitura e um estado ricos como SP precisem sair de pires na mão atrás de verbas! Agora, o triste da coisa é saber que alguém que pertença a um partido dito "socialista" (de exclusiva propriedade do "comunista-conselheiro à distância" Roberto Freire, aquele expert da Emurb e SPTuris) preocupe-se mais com ciclovias do que com os bolsões de miséria e os terríveis problemas sociais que existem em sua área de administração. Quanto aos "indignados cansados-seletivos" que me vem com chavões como "coronel" e "MST" (faltaram os clássicos "petralha" e "LuLLa"...), nem vale a pena responder...

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  13. Maria do Carmo é a nova cara do eleitorado da Soninha. Tem medo do MST e chama o Lula de Coronel. Ela se junta ao outro tipo de eleitores da Soninha: "os mudernos" que acreditam em ciclovias, mtv, serra e saci pererê.

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  14. e ai soninha pra onde vão? Tinha uma ex vereadora em são paulo, homônima sua, ela denunciava o fato de haver vários prédios abandonados no centro de são paulo com iptus atrasados cujos valores já eram maiores do que o valor dos prédios, portanto passíveis de desapropriação. Tente procurar essa ex vereadora, quem sabe ela não fale com o prefeito atual. Sei que a Caixa topa financiar reformas. Mãos à obra

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