Né mole não

Esta semana, "perdi" mais um assessor. Foi um dos colaboradores que vieram comigo desde os tempos do Gabinete; me acompanhou durante todo o mandato. Na Câmara, lidava com questões ligadas à Cultura, movimento LGBT, eventos em geral e população em situação de rua. Na SubLapa, ficou "só" com a Cultura. Desmotivado, sem conseguir se envolver com o trabalho como deveria, pediu para sair.

Não foi o salário de Supervisor que o derrubou (bruto, R$3.751). Foi o cansaço pela falta de condições - financeiras, estruturais. A burocracia, a sensação de "Dia da Marmota", os problemas repetitivos e sem fim, os limites institucionais.

Muitas vezes, em uma Subprefeitura, a gente se sente meio ONG... Porque precisamos sair o tempo todo atrás de apoio, patrocínio, ajuda. Ao mesmo tempo, recebemos dezenas de entidades pedindo apoio, patrocínio, ajuda.

Por mais recursos que tenhamos, sempre vamos precisar de apoios e parcerias. E nunca vamos ser capazes (nem acho que devemos) atender a todas as expectativas dos que nos procuram.

Mas às vezes cansa...

Precisamos desesperadamente arrumar alguém para trabalhar no Centro de Convivência Cecilia Meireles, mas ainda não encontramos um servidor disposto a isso - um trabalho delicioso, que eu mesma adoraria fazer, mas se mandar alguém para lá contra a sua vontade o resultado será um desastre. E há semanas o Supervisor de Cultura sofre com isso.

Queremos organizar mil e um eventos, ocupar os espaços públicos, dinamizar os equipamentos culturais e os outros. Fazemos o maior esforço para divulgar coisas legais que acontecem e nem sempre conseguimos um público razoável... Volta e meia ouvimos que "precisamos dar um gás lá no Tendal que tá meio paradão" - e não está, está super vivo e palpitante, mesmo com todas as deficiências na sua estrutura.

Enquanto uns se matam (concursados ou não, antigos ou novos, bem remunerados ou não), outros se encostam. Para cada um com boa vontade tem ao menos um de má vontade.

Trabalhar na Subprefeitura é um tesão e um inferno. Os problemas são desafiadores e superar qualquer um deles é uma vitória incomparável. Mas conforme o estado emocional, o momento da vida, os objetivos pessoais, o contexto, as pessoas reagem de maneira diferente a essas dificuldades todas. Eu mesma sou meio bipolar - às vezes estou na maior pilha, às vezes totalmente derrubada.

Meu futuro ex-Supervisor de Cultura ficou tão derrubado que passou a bola. Vai dar um tempo, cuidar da vida. Muito dignamente, pediu para sair. Não quer ficar se arrastando em uma função, sem energia para render tudo o que poderia ou deveria. "Não é justo", disse.

É uma pena, um amigo a menos na equipe, mas ainda amigo (claro!). Antes dele, o Assessor Jurídico já tinha pedido para sair - no caso dele, o salário pesou mais... Casado, com responsabilidade enorme, não "guentou" o peso da dedicação necessária para um vencimento de R$3.427,48.

Mas, como diz o poeta, "vamo-que-vamo-que-o-som-não-pode-parar". :o)