(Escrevi ontem à tarde e, distraída, postei no Blog do Diário Oficial... Estúpida)
Na calçada de uma casa, na rua Aimberê, uma mulher empurrava folhinhas na calçada com um esguicho. Com a maior paciência, com a maior naturalidade. Não havia uma vassoura por perto. A água corria e corria, enquanto ela empurrava cada folhinha até o meio fio. Sonhei, mais uma vez, com o dia em que a venda de esguichos será proibida.
Fiquei pensando se minha avó não faria a mesma coisa – afinal, a noção que os mais novos tem da finitude dos recursos naturais é maior do que eles tinham. Mas minha avó tinha lembranças da pobreza (embrulhava os pés em jornal para ir à escola e suportar o fio em Portugal porque não tinha meias) e era muito econômica, então mandava fechar a torneira. Não fosse por outra razão, era por causa da conta d’água. E em Peruibe, onde tínhamos casa de veraneio, volta e meia faltava água, então ela também continha nossas brincadeiras por medo de ficar sem.
Mas o hábito de jogar água fora persiste – como o de jogar lixo na rua. Quando vamos conseguir superar essa fase, ó Senhor?!
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Poucos metros abaixo, para me consolar, o empregado de um edifício varria com muito capricho a calçada, o meio fio e até a sua metade rua. Empilhava as folhas e flores caídas, recolhia com a pá, jogava no cesto de lixo.
Fiquei com vontade de mandar fazer um diploma de honra ao mérito: “PARABÉNS ao funcionário, ao condomínio, a quem quer que seja que tenha tido o cuidado de programar esse serviço! Obrigada! Que sirva de exemplo”.
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No Canal Futura, entrevista com um diretor da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida (que os mais antigos conhecem como a “Ong do Betinho” – eu sou dos “antigos”). “Quantas pessoas passam fome no Brasil hoje?”, perguntou o repórter. “Catorze milhões”. Catorze milhões não tem o que comer propriamente; não tem comida suficiente para fazer as refeições necessárias para sua saúde e bem estar, e sofrem por isso. “E o que o senhor acha dos programas sociais de combate à fome, como o Bolsa Família?”. “Não podemos ser injustos, são medidas importantes de caráter emergencial, mas precisamos de ações estruturantes”.
É exatamente o que eu penso. Se uma família está há anos recebendo o Bolsa Família e passaria fome caso deixasse de receber o benefício, alguma coisa está errada. Continua errada. Porque esse é o caso – não de uma ou duas ou vinte famílias, mas de centenas de milhares. Sem falar nas que fariam jus ao Bolsa mas não estão inscritas no programa.
Na emergência, precisamos repassar recursos para famílias que não consigam se sustentar sozinhas. Mas para sempre? Famílias compostas por adultos e jovens saudáveis e potencialmente capazes de trabalhar? Não pode ser.
Dentro desse sistema, existe ainda uma distorção – de gente que recusa um trabalho com carteira assinada e o escambau porque, com ela, perderia o direito à Bolsa. Não é o caso de todos os beneficiados, mas também não é extremamente raro. Conheci uma localidade em que foram oferecidos à população cursos de capacitação profissional já com vagas asseguradas para quem concluísse o curso. Mas nenhum dos formado aceitou o emprego ao final, a não ser que o empregador concordasse em contratar “por fora”, sem carteira assinada.
É normal que ninguém queira perder nada do que tem. Nem por isso devemos aceitar passivamente tudo que é “normal”.
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Em seguida, no Futura, um documentário sobre a compra de votos no município de Colorado, não sei em que região do Brasil (tem um Colorado no Paraná, mas fiquei com impressão de que estavam falando de algum lugar no norte do país). Que atraía muita gente pro causa do ouro e da madeira, segundo os moradores.
Os candidatos compravam votos de várias maneiras. Entregando metade de uma nota antes da eleição e a segunda metade depois. Com madeira, gasolina, extração de dentes podres e distribuição de dentaduras. Jogos de camisa e bolas de futebol. Alguns oferecem os votos da família toda – e só aumentar o pagamento. Tudo descarado e sem escapatória. Os políticos compram porque os eleitores vendem. Os eleitores vendem porque há quem compre. Porque não tem idéia de o que os políticos realmente deveriam fazer – tem a idéia de que seu papel é ajudar a resolver seus problemas, e não é isso que está acontecendo?
O que é deprimente não é só Colorado ser assim ou ter sido assim vinte ou trinta anos atrás. É viver isso aqui em São Paulo, igualzinho. Compra-se voto a rodo. E quem não quer comprar é visto em alguns lugares como mascarado ou ingênuo – “você vem aqui pedir o voto da gente e não quer dar nada pra nós?”
Soninha, você tem razão sobre a água na calçada, pena existirem momentos em que o cheiro de urina e as fezes dos cães se acumulam tanto na porta que é necessário lavar, pro cheiro não ficar entrando em casa. Devia ser proibido urinar, defecar, escarrar na calçada. Essas pessoas deveriam ser multadas.
ResponderExcluirNo condomínio onde resido, sindica e funcionários ainda não sabem que já foi inventada a vassoura. Tudo é feito na base da mangueira, jorrando água horas a fio. Mesmo depois de grandes chuvas, lá vão os funcionários com a maledeta mangueira "varrer" folhas, poeira e demais detritos das áreas comuns. O tema já foi levado em assembleia, foi acordado que iriam alterar os procedimentos, mas tudo ficou na conversa.
ResponderExcluirEnfim, só com multa e bem pesada, grande parte dos brasileiros vão se colocar na linha e terem respeito pela natureza e suas dádivas.
Tomei coragem para escrever...isso se fosse necessario, nao...
ResponderExcluirCerto Parabens pelo seu trabalho, creio que sua visao ambiental e sua forte arma de conscientizacao, alem de boas ideias, porem ousadas...Gosto de voce - inteligente, bonita, ousada(novamente) e o que aparenta atitude para ser feliz...
Um grande beijo...
Prof.Marcio
marcioedfisica2003@h...