Hoje foi aberta ao público a primeira parte do futuro parque Orlando Villas Bôas.
Nem acredito.
Recapitulando brevemente a história:
Até 2004, funcionava na Leopoldina uma Usina de Compostagem cujo cheiro se sentia de longe. Passar ao lado dela na Marginal Tietê era difícil, imagine morar ali perto. Os vizinhos se mobilizaram para pedir que a usina fosse desativada. Depois de décadas de mobilização, conseguiram.
O Natalini (vereador pelo PSDB) apresentou um Projeto de Lei que previa a transformação daquela área no Parque Orlando Villas Bôas. A família dele é da região, mora na vizinhança até hoje e se dipôs a ceder o seu rico acervo para um Memorial a ser instalado no parque, daí o nome (se bem que a homenagem se justificaria de todo jeito).
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Desativada a Usina, havia (há) alguns obstáculos para a implantação do Parque. 1) Suas próprias instalações, enormes. Cada biodigestor é um tubo de 5 ou 6 metros de diâmetro e uns 50 de comprimento. É preciso desmontar aquilo tudo - e vender como sucata. A licitação está em elaboração. 2) Transferir as centrais de triagem de material reciclável que foram instaladas ali provisoriamente - já foram 3, hoje ainda tem uma.
Não é fácil arrumar um lugar para elas. São necessárias áreas muito grandes (tipo 5 mil m²), instalações também de grande porte (barracão, esteiras, vestiários, refeitório, área para armazenamento etc.), acesso fácil de caminhões (e, dependendo do modo de trabalho da cooperativa, de carroceiros). O ideal é que sejam imóveis da prefeitura, mas nem sempre eles existem ou estão disponíveis. E quando se tenta alugar um na emergência, acrescenta-se a dificuldade adicional de convencer o proprietário a aceitar esse uso. Alguns negam, simplesmente. Outros pedem um valor muito acima do mercado.
Uma das cooperativas que passaram pelo terreno, a ViraLata, chegou depois de ter de abandonar seu endereço em Pinheiros. Ela não é conveniada com a prefeitura e se arranjou por conta própria (acho que eles tem patrocínio da Petrobrás e algum tipo de repasse do governo federal, não lembro bem). Outra, a CooperAção, esteve ali "desde sempre" e agora está em um galpão alugado na Rua Froben, no próprio distrito da Leopoldina. A área prevista para sua instalação definitiva é um terreno em torno qual existe um litígio entre a prefeitura e o atual ocupante. Ele alugou uma área do DER, mas nós entendemos que invadiu área municipal. Intimamos a empresa a desocupar a área; ela afirma que nosso entendimento está equivocado e entrou na Justiça, que lhe concedeu uma liminar. Ou seja: não podíamos ficar esperando a conclusão do processo e lá se foi a Cooperativa para nova instalação provisória.
A Cooperativa que ainda está lá é a Coopervivabem, que já tinha sido desalojada da Rua do Sumidouro. A área em que se encontravam, um antigo incinerador, tinha problemas sérios de contaminação; a editora Abril se dispôs a bancar a remediação e a transformação da área em um Parque - o Vitor Civita. Por isso a Cooperativa acabou indo para a Leopoldina, em mais um arranjo provisório que dura mais do que o desejado.
A área destinada a eles em definitivo é em parte municipal e em parte da União - já foi cedida para a prefeitura com a condição expressa de que seja usada para coleta seletiva. Mas ela precisa de obras volumosas(como a construção dos galpões), e a prefeitura tenta, há anos (acompanho essa história desde que eu era vereadora), conseguir recursos do governo federal destinados a esse fim. Uma hora falta um papel daqui, outra hora falta uma providência de lá... Mas foi firmado um compromisso (junto ao Ministério Público, que obrigou a prefeitura a determinar e cumprir um cronograma de implantação) de que a Cooperativa irá para sua casa própria em no máximo 10 meses - se não sair o recurso federal, a prefeitura vai desembolsar do seu mesmo.
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Enquanto isso...
Ao lado da antiga usina há uma área operacional da Sabesp, quatro vezes maior. Além de instalações administrativas (escritórios, salas de aula) e depósitos, ela funcionava como uma espécie de clube dos funcionários. Tem alamedas arborizadas, um lago, lanchonete, campo de futebol gramado, quadras de tênis, paredão, quadra polisportiva. Funcionários e ex-funcionários da Sabesp comentavam: "Você nunca foi lá? É lindo!".
Mas a Sabesp já havia decidido se desfazer da área. Era um patrimônio dispensável do ponto de vista do estrito cumprimento de sua atividade-fim - e sua venda seria uma fonte importante de recursos. Sim, a Sabesp também tem lá suas dificuldades; entre outras razões porque um empréstimo do BNDES também estava encalacrado. A empresa já havia feito uma avaliação da área e ela seria oferecida no mercado por cerca de 130 milhões de reais.
Na comunidade, na prefeitura e no governo do estado muito gente não se conformava com essa história. O comprador iria manter uma parte da área verde e fazer daquilo um valioso condomínio privado, totalmente fora do alcance da população. Militantes diversos, dentro da administração inclusive, começaram a fazer campanha para que a área fosse desapropriada.
A campanha... deu certo! O governo concordou em fazê-lo. Juntamente com a prefeitura, faria daquela área patrimônio público.
Eu participei da reunião em que isso foi decidido. O governo só não estava muito disposto a um desembolso daquele tamanho e disse que considerava a avaliação superestimada; o presidente da Sabesp ficou preocupado porque contava com aquela receita. Mas as duas partes, junto com a prefeitura, se dispuseram a buscar maneiras de fazer um encontro de contas e viabilizar a operação. (Por exemplo, transferindo para a Sabesp a propriedade de áreas municipais que ela ocupa no centro da cidade).
Mas, acostumada que estou a fiascos diversos, saí feliz da reunião, mas ainda com a minha camiseta "Só acredito vendo".
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E era verdade. Tanto é que hoje a primeira parte do parque já foi aberta ao público, enquanto continuamos trabalhando nas outras etapas.
A área que foi liberada é, naturalmente, a que já estava em melhores condições para isso - onde era a área de lazer dos funcionários. As quadras já estavam prontas. O vestiário precisava de tantas reformas que vai ser construído de novo. Os jardins foram reformulados e agora há um playground (pequeno) e alguns equipamentos de ginástico ao ar livre. A lanchonete que atendia o público interno vai continuar funcionando e agora vai atender todo mundo.
Vários prédios já foram demolidos, para aumentar a área verde e permeável. As outras etapas vão ser implantadas à medida que a Sabesp terminar de desocupar a área. E, quando a área municipal estiver pronta também, tudo aquilo vai ser unificado em um parque só.
Mas já é bem bonito, viu? Pena o barulho da Marginal. Que vai diminuir quando for plantado bambu ao longo da cerca.
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Algumas pessoas chegaram a hesitar brevemente quanto a abertura dessa primeira etapa para o público - "Ainda falta muito para o Parque ficar pronto; a gente vai tomar pau por entregar um pequeno trecho". Eu nunca tive dúvida. "Azar. Deixa darem pau. O que não teria cabimento seria deixar de usar essa área que está quase pronta só porque o resto não está!".
Então ficou resolvido que os portões seriam abertos nestas férias de verão. Até queríamos entregar antes do fim do ano passado, mas não deu.
E vamos tomar pau, é claro. Uma parte do jardim foi plantado agora, com a demolição das edificações. As plantas estão pegando; a terra ainda está fofa e, com a chuva, vira lama. Os bebedouros são os que já estavam lá, mas os banheiros serão, por enquanto, banheiros químicos.
Eu continuo acreditando que é melhor ter uma área assim para caminhar, olhar o lago, ler um livro, fazer exercícios, jogar bola do que não ter área nenhuma. Se a gente pensar na praia, por exemplo - não tem bebedouro, não tem banheiro, a areia gruda no pé... Não é motivo para não usar. Mas quero só ver o que a Folha vai dizer amanhã (aposto um Fusca como vai falar mal).
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Uma confusão com o nome quase amargou a abertura da primeira fase.
Como eu disse, a área municipal, de cerca de 50 mil m², está destinada, por lei, a ser o Parque Orlando Villas Bôas. Depois pintou essa área adicional de 200 mil, que está em fase de desapropriação (mas a Sabesp e a prefeitura tem um acordo que permite que a gente vá tomando posse aos poucos...). No futuro, tudo será um parque só, de 250 mil m².
Mas o fato é que por enquanto são duas áreas vizinhas. Por questões legais (não se pode estender o nome a todo o terreno enquanto ele não estiver realmente unificado), práticas (toda hora, nas reuniões, alguém confundia o Parque Villas Bôas com o Parque Vila Lobos) e simbólicas (para assinalar a conquista desse novo espaço), o nome de trabalho ficou "Parque Leopoldina-Villas Bôas".
Mas a família Villas Bôas, compreensivelmente, ficou apreensiva e decepcionada. "Na minha família não tem nenhuma Leopoldina Villas Bôas", brincou um deles. "E se confundem esse parque com o outro porque os nomes são parecidos, mais uma razão para incorporar (na verdade, manter) o nome Orlando - Orlando Villas Bôas, pronto! Se o sobrenome vier depois do nome do bairro, aos poucos vai sumir... Vai sobrar só o Leopoldina".
Eu acho que eles tem razão. Estava confiante de que no final tudo ia se resolver, mas eles não. "Já tem divulgação, fizeram placa de identificação... Muito chato". De fato, não ia dar tempo de desfazer a placa em cima da hora, nem de refazer toda a divulgação. Mas o Kassab confirmou, lá no evento, que o Parque será Orlando Villas Bôas. Talvez Orlando Villas Bôas - Leopoldina :o).
Cara Subprefeita, que bom que o parque já foi inaugurado, irei pedalar até lá amanhã para conhecer.
ResponderExcluirAliás falando em Pedalar, o que acontecerá com a ponte Ferrea que passa justamente próxima ao Parque algum projeto?
Eu pensei em fazer uma ciclovia utilizando essa ponte ligando o novo parque ao parque toronto
Sei alguns dos problemas que podem ocorrer, mas queria que fosse possivel que alguém tivesse essa conversa com o prefeito, com a secretaria de transportes, de fato não sei, gostaria de ver as possibilidade disso acontecer.
A ponte ferrea é ótima para uma travessia de bicicleta, a subida é bem leve, acredito que a bitola da linha fosse de 1,60m o que daria mais de mais ou menos uns 2,80m de largura o que eu acharia suficiente para uma ciclovia.
Comenta agora a matéria da Folha...
ResponderExcluirQuem deve estar super feliz são os vendedores de filhotes de cães, gatos, aves e tudo mais que for possível.
ResponderExcluirMais um parque para faturarem nas costas dos pobres animais. Nunca foi tão fácil conseguir dim dim sem fazer força alguma!
Parabens
ResponderExcluirSoninha ,
ResponderExcluirParabéns. Carregue por toda sua vida esta grande realização. Moro na região e outro dia pesquisei como era o Parque Villa Lobos ( Um dos mais importantes da cidade). Agradecemos sua dedicação para o início deste importante projeto.