Democracia = respeito

Democracia implica em respeito a opiniões divergentes.
Impressionante como estamos longe disso.

Durante muito tempo, defender o Lula, o PT, o governo exigia coragem. Qualquer tentativa de análise mais justa e racional era recebida como se fosse uma manifestação de fanatismo, cegueira, ignorância ou cumplicidade, sem a menor intenção, por parte dos antipetistas, de ouvir com atenção, analisar, ponderar - e contra-argumentar, se fosse o caso.

Um episódio ficou especialmente marcado para mim: o acidente com o avião da TAM em São Paulo. A responsabilização do governo por aquele desastre foi uma coisa indecente, absurda. Usavam a imagem da Marta comentando o caos aéreo (aquela frase infeliz) justaposta a imagens da explosão, como se não fosse nojento associar uma coisa à outra. Um psicanalista - nunca mais consegui ler qualquer coisa dele com o mesmo respeito - assinou uma coluna na Folha em que dizia "governo assassino".

No Saia Justa, naquela semana, foi um sofrimento tentar defender o óbvio: o caos aéreo, os problemas de infraestrutura, a explosão de demanda sem evolução condizente da oferta etc. não tinham nada a ver com o caso de um avião que, por falha mecânica ou humana, estava acelerando quando devia frear. Fui tratada como débil mental.

O mais bizarro, na época do Saia, é que eu já estava em crise praticamente irreversível com o PT - mas no programa era tratada como petista fundamentalista, que defendia o partido a qualquer custo.

Enfim, saí do PT. Já escrevi quilômetros a respeito da minha saída, já respondi e ainda respondo um milhão de vezes por que (vou buscar uns textos e publicar aqui para facilitar a vida de quem não leu nenhum). O partido deixou de ser aquele com o qual eu me identificava, que me representava. Nunca pensei que eu fosse mudar de partido e demorei muito para tomar a decisão, mas saí quando não tinha a menor dúvida. Me filiei a um partido de oposição ao governo federal e fui tocar minha vida política no outro campo.

Para alguns, é como seu eu tivesse cometido uma traição imperdoável. Como assim, um partido de oposição? Muitos tem sua opinião sobre para onde eu "deveria" ter ido; o PV é um dos favoritos. Alguns acham que o "certo", saindo do PT, seria entrar no PCdoB - nunca no campo adversário. Outros só aceitariam que eu fosse para oposição se fosse para o PSOL.

Opiniões, opiniões, opiniões. Não tenho problema em ouvir e discutir. Faz parte. Imagine a vida política - a vida em sociedade - sem divergências. O que eu não me conformo é com o desrespeito, a intolerância. De quem me achava "ótima" quando eu era do PT, mas me acha "péssima" porque eu deixei de ser. Quem não quer nem saber de discutir - o que implica ouvir, rebater, ouvir de novo... - só de me banir da sua lista de pessoas respeitáveis. É o fim da picada. Coisa de torcida organizada, sem cabimento.  E que me espanta mais ainda quando pessoas que já foram próximas de verdade, amigas até, em uma relação que não tinha nada a ver com a vida política, falam de mim como se estivessem falando de uma pessoa estranha, distante, que elas conhecessem só pela internet. Muito esquisito. Porque aí mistura uma condenação pública, à qual eu preciso estar acostumada, com um julgamento pessoal... e público ao mesmo tempo.

Enfim, é inútil pedir racionalidade onde há paixão, mas nem por isso vou deixar de escrever o que eu sinto (ou seja, também não acho que seja possível ser 100% racional, sem nada de sentimento). Só queria que as pessoas respeitassem a opinião das outras - aquelas que nem se importam tanto com a política e sempre acompanharam tudo meio de longe, meio na orelhada, e poderiam ser menos "fanáticas", ou aquelas que, tendo vivido a política por dentro,  deveriam ser honestas em reconhecer de público que o que conhecem de perto é bem diferente das generalizações para o bem e para o mal que saem no jornal.