sexta-feira, 4 de junho de 2010

Não espere

- Sra Sonia, se o seu gato subiu na árvore, ele vai descer. Ele pode estar assustado com alguma coisa agora, algum outro animal ou pessoa, até mesmo com a sua presença aí debaixo. Mas hoje ou amanhã ele vai descer. A senhora fique tranqüila.


Eu até pedi desculpas quando liguei para 193 (Bombeiros), mas realmente não sabia o que fazer. O rapaz foi muito firme; confiei na palavra dele.

Que o gato sabe sair e voltar, eu já descobri. Outro dia saiu às dez da manhã e voltou depois das oito da noite – passei o dia preocupada com ele. Agora já me acostumei; ele passa um tempo sumido, principalmente de dia, mas volta para dormir em casa.

Só que desta vez já era noite quando ele saiu, e essas saídas costumam ser mais rápidas. Cadê o gato? Resolvi sair na rua chamando por ele – um amigo já prevê que eu vou me tornar “a louca da gato na vizinhança”.

Nem precisei chamar muito; ele estava chamando, do alto da árvore em frente à minha casa. Chorava, chorava, chorava. Olhava pra mim lá de cima e abria cada vez mais a boca, como quem diz: “Você não vai me tirar daqui?”

***
Ficamos os dois chamando um pelo outro. O guarda noturno passou e garantiu: “Cair, ele não cai. Também não pula”.

Um vizinho observou: “Tá muito frio, né?”

Pronto, mais um motivo para eu não querer esperar pelo dia seguinte. Sem falar que os miados iriam enlouquecer a mim e quem mais estivesse por perto.

Acabei entrando em casa para ver se, na minha ausência, ele tomava tento. Mas ele me via pela janela do andar de cima e, em vez de ir pra baixo, ia mais para o alto da copa da árvore, tentando encontrar um atalho pelos ares.

Desci de novo. Ele desceu um pouco também! Empacou na primeira forquilha, a uns 5 metros de altura. Morto de medo, arriscava uns passinhos tronco abaixo, escorregava e voltava. Às vezes parecia que queria pular, mas felizmente não tomava coragem pra isso.

Parei o carro em cima da calçada, subi no teto, mas continuei longe dele. O vizinho apareceu de novo – “pega lá a minha escada [que ele já tinha emprestado para mim] que eu seguro ela para você subir”. A escada de alumínio, bem alta, era leve. Consegui passá-la do terraço onde estava para as mãos dele na calçada, e lá fui eu me empoleirar. De pé no penúltimo degrau, conseguia ficar quase de frente para ele.

Precisei ficar paquerando o gato um tempão. “Vem, Taz, vem”. Ele ameaçou vir, hesitou, eu peguei nele, ele fincou as unhas das patas de trás e acabou voltando. “Vem, Taz, vem”. 


Finalmente ele veio, subiu no meu ombro, delicadamente. Fui descendo com uma mão no gato e outra na escada. Ainda bem que não tenho um pingo de medo de altura – aliás, lembrei dos tempos em que subia em uma escada como aquela para pendurar refletores no teatro da Cultura Inglesa, quando fiz a iluminação de umas peças por lá... #saudade.

***
Entrei em casa e botei o gato no chão. Ele imediatamente se enrolou e adormeceu. “Tadinho, deve estar exausto, estressado”. Foram bem umas duas horas de miados.

Lembrei que talvez eu tivesse deixado o carro aberto. Saí para fechar – Zum! O gato passou correndo pela fresta da porta de casa e foi se esconder debaixo de uma pilha de madeiras no quintal. “Taz”! Ele saiu e ficou em posição de largada, como quem diz: “Vem me pegar”! 


Animadíssimo para brincar de esconde-esconde, como adora fazer comigo e com os cachorros.
Peguei o bicho sem a menor vontade de brincar à meia-noite e meia e fiz uma anotação mental: “Gatos, um bom treinamento para a vida. Não espere deles a menor gratidão”.

3 comentários:

  1. soninha,pretendo postar textos seus no site telescopio.vze.com
    tudo bem????
    abçs
    everi rudinei carrara/araçatuba/sp

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  2. Everi,
    fique à vontade para publicar onde quiser!
    abs,
    Lylian

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