terça-feira, 29 de junho de 2010

"Se eu encontrar um deles na minha frente..."

Há quem diga que o envolvimento das pessoas como a política devia ser como o que existe com o futebol.

Deus nos livre.

Por causa de futebol, de fato se fazem grandes esforços, grandes mobilizações. Consomem-se doses maciças de informação pelo jornal, revistas, internet, rádio e TV. Acompanham-se debates extensos. Fazem-se protestos e outras demonstrações.

Mas é tudo apaixonado, emocional, descambando, muitas vezes, para a violência, verbal ou física. Aí eu dispenso. 

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Na política, aliás, também tem muita paixão e violência, muitas brigas entre torcidas organizadas. Daquelas que já não tem mais nenhuma conexão com o time, o esporte e o gol. O objetivo deixa de ser a vitória em campo, mas a derrota na porrada.

E o pior é que estamos atingindo um nível que há muito não se via, de tão baixo.

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Desde o fim da ditadura militar, não havia tanta liberdade para a difusão de opiniões - até porque a internet permite que milhares de pessoas digam publicamente o que pensam, identificadas ou anônimas. E se as opiniões são qualificadas ou desqualificadas, tanto faz, propagam-se da mesma maneira. Junto com elas, correm "informações" - dados reais ou inventados, manipulados ao gosto de quem os divulga.

A batalha que sempre existiu entre governo e oposição sempre teve escaramuças mais violentas, personagens mais destacados (os Carlos Lacerdas da vida), golpes baixos. Mas com os 80% de aprovação pessoal do Lula e o uso descarado da máquina governamental, a demonização da oposição consegue ser maior do que a vitimou o próprio Lula durante tanto tempo.

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Lula mantém, no poder, o discurso de oposição. Inesquecível aquele seu discurso, depois de SETE Anos como presidente da nação: "O povo está na merda e eu vou tirar o povo da merda".

Quando, presidente? E com que métodos? Com que aliados?

Lula ainda fala como se fosse um pobre operário perseguido pelas elites, um Quixote contra os velhos poderes. Mas Lula está no poder, tem o apoio de poderosos de todas as partes (todo mundo quer tirar uma casquinha de sua popularidade, de Ahmadinejad a Sarcozy), tem entre seus aliados os poderosos de sempre...

E o discurso cola!

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Lula criticava ou condenava FHC com virulência, mas hoje não se admite nenhum discurso de crítica ao Lula. Há quem chame de "golpismo"... Os militares chamavam de "subversão"... São maneiras de desautorizar a oposição. Ou a oposição só pode ser como os governistas aceitarem que ela seja?

Para criticar o presidente, é preciso quase pedir licença, ou desculpas antecipadas. Ou então pagar tributo antes - à sua linda trajetória pessoal (não estou sendo irônica), à projeção internacional, à estabilidade econômica - e só então, com muito cuidado, apontar um problema.

Quem não for assim, quem criticar sem clemência, sem reverência, será considerado um traidor da pátria, entreguista, imperialista, o diabo.

Mas a oposição - ou especialmente o Serra - podem ser ridicularizados à vontade. Insultados, agredidos.
Será que chegaremos ao ponto de proibir charges com o presidente, como muçulmanos fanáticos quiseram fazer com Maomé?? Talvez não precise - quase ninguém critica o presidente. A patrulha surte efeito.

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Eu quero manter o meu direito de criticar o governo e o presidente. E não quero usar as armas de torcida organizada - palavrões, ofensas. Quero discutir, debater. Mas é impossível tentar argumentar com quem prefere logo apelar para adjetivos e acusações.

Acabei de perder tempo trocando emails com uma pessoa que me mandou por email um texto do Nassif - dizendo, como se isento fosse, que tentou avisar que Aécio é que era o melhor candidato para o PSDB, não o Serra - e uma enquete "engraçadinha" do site do Paulo Henrique Amorim sobre o desempenho do Serra na última pesquisa de intenção de voto.

Pra começar, não sei porque alguém se dá ao trabalho de invadir minha caixa de entrada para esculachar o meu candidato a presidente. Eu não fico mandando email para petistas e lulistas - nem com argumentos, muito menos com gozações e baixarias. Por que eles vem gritar no meu ouvido? Escrevo nos meus blogs, não mando spam. Respondo a quem pergunta, falo com quem quer saber o que eu penso.

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No começo da troca de emails, até que se podia falar em argumentos.

Eu disse que a Dilma "se esconde", ele disse que não, que ela "está correndo o Brasil".

Eu disse que "o Brasil continua miserável, injusto, desigual como antes. Melhorou? Ora, vem melhorando faz tempo, até porque a globalização barateou e facilitou o acesso a algumas coisas - mas não à saúde, à educação, aos direitos de cidadania... Não elegemos o Lula para continuar melhorando, mas para promover uma TRANSFORMAÇÃO.  E a transformação não veio".

Ele disse que elegeu Lula "para começarmos a transformação, pois sabíamos que um país que sofreu e sofre como o Brasil, precisará de ao menos uma geração tendo a sorte de viver em três excelentes governos ( 8 Lula, 8 Dilma, 8 de alguém de um novo partido que será melhor do que o PT tem sido ontem e hoje = 24 anos = uma geração de brasileiros) para realmente vivenciarmos e sentirmos as mudanças".

Eu disse que "aqueles que faziam oposição duríssima ao FHC, criticando a política econômica excludente e os lucros recordes dos bancos, apontando a imensa desigualdade e a miséria convivendo com o surgimento de novos milionários, condenando as alianças do governo com as velhas oligarquias do Norte e do Nordeste, protestando contra obras faraônicas superfaturadas e contra a degradação ambiental promovida pelos barões do agronegócio, guardam essas críticas para si mesmos... Ou já acham que isso tudo é normal, é assim mesmo, é assim que se governa, que se mantém o poder... Passando feito um trator sobre o PT no Maranhão, por exemplo, para forçar o apoio ao clã dos Sarney mais uma vez..."

Ele disse "'prefiro' a oligarquia do Sarney do que as paulistas, cariocas, gaúchas e catarinenses, do que as americanas, francesas ou alemãs".

Minha vontade é continuar discutindo, argumentando... Na verdade, continuei discutindo em novo email, mas é inútil. Porque eis a conclusão da sua mensagem:


"Tenho andado pelo Brasil,(...) pelo movimento ambientalista. Tenho visto um novo Brasil que abomina os tucanos paulistas e, alerto, quem deles se aproxima por algum interesse".

["Alerto"... Aproximar-se do governo? Ok. Dos tucanos paulistas? É motivo de abominação. Até porque é por "algum interesse"...]
"Paulistas e paulistanos são motivos de chacota e gozação por causa do acomia e do ex-fhc".

[Então paulistas e paulistanos perderam o direito à preferência política e partidária, caso ela recaia sobre os opositores ao governo federal... E merecem ser discriminados. Quando o Serra diz que há um discurso de norte X sul, ainda tem gente que pergunta: "o que o senhor quer dizer com isso?"] 

"Esses caras precisam ser presos, o acomia e o ex-fhc. Se eu encontrar um deles na minha frente, ali em higienópolis ou nas imediações da pocilga ali da sumaré, não resistirei: vou pregar um ponta pé na bunda mole deles!"

Um pontapé na bunda mole deles.

Esse é o fim do email. 
Pra concluir: veio de um ambientalista, que não me enviou nenhum email comentando o assassinato do Código Florestal proposto por um deputado da base governista. 

7 comentários:

  1. E pensar que você pertenceu a eles até outro dia, hein...e não me venha dizer que eles "mudaram". Você mudou. Pra melhor. Amadureceu.

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  2. Isso me lembra aquela funesta capa da veja, com um pé no traseiro do Lula. Provavelmente, esse sujeito deve ter ficado muito irritado com a Veja. E, no entanto, agora está ele querendo distribuir pés nos traseiros moles dos outros.
    O que mais me irrita é esse maniqueísmo cego. Como se realmente existissem os ímpios; nós e eles; os jacobinos e os girondinos.
    Um dos grandes marcos da era Lula, foi a morte da utopia -- infelizmente. A grande mídia, definitivamente, mostrou sua parcialidade nas informações. Não só nos editoriais, como faz o Estadão -- o que eu acho respeitável, afinal, o editorial é pra isso mesmo --, mas nas matérias, nas edições, nas manchetes. Assim como a imprensa deixou a neutralidade como norte, o PT deixou a ética como norte. A ética foi trocada pelo pragmatismo, e a neutralidade pela opinião. Não existe imprensa imparcial, assim como não existe partido detentor da ética. Existem jornalista que buscam a neutralidade, assim como existem políticos que pautam as suas ações pela ética.
    Na verdade, sempre foi assim, mas agora é que as mascaras caíram.
    É muito triste ver o que o PT anda fazendo para buscar a governabilidade e a reeleição: Sarney, Jucá, Renan etc. para a governabilidade; Michel Temer e a tropa pemedebista para a eleição da Dilma. Fora a sacanagem no Maranhão. Assim como é muito triste ver o que a Folha de São Paulo vem fazendo com a sua reputação. O fomento ao debate -- que deveria ser o principal objetivo da imprensa --, virou fomento à opinião. Pouco debatemos, todos temos um opinião formada sobre tudo.
    Falo do PT, pq é dolorido ver o partido aliado ao que há de pior no PMDB. Assim como é terrível ver essa malfadada escolha do PSDB para o vice do Serra. Ora Francisco Dornelles (o da coerência verbal pró Maluf), ora Kátia Abreu (ruralista e inimiga da preservação ambiental), ora Álvaro Dias, Patrícia Amorim...
    Como disse Tomasi di Lampedusa, no romance "O Leopardo": " É preciso mudar para que tudo continue o mesmo." Essa é a tônica da eleição presidencial. Tirando a Marina Silva, que de certa maneira ressuscita algumas utopias.

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  3. mas, é possível discordar de vc tbém? (sem ironia!!)
    acho meio engraçado que vc diga que não pode criticar o governo. a mídia faz o que dia e noite? chegaram a chamar a Dilma e a Marta de vagabundas. Fizeram ficha falsa... esses são apenas dois pequenos exemplos. é claro que vc pode criticar, mas eu tbém posso vir aqui - acho que vc publica no site, pq quer que as pessoas leiam, se não mandava por e-mail aos seus ""seguidores"" - e dar a minha opinião. msm pq, vc foi uma pessoa que apoiei por bastante tempo, e está envolvida na política.
    vc sabe mto bem que dentro do PT tem pessoas que criticam algumas coisas do governo e algumas posturas do DN, mas vc faz a msm genealização que antes criticava.
    o Brasil ainda não está como a gnt - eu, vc e mais uma galera - quer que esteja, mas - pra mim - está sim mto melhor do que antes. e está mto melhor do que se tivessemos um FHC ou Serra na presidência. As vezes parece que vc acha que o estado de SP está uma maravilha, saúde perfeita, educação, segurança... tudo ótimo. nenhuma crítica?? são quantos anos de PSDB no estado?? o que melhorou, e o que piorou??
    Pra mim, estender pro Brasil o que temos em SP é péssimo. Pra vc não... então divergimos nesse - e em outros - ponto.
    Algumas alianças do PT são realmente de chorar, mas... nada a declarar das alianças do Serra? o segundo vice do Serra é genro do Cacciola, e foi apontado - por uma tucana - como um dos responsáveis por irregularidades na adm do RJ. isso o faz melhor ou pior? não sei, mas confiar piamente não dá, né?
    enfim... críticas a gnt sempre vai fazer e receber, só precisamos saber lidar com elas.
    abçs,
    Pedro

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  4. Sobre e-mails, intenções de voto e falta de compreensão.

    Parabéns pela visão, Soninha.

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  5. soninha, quem te viu, quem te vê

    quanto desapontamento da minha parte

    :-(

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  6. Mas o PPS na Comissão votou a favor das alterações, não? Pelo menos é o que diz o site da Câmara: http://www.camara.gov.br/internet/ordemdodia/integras/786367.htm

    Favoráveis:
    Anselmo de Jesus PT,
    Ernandes Amorim PTB,
    Homero Pereira PR,
    Luis Carlos Heinze PP,
    Moacir Micheletto PMDB,
    Paulo Piau PMDB,
    Valdir Colatto PMDB,
    Reinhold Stephanes PMDB,
    Marcos Montes DEM,
    Duarte Nogueira PSDB,
    Moreira Mendes PPS,
    Cezar Silvestri PPS e
    Aldo Rebelo PCdoB.

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  7. Seus (ex)eleitores devem ter muitos problemas para entender como vc apoia Serra e o DEM se ao mesmo tempo se decepciona com o Lula por não trazer "TRANSFORMAÇÂO".

    Ou a transformação que vc espera passa por serra e dem?

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