quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Desigualdade social no Brasil por Frei Betto

Relatório da ONU (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Pnud), divulgado em julho, aponta o Brasil como o terceiro pior índice de desigualdade no mundo. Quanto à distância entre pobres e ricos, nosso país empata com o Equador e só fica atrás de Bolívia, Haiti, Madagáscar, Camarões, Tailândia e África do Sul. Aqui temos uma das piores distribuições de renda do planeta. Entre os 15 países com maior diferença entre ricos e pobres, 10 se encontram na América Latina e Caribe. Mulheres (que recebem salários menores que os homens), negros e indígenas são os mais afetados pela desigualdade social. No Brasil, apenas 5,1% dos brancos sobrevivem com o equivalente a US$ 30 por mês (cerca de R$ 54) O percentual sobe para 10,6% em relação a índios e negros.


Na América Latina, há menos desigualdade na Costa Rica, Argentina, Venezuela e Uruguai. A ONU aponta como principais causas da disparidade social a falta de acesso à educação, a política fiscal injusta, os baixos salários e a dificuldade de dispor de serviços básicos, como saúde, saneamento e transporte.

É verdade que nos últimos 10 anos o governo brasileiro investiu na redução da miséria. Nem por isso se conseguiu evitar que a desigualdade se propague entre as futuras gerações.

Segundo a ONU, 58% da população brasileira mantém o mesmo perfil social de pobreza entre duas gerações. No Canadá e países escandinavos, esse índice é de 19%.

O que permite a redução da desigualdade é, em especial, o acesso à educação de qualidade. No Brasil, em cada grupo de 100 habitantes, apenas nove possuem diploma universitário.

Basta dizer que, a cada ano, 130 mil jovens, em todo o Brasil, ingressam nos cursos de engenharia.

Sobram 50 mil vagas. E apenas 30 mil chegam a se formar.

Os demais desistem por falta de capacidade para prosseguir os estudos, de recursos para pagar a mensalidade ou necessidade de abandonar o curso para garantir um lugar no mercado de trabalho.

Nas eleições deste ano votarão 135 milhões de brasileiros. Dos quais, 53% não terminaram o ensino fundamental. Que futuro terá este país se a sangria da desescolaridade não for estancada? Há, sim, melhoras em nosso país. Entre 2001 e 2008, a renda dos 10% mais pobres cresceu seis vezes mais rapidamente que a dos 10% mais ricos. A dos ricos cresceu 11,2%; a dos pobres, 72%. No entanto, há 25 anos, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), esse índice não muda: metade da renda total do Brasil está em mãos dos 10% mais ricos do país. E os 50% mais pobres dividem entre si apenas 10% da riqueza nacional.

Para operar uma drástica redução na desigualdade imperante em nosso país é urgente promover a reforma agrária e multiplicar os mecanismos de transferência de renda, como a Previdência Social. Hoje, 81,2 milhões de brasileiros são beneficiados pelo sistema previdenciário, que promove de fato distribuição de renda.

Mais da metade da população do Brasil detém menos de 3% das propriedades rurais.

E apenas 46 mil proprietários são donos de metade das terras. Nossa estrutura fundiária é a mesma desde o Brasil império! E quem dá emprego no campo não é o latifúndio nem o agronegócio, é a agricultura familiar, que ocupa apenas 24% das terras mas emprega 75% dos trabalhadores rurais.

Hoje, os programas de transferência de renda do governo incluindo assistência social, Bolsa Família e aposentadorias representam 20% do total da renda das famílias brasileiras. Em 2008, 18,7 milhões de pessoas viviam com menos de 1/4 do salário mínimo. Se não fossem as políticas de transferência, seriam 40,5 milhões. Isso significa que, nesses últimos anos, o governo Lula tirou da miséria 21,8 milhões de pessoas.

Em 1978, apenas 8,3% das famílias brasileiras recebiam transferência de renda.

Em 2008 eram 58,3%.

É uma falácia dizer que, ao promover transferência de renda, o governo está sustentando vagabundos. O governo sustenta vagabundos quando não pune os corruptos, o nepotismo, as licitações fajutas, a malversação de dinheiro público. Transferir renda aos mais pobres é dever, em especial num país em que o governo irriga o mercado financeiro engordando a fortuna dos especuladores que nada produzem. A questão reside em ensinar a pescar, em vez de dar o peixe.

Entenda-se: encontrar a porta de saída do Bolsa Família.

Todas as pesquisas comprovam que os mais pobres, ao obterem um pouco mais de renda, investem em qualidade de vida, como saúde, educação e moradia. O Brasil é rico, mas não é justo.
 
(Encontrei o artigo acima, publicado originalmente no site do MST, em um site do PT - o que achei curiosíssimo porque, embora tenha duas ou três referências elogiosas ao governo, é muito crítico do que NÃO melhorou nesses anos todos: a desigualdade, o acesso aos direitos básicos de cidadania, a oferta de possibilidade real de as pessoas conseguirem uma existência autônoma digna).

3 comentários:

  1. Realmente, este artigo mostra bem o que vivemos, Frei Betto soube mostrar com dados o que sabemos, através da vivência. Mas Soninha, não vejo como podemos realmente mudar esta desigualdade sem um radicalismo na gestão, radicalismo este, que vejo apenas nos partidos de extrema esquerda, como PSTU e PSOL, mas não vejo no "socialismo" mencionado no nome do PPS e nem no partido de direita PSDB.

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  2. Pois é Soninha. Triste verdade.

    Imagine então como estaríamos se tivessemos outros oito anos de PSDB no poder ao invés de Lula.

    Se achas exagero, basta ver que dos estados da federação, o que continua a cada ano caindo em todos os quesitos sociais é justamente...São Paulo!!

    O próprio texto admite melhoras no Brasil. E seria ingenuidade de qualquer um que se julgue minimamente esclarecido que oito anos tiram 500 de atraso.

    Não sou dos que demonizam a era FHC, mas um pouco de discernimento e boa vontade (algo que parece estar te faltando) mostram uma enorme diferença entre o governo do PSDB e do PT. Temos 16 anos de governo tucano em nosso estado (e infelizmente parece que teremos mais quatro no mínimo) e não me parece que somos exemplo de governabilidade, principalmente nos últimos quatro anos que conseguiram ser pior que todos os outros juntos (vide borrachada em professores, briga de polícias, etc). E é justamente o pior de todos estes governos que você quer que governe todo o Brasil! Inacreditável!

    Vocês são mestres em apontar os erros. Por que não começam com soluções? Ao que consta, teu candidato nem plano de governo apresentou ainda, muito provavelmente porque nem o deve ter - se não for impopular demais para divulgar. Dizer que "podemos mais" e que "devemos manter o que é bom e melhorar o que é ruim", se diz desde que se vota.

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