A ideia é fantástica - lembra muito o conceito de FIB, a Felicidade Interna Bruta que começou no Butão, despertou o interesse do Canadá, da ONU e de alguns brasileiros... Parte do princípio (óbvio, pois não?) de que o PIB é uma medida muito esquisita para se medir se um país vai bem ou vai mal. Ele soma "todos os bens e serviços finais produzidos em uma determinada região". Portanto, se forem produzidas (portanto consumidas, no próprio lugar de origem ou elsewhere) mais armas, remédios para enxaqueca, defensivos agrícolas, produtos descartáveis em geral, vidros blindados para automóveis e próteses para amputados em acidentes, o PIB terá um aumento, e nem por isso a nação é um sucesso. Enfim, o PIB não mede p. nenhuma de qualidade, só quantidade. Sequer leva em conta o tamanho, características e necessidades da população. Uma medida de jerico, diria eu.
Aí tem o PIB per capita, que já melhora as coisas um pouco, porque divide isso aí tudo pela população. O defeito é fácil de perceber - de novo, porque o "isso aí tudo" que é somado não é necessariamente o que a população mais precisa e também porque qualquer média aplicada a humanos é um erro. São Francisco do Conde, na Bahia, tem o maior PIB per capita do país - é um produtor de petróleo com população pequena. E é um lugar infeliz e miserável.
Inventaram, assim, o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano (para ser mais precisa, os economistas Amartya Sen, indiano, e Mahbub ul Haq, paquistanês, o desenvolveram na última década do século XX). A coisa começa a ficar mais interessante. Avalia-se o acesso da população a serviços e benfeitorias básicas e, em tese, quais suas perspectivas e possibilidades segundo um consenso também básico da civilização contemporânea. Hoje, o IDH leva em conta:
- Uma vida longa e saudável: Expectativa de vida ao nascer
- O acesso ao conhecimento: Anos Médios de Estudo e Anos Esperados de Escolaridade
- Um padrão de vida decente: PIB (PPC) per capita
(Vale a pena ler mais sobre a origem e o modo de cálculo do IDH; é muito interessante).
Alguns estudiosos já foram além, considerando que o IDH mede coisas TÃO básicas, fundamentais, elementares - como a taxa de alfabetização de pessoas com 15 ou mais anos de idade (o MÍNIMO que se pode esperar de uma nação moderna é que seu habitante chegue à adolescência sabendo LER) - que acaba sendo um índice complacente, isto é, condições que mal ultrapassam a linha da decência já ganham pontos positivos. Ou porque ainda leva muito em consideração o poder aquisitivo - e, como é fácil constatar no Brasil, as pessoas podem ser capazes de comprar um monte de coisas para si e ainda ter de pular uma fossa a céu aberto para sair de casa.
A FIRJAN, por exemplo, procurou reunir indicadores que reflitam melhor a realidade brasileira no IFDM, "estudo anual do Sistema FIRJAN que acompanha o desenvolvimento de todos os 5.564 municípios brasileiros em três áreas: Emprego & Renda, Educação e Saúde". É muito interessante.
E os butaneses vieram lá com a ideia de FIB (veja também aqui). Que indicadores podemos reunir, que dados mensuráveis podemos ter para quantificar o poeticamente imensurável: a felicidade de uma nação? Evidentemente, cada país deverá buscar os seus indicadores, porque para um butanês a felicidade pode estar associada à possibilidade de se encontrar pessoalmente com seu mestre budista ao menos uma vez por ano (falando sério), e para um brasileiro, felicidade é ver um filho se formando na universidade.
O IRBEM, (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), construído de forma colaborativa pela Rede Nossa São Paulo e objeto de pesquisa anual do IBOPE, é o mais próximo que temos aqui de um FIB. No dia 18, quarta-feira, foi apresentado o resultado mais recente: "Além dos dados relacionados ao bem-estar, a pesquisa Ibope também abordou o índice de confiança da população nas instituições, a satisfação com os serviços públicos e a administração municipal e a percepção sobre a segurança na cidade".
Boa parte do que é medido pelo IRBEM está muito além da responsabilidade ou capacidade de atuação da administração municipal, mas creio que todos os números devam ser levados em conta pelos Três Poderes das Três Esferas - e um prefeito (ou prefeita) precisa saber como vai sua cidade em determinado contexto nacional e mundial e o que pode/deve fazer a respeito.
Por crer nisso também, a Rede Nossa São Paulo convidou os pré-candidatos para comentar o resultado da pesquisa no Sesc Consolação, e isso me incluiu (ufa rs). No próximo post, eu trato do meu comentário.
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