quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Aquela desonestidade básica

Desonestidade, não custa repetir, não é só roubar dinheiro público. Existem muitas maneiras de trapacear, enganar, mentir. Torcer e disorcer a verdade é uma delas.

O "caso Paulo Preto", por exemplo, é... um escândalo. Não o "caso" em si, mas a maneira como ele foi construído.

A revista IstoÉ publicou uma reportagem em que tucanos, inclusive o Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, teriam acusado Paulo Gonçalves, ex-diretor da DERSA, de arrecadar recursos como se fossem para a campanha eleitoral e embolsá-los.

Publicada a matéria, imediatamente Eduardo Jorge mandou uma carta para a revista negando as afirmações atribuídas a ele. A revista NÃO PUBLICOU A CARTA.  Alega que "uma nota reproduzindo os argumentos do dirigente foi veiculada na edição seguinte".

Já aconteceu comigo. Mandei uma carta para um jornal, refutando o que tinham publicado a meu respeito. Em vez de publicarem o que eu escrevi, publicaram uma versão do que escrevi... Ou seja, se recusam a dar a palavra de verdade para o entrevistado.

Depois, com a "deixa" dada pela campanha da candidata do governo, a revista simplesmente requentou a matéria. Fez uma capa que é uma pérola de desonestidade, daquelas para estudo acadêmico.

Durante a semana, perguntaram a Serra sobre "Paulo Preto". Ele disse que não conhecia nenhum Paulo Preto. CLARO! Essa alcunha infeliz surgiu na matéria. Quando disseram "Paulo Gonçalves", ele disse que não o conhecia por esse apelido. Que ele tinha sido diretor da DERSA e que não sabia de nenhum, NENHUM desvio de recursos da campanha.

Isso foi dito inúmeras vezes e chegou a ser publicado, ANTES da capa da Istoé que disse "ele negou conhecer/foi "ameaçado"/admitiu conhecer". E dá-lhe matéria requentada e chula. Só tem declarações em off - sem nome, sobrenome, sem aspas. Cita um email do vice-governador para o governador - Oi? Como foi isso, hackearam?

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A acusação em si não tem nenhuma base. Não há nenhuma queixa, nenhuma reclamação, nenhuma denúncia contra ele.

 SE ele arrecadasse recursos por conta própria, falando em nome da campanha, sem entregá-los à campanha, a campanha seria VÍTIMA!

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Agora começam a vasculhar a vida de Paulo Gonçalves. Descobrem que uma filha trabalha em um escritório de advocacia contratado para defender o governo. Volta e meia fazem essa forçação de barra, como se os grandes escritórios de advocacia não tivessem dezenas ou centenas de advogados, cada um cuidando de casos muito diferentes... É diferente de ser SÓCIO de um escritório de advocacia como o do assessor jurídico da Dilma, onde lobistas faziam reuniões com empresários...

A outra filha trabalha no cerimonial do Palácio do Governo. Ooohhh!! Como o Serra explicou no Jornal Nacional, ele não conhecia e quando conheceu não sabia que ela era filha do Paulo Gonçalves. Ela fala 2 idiomas além do Português e tem formação condizente com a função que desempenha. Não faz lobby, não cobra "taxa de sucesso", não extorque, não recebe propina direta nem como "reparte" ("Caraca, que grana é essa?" - Vinicius Castro), não faz intermediação de negócios escusos.

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Hoje a newsletter do PT reproduz uma nota do "Tijolaço" dizendo que o Serra "mentiu" ao dizer que não conhecia a moça. Por que? Porque foi ele quem assinou a nomeação dela, como consta - dã - em Diário Oficial.

O requinte da desonestidade é alguém que CONHECE a administração pública escrever uma mentira dessas. Uma pessoa totalmente leiga poderia pensar: "De fato, como ele contratou a moça e depois diz que não conhece?". Mas quem está na política SABE que os Chefes de Executivo, a menos que deleguem poderes especialmente por Decreto ou Portaria, precisam assinar nomeações e exonerações que não foram eles que decidiram pessoalmente, apenas para cumprir uma formalidade. Os chefes diretos selecionam os auxiliares mas não tem poder para assinar a nomeação, então os chefes superiores o fazem.

Dizer que o fato de o Serra ter assinado a nomeação prova que ele já conhecia a moça é muito, muito sujo. Mais ainda porque quer comparar as acusações feitas contra Paulo e sua família ao tráfico de influência praticado na Casa Civil, Anac, Correios etc.

O pior é que dá certo. Não só porque as pessoas que não entendem direito de administração pública ficam confusas, mas porque a mídia, que tem o dever de entender melhor (e se informar para informar melhor), dá tratamento parecido a coisas COMPLETAMENTE diferentes.


2 comentários:

  1. É uma pena que o PT tenha descido tão fundo... Não conheço o Serra pessoalmente, mas , assim como a Marina Silva, ele transmite verdade em suas palavras.Pelo menos é o que parece...

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  2. Parabéns Soninha. Como sempre, extremamente afiada. Essa é uma excelente resposta para o caso. E o mais engraçado é o que sempre constatamos: os petistas em vez de serem humildes e admitirem os próprios erros, a própria corrupção, acham que atacando irão anular o seu próprio erro.

    E agora o jornalista Amaury Ribeiro Jr. confessou a quebra de sigilo dos tucanos... a coisa tá ficando feia para o lado do PT mente compulsivamente.

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