sexta-feira, 8 de abril de 2011

Oitava série

Minha filha já chorou bastante. Podia ter sido ela, podiam ter sido as amigas dela.

É difícil falar friamente agora, mas não custa tentar.

Há três coisas importantíssimas para se discutir em relação ao absurdo de ontem, e se não forem retomadas  (nada é novidade) enquanto há comoção, podem ficar em segundo plano outra vez.

1) O elemento mais decisivo: SAÚDE MENTAL. O assassino era psicótico, NENHUMA dúvida em relação a isso. A mãe não pode cuidar dele porque tinha doença mental (tentou se matar, parece). Ele mesmo manifestou sinais de desordem após o 11 de Setembro, dizendo que também tinha vontade de destruir um avião daquele jeito, começou a se interessar por armas e munições...

As questões: 1) Como diagnosticar distúrbios mentais? Por que não fazer uma ampla campanha de conscientização em relação a isso, como se faz com AIDS, dengue, diabetes, câncer de mama, etc? Claro que há dificuldades, mas  elas existem em relação aos outros temas também (como alertar para o risco de contrair AIDS sem fazer terrorismo, sem alimentar preconceitos etc). Com o trabalho cuidadoso de especialistas, investimento em publicidade e divulgação na imprensa, pode-se fazer um alerta que salve vidas e reduza o sofrimento de milhares de pessoas. 2) Uma vez que tenhamos mais atenção e condições de detectar sinais inequívocos ou suspeitas de doença mental, COMO ENCAMINHAR? A rede pública de saúde, deficiente já em outras áreas, é muito defasada em relação às imensas demandas em Saúde Mental. São Paulo já tem dezenas de CAPS, Centros de Atenção Psicossocial . Mas eles não dão nem para o cheiro. A cidade tem uma epidemia de pessoas em sofrimento mental – depressão, estresse, pânico, ansiedade. Sem falar nas “clássicas” psicose, esquizofrenia.

2)ARMAS. Como essa pessoa tinha DUAS? Na verdade, é fácil. Basta querer e ter algum dinheiro, nem é muito. O mercado ilegal/paralelo de armas de fogo tem de tudo, para todos os bolsos. Eu fui a favor da proibição da venda de armas para a população – já bastam as  instituições armadas. “Ah, mas os bandidos tem armas, vai desarmar os cidadãos de bem?”. Salvo exceções muito bem analisadas, SIM. Os cidadãos de bem que tentam usar armas para se defender de bandidos se dão muito mal – bem o sujeito preparado para atirar, pega um cidadão despreparado para se defender, adivinhe. Cidadãos de bem tem as armas roubadas pelos bandidos. Cidadãos que não são bandidos usam armas para ferir ou matar namoradas, ex-namoradas, ex-mulheres, vizinhos, torcedores do outro time, inimigos reais ou imaginados, motoristas no trânsito. Continuo acreditando que limitar drasticamente a comercialização – e, por conseguinte – a produção de armas de fogo nos faria muito mais seguros. Menos armas em circulação, menos riscos para todos. E tenho certeza que é preciso reprimir MAIS o comércio e a posse ilegal de armas.

3) ESCOLAS. Precisam ser ambientes mais protegidos, mais seguros. Precisa ter Ronda Escolar. Precisa, infelizmente, ter câmeras. Precisa ter alarmes. Precisa ter porteiro. Possivelmente nada disso evitaria a tragédia de ontem – como disse uma pessoa na reunião em que eu estava em Brasília, “como a gente previne o absurdo?” – mas no mínimo desencorajaria e diminuiria os riscos de ataques à vida acontecerem (não só de psicóticos).

Que tristeza. Não sei como encerrar o texto. Não tenho mais nada para dizer agora.

2 comentários:

  1. Compreendo que todos estejam abalados com a tragédia do rio, especialmente as pessoas que tem filhos... E que isso provoque reações das mais diversas... mas sei lá... é preciso ir com calma nas proposições para isso nao acabar se virando contra nós no futuro...

    Concordo em parte com o que você coloca no item 1. Mais esclarescimento sobre doenças mentais e mais suporte da sociedade para os doentes certamente melhoraria a qualidade de vida das pessoas e contribuiria para evitar tragedias como essa. Por outro lado, tenho receio de uma excessiva medicalização das pessoas. Hoje, se uma criança está desatenta em sala aula, os professores e pais a encaminha para um psiquiatra e ela sai de la com um diagnostico de deficit de atençao e uma receita de ritalina. Se um psiquiatra resiste ao dignostico e sugere que o jovem nao presta atenção na aula porque a aula é desinteressante, os pais correm em busca de outro medico que lhes de as pilulas magicas. Não é improvavel que uma campanha de impulso pela saude mental acabe provocando a medicalização de novos comportamentos (o que no fundo só prejudica quem é doente de verdade, pois gera sobrecarga nos serviços de atendimento).

    Quanto as armas, acho super legitima a ideia de diminuir a quantidade de armas em circulação. Mas uma coisa que me incomoda é que sempre que uma coisa dessas acontece fala-se da campanha de desarmamento, como se o criminoso tivesse comprado a arma numa loja e feito todo o processo de legalização. Aquela arma especifica veio de algum lugar... Que lugar foi esse? Veio do exterior? Foi produzida no Brasil, enviada ao Paraguai e voltou ao Brasil via contrabando? Ninguem usa esses episodios para realmente discutir o mercado ilegal de armas.

    Quanto as cameras, alarmes, vigilância, etc. Acho que são coisas que só tornariam a escola mais parecida com penitenciarias. E a maioria das escolas já é parecida DEMAIS com penitenciarias. Escola tem de ser o espaço da educação. Problemas que nao podem ser resolvidos por educadores (tráfico de drogas por exemplo), devem ser resolvidos pela policia mas de forma pontual, sem pertubar demasiadamente o universo da escola. Sinceramente, valorizar os profissionais da educação e a convivencia escolar deve impedir muito mais pessoas de apertar o gatilho do que a colocação de cameras e muros altos....

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  2. Você é um gênio Soninha. Impressionante a sua perpicácia. Impressionante!

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