quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Divirtam-se


Hoje é o dia mundial de luta contra a AIDS (ah, vá).

"Precisa de um "Dia Mundial"? O Dia de Luta contra a AIDS não é todo dia??"
A perguntinha que vale para o Dia das Mães, Dia das Mulheres etc já deve ter sido feita por aí.
PRECISA.
Porque nesse Dia a mídia toda fala nisso, os especialistas são ouvidos, as estatísticas são atualizadas, os artistas mandam seu recado, as escolas discutem, os governos precisam prestar contas de suas ações e anunciar outras... E as pessoas sofrem um bombardeio que as recorda do assunto e, deus queira (em minúscula para não invocar o nome d'Ele em vão), cuidam melhor de si mesmas e das pessoas que cruzam seu caminho.

Esse é um Dia especialmente difícil pelo seguinte:
- É pra falar de uma doença, e quem quer falar sobre isso?
- Uma doença cuja principal via de transmissão é a relação sexual desprotegida. Aí já viu, né? Ô assunto delicado, cheio de tabus.
- No começo da epidemia, foi uma doença super estigmatizada: coisa de homossexuais e promíscuos. Até hoje, portanto, tem gente que acha que não tem nada a ver com isso.
- É preciso equilibrar ao mesmo tempo o alerta: "É SÉRIO E NÃO TEM CURA", "QUALQUER UM PODE SER HIV POSITIVO, atenção!" com o RESPEITO a quem já tem o HIV, sem disseminar preconceito ou desespero...
 
Também no começo, não havia muita preocupação quanto a isso não. Era assim: "AIDS MATA!!", com caveiras e cruzes. Depois foi melhorando... Mas às vezes há umas recaídas. Esse cartaz com o sujeito de bunda de fora na cama com um escorpião eu achei de um mau gosto atroz. A bunda dele é bonita, mas ô apelação, ô demonização de quem tem HIV... E o essencial: ALGUÉM vai se proteger melhor porque vai lembrar do escorpião da foto?? #D-U-V-I-D-O.

As "campanhas educativas" seriam muito mais eficazes se criassem um clima. Caramba, os profissionais de publicidade sabem fazer isso muito bem. Com seus roteiros e imagens o cigarro passou a  ser charmoso, sinônimo de aventuras radicais, profundidade intelectual ou charme irresistível. Carro, como cigarro, é sinônimo de charme, sensualidade, atração irresistível, sucesso e realização. Cerveja, um componente indispensável para a felicidade.

Então camisinha tem de ser "cool", cazz*. Botem a cabeça pra funcionar!

Porque criar um clima, um charme, é o que pode fazer com que as pessoas se sintam convictas, corajosas e confiantes o suficiente para dizer: "Sem camisinha, não rola". Não por causa de um slogan, uma imagem chocante, um gráfico esclarecedor, mas porque a percepção vai se transformando, a sensação, a opinião inconsciente.

Para muita gente, dizer isso "só com camisinha" pode ser bem difícil. Mulheres não querem contrariar os maridos, não querem "estragar o clima" ou "perder a oportunidade"... Homens também não querem se expor ao ridículo ("aí, se eu brocho na hora de colocar!"), cortar o barato, perder a chance, perder a "sensibilidade"... Mulheres não querem parecer desconfiadas, homens não querem que elas pensem que eles andaram aprontando por aí...

Não adianta querer que usem só ou simplesmente por medo de ficarem doentes. Na hora H, precisam ter outros valores e sentimentos "incorporados" para que se determinem a fazer sexo seguro.

Camisinha tem de ser sinônimo de "Eu sou mais eu", "Se você é tosco, problema seu", "Sai fora, se não rolar com camisinha eu me viro de outro jeito". Querer camisinha é ser corajosa, forte, decidida, inteligente, segura de si. Não querer é ser trouxa, mané, sei lá que outro conceito pouco atraente pode haver.

Eu sempre quis, desde a MTV, dizer para adolescentes e jovens que há mil maneiras de ter prazer junto com alguém sem ser relação desprotegida. Dizer e, hmm, insinuar, para que eles não tenham dúvida do que estou falando (nem dúvida sobre o que fazer!). É possível (e razoavelmente comum...) ter uma relação "completa" e não ter prazer. É perfeitamente possível se tocar de outras maneiras e se derreter de prazer.

#prontoagoraeudisse. Divirtam-se. Sexo que vira contrariedade ou um problemão dali a alguns dias, nove meses ou o resto da vida é uma m*. É o desperdício de algo que pode ser tão bom, por se transformar em motivo de arrependimento.

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