sexta-feira, 22 de junho de 2012

...Existe um porquê

Quando apresentava o RG, na TV Cultura, uma cena muitas vezes repetida me dava um desânimo brutal: logo no começo do programa, escolhia ao acaso meninos e meninas da plateia, formada principalmente por alunos de escolas públicas, e perguntava o que queriam fazer da vida. Cri...cri...cri... Nada. Não lhes ocorria nenhuma ideia. Um vazio angustiante. Não era uma dúvida diante de várias opções, era a incapacidade de conceber opções.

Eu insistia. “Do que você gosta na escola?”. Nada. “Não precisa ser uma matéria, pode ser alguma coisa no recreio”. Davam de ombros, dizendo silenciosamente “dá na mesma”. “Futebol, skate, não tem nada que você goste?”. Sem muita convicção, para encerrar a conversa, diziam “skate”.

Ficava chocada com a falta de SONHO. Nem o sonho bobo de ser pagodeiro de sucesso ou algum outro tipo de famoso-e-rico.

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A falta de perspectiva é tão fácil de explicar que justifica também a depressão. A escola não é propriamente estimulante. A família não oferece modelos inspiradores: pai e mãe se matam de trabalhar e vivem mal. Já a vizinhança tem modelos de sucesso:  a bandidagem manda, é admirada, desejada, temida, compra o que quer e quem quer. Tem os melhores carros, roupas, celulares, mulheres, aparelhagem de som, joias. Armas. Felizmente, a tentação não chega ao ponto de dizer: “quero ser bandido”. Então não querem nada.

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Ah, sim, vendemos sonhos pra eles. “Vendemos” mesmo. “Se você tiver ESTE CARRO... Não precisa de mais nada na vida. Mas se não tiver...”. É um trouxa, um bocó, praticamente não existe, nunca despertará o desejo das mulheres. E não precisa ter dinheiro agora não - você só começa a pagar em dezembro! E são xxyyyxxxx prestações de apenas xxx,99. O juro tá baixinho, baixinho! Que importa quanto vai custar no total? E se você vai ou não vai ter dinheiro pra “sustentar” o carro, se vai ter emprego no ano que vem?

E a gente ainda espera que as pessoas se preocupem e se preparem para o futuro.

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Já houve momentos na vida em que parecia que eu era incapaz de querer alguma coisa (o nome disso era “depressão”).   Outros em que o que eu queria parecia impossível . Nesses casos, eu me desanimava, resistia ou... desistia. Nem sempre uma saída covarde; às vezes desistir é sábia decisão.

As horas mais felizes são aquelas em que eu tenho certeza do que quero (e o que não quero). Aí pode parecer impossível que eu não ligo. Quer dizer, às vezes ligo - mas não desisto. Desanimo, tenho vontade de voltar pra cama sem prazo para levantar, de jogar a toalha e mudar de planos, mas, com certeza do projeto e do sonho, espero o desânimo passar e persisto.

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Já quis ser professora de Educação Física, modelo e manequim (confesso - fiz até curso de passarela na Central de Modelos, o Max (“Fivelinha”) foi um dos professores). Quis ser atriz - no teatro eu era muito boa, mas nunca passei em um teste de comercial (o que me daria um dinheirinho desesperadoramente necessário). Quis ser diretora, iluminadora, fotógrafa, roteirista, dramaturga. Contra-regra, assistente de direção. Bibliotecônoma.  Pintora. Ongueira, cronista.

Fui professora (ainda me considero!), fiz trabalhos de faculdade por encomenda (#farsante!), recepção em eventos (como Salão do Automóvel), redatora, diretora, apresentadora, colunista, comentarista. Vereadora, Subprefeita, Superintendente de autarquia (Sutaco).

Agora eu quero ser prefeita.

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Sempre quis “mudar o mundo” (nem sei por que coloquei aspas). Acredito que somos capazes de mudar o mundo - claro, o que é “o mundo”? É o que fazemos nele e dele. E podemos fazer “diferente”, podemos fazer a diferença.

Tentei (e, em alguma medida, consegui) fazer diferença em meus empregos e atividades voluntárias - professora, jornalista, “manifestante”, agitadora rsrs. Mas fiquei frustrada, deprimida, com raiva do que não estava a meu alcance e daqueles eleitos para nos representar e resolvi tentar ser vereadora.

Consegui. Sofri pra caramba, principalmente nos dois primeiros anos. Meu partido me desapontava violentamente; não era nada do que propunha (ou do que eu tinha acreditado que propunha). Uma conduta egoísta, incoerente, nociva. Com exceções, claro - que me seguravam no partido. Eu queria ser leal a eles, lutar lá dentro, não abandonar o barco. Mas quando compreendi de fato o que significa “há EXCEÇÕES”, tive de reconhecer que a maioria do partido seguia uma linha da qual eu divergia com a cabeça, o fígado e o coração.

Aprendi horrores. Aprendi coisas boas também rsrs.

Pensei que nunca mais queria disputar eleição nenhuma. Tinha um sonho - disputar a prefeitura um dia. “Sabe quando isso vai acontecer?” (NUNCA).

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Entrei no PPS, feliz com o quanto o partido era azedo consigo mesmo rsrs. O quanto era coerente e escolhia, um sem número de vezes, o caminho mais árduo, mais improvável. Saiu do governo Lula assim que ficou evidente que seu caminho era o da política rasteira que sempre tinha condenado e que a política econômica era a mesma coisa sem ousadia do governo anterior (como se manter a “estabilidade” fosse a única coisa importante do mundo). Partido que expulsou um governador, que avisou seus dois únicos vereadores que eles não teriam legenda para disputar a reeleição.

Partido que aceitou meu domquixotismo, minhas teimas, correr o risco. Que me garantiu poder falar bem e mal das administrações conforme minha opinião, não a conveniência. Que respeitou meus diagnósticos e projetos. Quem tem velhos comunistas tão indignados agora quanto cinquenta anos atrás. Que são doces e gentis, sem amargor apesar das sequelas de tortura. Que condenam o Stalinismo. Que tem nojo de valetudo.

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Em 2008, disputamos a eleição para prefeitura pela primeira vez, fazendo um monte de gente perder dinheiro nas bolsas de apostas ehehe. Não botavam fé. Eu nunca tive um vestígio de dúvida.

Em 2012, parece até que nunca demos mostras da seriedade de nossos planos. Continuam nos tratando como “café-com-leite”. Nas primeiras entrevistas, respondi duzentas vezes “sim, eu vou MESMO ser candidata”. Sem me preocupar com o ceticismo - os fatos confirmariam, ué.

Amanhã, dia 23, (ô coincidência boa), a Convenção Municipal do PPS vai confirmar o que nunca foi motivo de hesitação, debate, controvérsia: a candidatura própria à prefeitura de São Paulo, em coligação com o PMN.

Nós queremos governar a cidade. Queremos ter uma bancada forte para influenciar seus rumos.

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Governar a cidade para que?

Para que seja menos irritante. Mais agradável. Mais saudável. Mais educadora. Menos injusta. Mais inteligente. Menos desigual. Mais respeitosa. Mais verde. Menos violenta. Mais segura. Mais estimulante para quem é honesto, menos promissora para quem não é. Mais acessível. Mais acolhedora, simpática, bonita.

Explicamos profunda e detalhadamente o que pretendemos fazer E COMO - um “detalhe” normalmente deixado de lado nas campanhas eleitorais. Difícil, no nosso caso, é resumir as propostas - mas estou trabalhando nisso, rsrs.

Estou feliz, muito feliz. Nem sempre contente, nem sempre animada (não sou feita de gelatina), mas convicta. Gosto muito do meu partido - seus dirigentes corrigem os rumos com honestidade e coragem e me dão a confiança de que estou no lugar certo (sem dirigentes firmes, obstinados, idealistas, os bons viram exceção outra vez, porque os desviantes triunfam e dominam).  

Aqui estou eu, realizando um sonho de infância (de adolescente e de adulta rs). Fazendo política. Trabalhando no serviço público. Disputando eleição para Chefe do Executivo municipal. Vivendo a cada dia a construção do meu ideal.

“Um belo dia resolvi mudar/ E fazer tudo que eu queria fazer (...) Em tudo que eu faço/existe um por que (...) E fui andando sem pensar em voltar/ e sem ligar pro que me acontecer (...) Um belo dia vou lhe telefonar/ pra lhe dizer que aquele sonho cresceu/ No ar que eu respiro/ Eu sinto prazer/ de ser quem eu sou/de estar onde estou/Agora só falta você”.

Então não falta nada.

Quem foi que disse que isso é maluquice? :)

Até amanhã. "Amanhãs".

9 comentários:

  1. Isso tudo me lembra a última conversa de meus avós, nos estertores da guerra civil espanhola. Toda a família já estava segura em Barcelona, após a fuga de Madrid, quando vovô foi nomeado pelo alto escalão para assumir um cargo de chefia na antiga capital. Antes de deixar todos os 4 filhos e a mulher, atendendo o chamado para a morte, fez um último pedido para sua esposa: “Não me deixe ir”.

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  2. Eta Post porreta! Sucesso neste sonho porque é exatamente desta magia que precisamos nesta terrinha de Santa Cruz. E Sampa de repente é um belo começo.

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  3. SONINHA
    Fico é FELIZ ao Ver UMA JOVEM, BONITA E TALENTOSA Candidata a PREFEITURA da MAIOR CIDADE do PAÍS. PARABÉNS por TODOS " Voce CRIA a ESPERANÇA de AVANÇO na LocoMOTIVA " SERVE de exemplo para os BONS

    recado para os AMIGOS em SÃO PAULO
    " Prefeitura SONINHA FRANCINE Vereador CHIQUINHO PEREIRA " para a LocoMOTIVA de SAMPA promover o AVANÇO do BRASIL

    do RIO o APOIO TOTAL
    obrigado DM

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  4. parabéns minha candidata, essas horas PPS já oficializou sua candidatura, comentando o post...

    a cultura capitalista financeira burguesa não empodera o aluno de escolas públicas a sonhar. culpa do sistema, não do aluno.

    ***

    melhor viver 10 anos com o conforto que o dinheiro pode comprar que ficar sendo esculachado pelo sistema por 60. esse são os valores que essa população formou com as suas vivencias , triste realidade. espirito humano corrompido pelo consumo...

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    nesses valores ele é educado e pior não é educado para entender que usar crédito é prejudicar seu futuro!

    ***

    ***

    #sorte nesse novo desejo

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    sistema político parece ter um algoritmo desequilibrado para resolver necessidades da população mas não vou comentar... cancioneiro popular já alertar que política tem fama de que nunca faz...


    ***

    como sou filiado sou suspeito pra falar algo do partido, mas como todos partidos ele tem seus problemas e virtudes.

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    2008 votei nocê

    2012 espero que ocê ganhe.

    Fico orgulhoso que PPS perceba que população paulistana não aguenta mais bláblablá do PT ou do PSDB e que tem espaço político para ser ocupado em São Paulo, basta inteligencia...

    ***

    realmente mapear um Projeto de administração da cidade de São Paulo não parecer ser algo fácil, espero que o mapeamento dos problemas da cidade tenha sido realizado pelo partido e que os dados estejam atualizados para voê possa apresentar metas quantitativas na solução dos problemas mais urgentes.


    desejo #sorte procê Soninha, sampa tá precisando.


    O governo executivo com alma feminina sempre faz uma gestão mais focada na população e nossa população está precisando....

    #paz
    #sorte

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  5. Inspirador. É o verbo que me acompanhou durnte a leitura deste post.

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  6. Olá Soninha, meu nome é Lucas e tenho 17 anos,algo que me surpreende em meus colegas, principalmente de classe(estou no último ano do ensino médio), é a apatia e a hipocrisia, por que ao mesmo tempo em que criticam os políticos corruptos que constantemente saem na mídia, ele sequer tem título eleitoral e admitem que se houvesse a oportunidade fariam o mesmo que os políticos(um exemplo é desvio de verba),segundo eles por que não se pode ir contra a maré, já que "todos" são corruptos na há remédio se não seguir a grande maioria.Infelizmente esse é o retrato da juventude atual, onde sequer tenta mudar alguma coisa.
    Você com certeza tem o meu voto, gostaria de sugerir(caso você seja eleita) que promova campanhas de conscientização política entre os jovens(e também os adultos).
    Atenciosamente Lucas Portella
    PS: Adorei esse post.
    PS2: Se possível gostaria que você também criasse projetos que beneficiem os animais abandonados.

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    1. Lucas, prefeita ou não, vou fazer tudo o que eu puder para as pessoas acreditarem que DÁ SIM pra fazer as coisas de um jeito diferente (NINGUÉM consegue mandar nas nossas escolhas!) e que a política é uma maneira de MUDAR o mundo, não de deixá-lo como está - desde que as pessoas interessadas em mudar o mundo façam alguma coisa!!! Valeu pelo interesse :o). Se na sua escola houver debates com candidatos, pode me chamar rs.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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