domingo, 19 de agosto de 2012

Jogo de perde-perde


Ao contrário do que costuma acontecer, mais passa o tempo, menos me conformo.

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Passei boa parte dos últimos cinco dias tentando explicar para as pessoas:

1) Qual é a minha opinião sobre o assunto (maconha)
2) É uma opinião. Não plano, projeto, proposta para a prefeitura. Não tem nada a ver com meu programa de governo.

Muitas não tem tempo. Outras tem tempo mas não querem ouvir. Querem nem saber.

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Qual é a opinião? Que seria melhor tirar a maconha das mãos do crime e suas regras (nojentas, cruéis) e trazer para o mundo das pessoas honestas (que tem nome e sobrenome - e não é “Marcola”, “Nem”, “Fernandinho Beira-Mar” - endereço conhecido, CNPJ, pagam imposto, registram os empregados, recebem a visita da Vigilância Sanitária talvez com relutância, mas não com rajada de tiros de metralhadora).

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Mães apavoradas me condenam. Me acham débil mental, louca, irresponsável. Não é nem “maconheira”, é muito pior.

Explico: "Hoje, seu filho pode não fumar maconha, mas ele sabe onde vende. Sabe quem vende: bandido. Armado, violento, arrogante. Maconha é a porta de entrada para o contato com o crime".

"E você quer liberar!! O que já é ruim, vai ficar pior!"

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Os meninos se aproximarem de maconha não é tão mau quanto se aproximar dos bandidos. Maconha os deixa meio tchongos, no máximo. Bandido MATA. Ganha muito dinheiro, tem nenhuma preocupação com o que é certo (a não ser lá de acordo com os códigos deles). Corrompe PM, advogado, promotor, delegado, juiz. Compra silêncio, escraviza comunidade.

Bandido oferece uma boa grana por trabalho sujo. Seduz os meninos com isso - a grana, as armas, o fascínio da maldade.  Do proibido.

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Cerveja é PIOR do que maconha.

Eu não bebo cerveja e pareço um ET na balada. Todo mundo bebendo menos eu.

A Copa do Mundo gerou uma crise internacional (interesses financeiros, claro) porque o Brasil não permite cerveja nos estádios.

Pais de família acham normalíssimo encher a lata no fim-de-semana. Tomar cerveja a tarde toda enquanto olha os filhos à beira da piscina. Fazer um churrasco com os amigos e beber, beber, beber. Mijar e beber. Jogar bola e beber. Beber e, “tá tudo bem”, dirigir. Beber e roncar na frente da TV.

Um vereador que sobe à tribuna para me chamar de “maconheira” paga churrasco e cerveja para seus eleitores numa boa.

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Cerveja é mais do que permitido, é incentivado. Comercial de cerveja é uma pouca vergonha: “Beba e terá a Juliana Paes. Não beba e faça papel de idiota”.

A publicidade de cigarro foi proibida; a de cerveja, não. Imagine o “lobby” - fabricantes, mercado publicitário, mídia... Mesmo odiando o Serra eu era obrigada a reconhecer, muito contrariada, que o representante das elites perversas e poderosos interesses econômicos tinha batido de frente com boa parte deles. Qual era a dele, afinal?

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Eu proibiria publicidade de cerveja na TV. E patrocínio de cerveja à seleção brasileira de futebol. Beber cerveja deve ser bom o suficiente para não precisar de tanto estímulo. Se é tão gostoso, qual a necessidade de associar a esporte, esperteza, virilidade, popularidade e sucesso?

Ainda assim, que bom que o fabricante de cerveja é a AMBEV, não a máfia do Cachoeira. 

Odeio cigarro e ficaria inconformada se alguma das minhas filhas fumasse, mas prefiro mil vezes que seja fabricado pela Souza Cruz e vendido no Sonda. Se o meu amigo Tatau tivesse de se enfiar na Vila Anglo para sustentar seu “vício maldito”, eu teria muito mais medo por ele (e por mim) do que tenho agora por seus pulmões encardidos.

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Enquanto me preparo para mais um dia de compromissos com candidatos a vereador com vergonha de me receber e cansados de tentar explicar (“É ESSA a sua candidata, que quer liberar maconha no bar?”), os jornalistas estão em casa. O autor da manchete está tomando uma no sofá, enrolando um talvez. E se souber que estou reclamando, dirá “Puta otária, quem falou foi ela, não eu. Quem mandou?”.

Eu falo sério porque acredito que estou entre adultos capazes de ouvir com atenção. Otária, fico achando que serão honestos ao passar a conversa adiante. Afinal, não estou entre inimigos ou tentando convencer a direção da Opus Dei. Eles não só entendem o que eu digo como, 90% das vezes, acham que tenho razão. Mas que sou trouxa em dizer - e o papel deles como jornalistas é me expor à sanha de quem não entende ou quer aproveitar a deixa para me f.

Eles lá “cumprindo seu dever”, eu aqui tentando defender honestamente o que acredito. Por eles inclusive. 

Talvez eu perca votos - quem ganha? Serra, Russomano, Haddad ou Chalita. Talvez o Paulinho, muito amigo do uísque. Dificilmente o Giannazi. Será que o cara que me sacaneia pra fazer graça acha que ganhou também?

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Eles tem razão. Eu sou otária msm.  Esperto é quem sabe usar a imprensa a seu favor, para divulgar as mentiras que ela compra sem apurar p. nenhuma.

“Vou fazer dois milhões de moradias e zerar o déficit habitacional em São Paulo”. “Vou fazer 100km de metrô e acabar com o congestionamento antes que você diga IPI zero”. Acho que é por aí.

6 comentários:

  1. Você nāo é uma otária, você fala sério.

    É honesta com todos e com você mesma.

    Você fez um bom trabalho essa semana, demonstrou muito bem sua dignidade diante de todas as tarefas. Conseguiu conservar seu carácter.

    Os meios de comunicaçāo infelizmente nāo sāo paulistanos da sola do pé, sāo empresas privadas. A sociedade permite essa corrida vergonhosa, mais da para perceber pessoas enxergando 360 graus e sabem que é possível uma mudança de postura social.

    O assunto ''maconha'' e muito importante, a descriminalizaçāo tem que ser melhor interpretada pelos brasileiros. Eu agradeço você por discutir esse assunto colocando seu talento de comunicar-se precisamente. Tenho certeza que estamos evoluindo, seu trabalho pela sociedade tem sido muito importante.

    Obrigado pela coragem e determinaçāo.
    Uma boa semana saúde, paz e sabedoria.

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  2. Soninha, um governo limpo interessa mais que sua posição sobre a maconha. Para desfazer a pecha de maconheira, que deve tirar bastantes votos da senhora, basta tratar só de assuntos da cidade. O PPS tem o potencial de fazer governos limpos e a senhora tem que manifestar isso em cada oportunidade para ganhar votos.
    Gostei do post sobre as creches.
    Fernando Correia

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  3. Soninha, venha conhecer meu blog:
    http://brasilintegral.blogspot.com.br/?view=magazine
    Fernando

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  4. Soninha, por favor, não entre mais nesse assunto da maconha. Isto prejudica você toda vez que se candidata a alguma coisa. O brasileiro não tem nível cultura e social para até mesmo debater este assunto. Alguém na sua assessoria já devia ter dito que você deve abandonar esta bandeira! Creio que você ainda está muito inexperiente para a prefeitura de uma das maiores cidades do mundo.

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  5. Discordo do rapaz acima. Acho que é função social dos políticos disseminar o conhecimento e tentar mudar a cabeça da população (sem manipulação, mas com injeção de idéias e informações).
    Soninha, você foi à minha faculdade e apesar de estar cansada da campanha, perdurou para se expor a um publico pequeno, mas critico. Ganhou meu voto e meu apoio por ser uma candidata humana, uma cidadã, e nao um ser superior e intangível como a maioria dos candidatos que brigam para ganhar. Parabéns por mostrar suas idéias! E nao pare de fazer isso, pois estará entrando na gordura demagógica da onde os outros nao conseguem mais sair. Parabéns e bom trabalho!

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  6. Por favor, leia: http://meninodepixels.blogspot.com.br/2012/07/a-questao-da-legalizacao-da-maconha.html

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