sábado, 27 de outubro de 2012

Homossexualidade: "Um limite que precisa ser superado"?

"Olá Soninha e equipe.

Chamo-me Rafael e moro na cidade de São Paulo.

Sempre que você se candidata, procuro votar em você, por acreditar em uma forma de governo diferente, mais humano e verdadeiro.

Uma característica que me chama atenção sobre você Soninha é a sua forma simples e verdadeira de ser e se expressar. O seu modo de sustentável de se trabalhar é admirável. Quando você fala sua opinião sobre assuntos polêmicos sem ter medo das criticas alheias sempre me fez acreditar mais em você e em uma politica limpa.

De coração, a sua pessoa é a única (o) candidata(o) que eu tenho que fé no estado de São Paulo.

Porém sempre ouvi de outras pessoas que o seu trabalho era ganhar votos para o José Serra. Mas nunca dei muito bola para isso.

Me surpreendi muito quando você apoiou o Serra agora. Não por ser ele, e sim por apoiar um candidato que criticou de forma covarde e baixa o Kit Contra a homofobia nas escolas. Dando uma gigantesca brecha para a intolerância em nossa sociedade. Intolerância essa que eu já sofri, principalmente na minha adolescência.

Confesso que tenho um grande receio que o Serra ganhe, não que com o Haddad será muito diferente, mas ao menos não seria o candidato Serra que além de “incitar a intolerância”também tem o apoio do Malafaia o inimigo numero 1 das pessoas LGBT.

Gostaria de ter uma posição sua sobre isso, pois não gostaria de perder as esperanças em você Soninha.

Abraços
Rafael"

****
Rafael,

Obrigada por me dar uma chance :o)

Vou direto ao ponto: o "kit contra homofobia".

Eu não cheguei a ver o kit e talvez ele tivesse um ou outro problema. Era só corrigir esses problemas, oras. Eu sempre fui e continuo sendo a favor do kit.

Além de punir os crimes motivados por homofobia, que ainda não foram tipificados mas já podem ser penalizados pela violência em si, devemos criar cada vez mais condições para EVITAR que essa violência aconteça. E a melhor maneira é EDUCAÇÃO. Educação para o fim do preconceito, para o respeito e tolerância à diversidade.

Educação se dá na sociedade de um modo geral, a partir das próprias decisões do poder público. As posturas de um governo educam (ou deseducam). Também se dá nos meios de comunicação e na escola, claro.

Para lidar com temas delicados como homossexualidade, os professores precisam de bom material de suporte, capacitação, orientação. Por isso um kit.

Mas o que aconteceu?

Setores conservadores (ou precipitados) condenaram o kit. Disseram que o conteúdo era absurdo e que as crianças seriam influenciadas por ele.
Um monte de absurdos. O material não era voltado para crianças e sim adolescentes - se não pudermos falar de sexualidade com eles na escola, então quem falará, e onde? E as pessoas não são homossexuais por "influência".

Como reagiu o Ministério da Educação, o que fez a presidência? Recolheram o kit! Em vez de defendê-lo e corrigir se fosse o caso, retiraram de circulação.

A Dilma deu uma declaração lastimável: "O governo não tem de fazer propaganda de opção sexual".

"Propaganda!" "Opção!".

Ouvi dizer que o Serra também falou alguma bobagem sobre o kit; teria usado (eu não vi) a palavra "doutrinação". Se ele falou, eu discordo.
Mas independentemente de uma opinião equivocada sobre o kit, o que faz toda a diferença é a CONDUTA do Serra. Porque mesmo tendo apoiadores como o Malafaia, com quem não concordo 95% do tempo; mesmo tendo a simpatia de outros públicos conservadores, o Serra faz o que precisa ser feito. Desagrada os conservadores se for o caso, em defesa dos direitos da população.

Foi assim quando ele era Ministro da Saúde e ampliou muito o combate à Aids com recursos públicos. A igreja católica era contra campanhas de sexo seguro; contra a distribuição de camisinhas. Diziam que era incentivo à promiscuidade. Alguns eram contra o atendimento a soropositivos no sistema de saúde pública.

O Serra deixou reclamarem e fez o que precisava ser feito, tratando o assunto com responsabilidade, respeito à igualdade de direitos e preocupação com o bem da coletividade.

Já na prefeitura, o Serra criou a Coordenadoria da Diversidade Sexual (CADS). Um órgão público totalmente dedicado às questões LGBT. E fez muito mais - aliás, o Alckmin também, apesar de ser muito mais ligado a setores conservadores (e, em muitos aspectos, menos "briguento" que o Serra).
Algumas outras ações dos governos municipal e estadual (não estão em ordem cronológica nem de importância).

- Em 2005 foi criado o Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual;

- Os 5 Centros de Cidadania da Mulher criados pela prefeitura, que prestam assistência jurídica a mulheres vítimas de violência, foram preparados para lidar com as especificidades das mulheres lésbicas;

- Há um Centro de Referência em Direitos Humanos de Prvenção e Combate à Homofobia no Páteo do Colégio, onde funciona a Comissão Municipal de Direitos Humanos;

- Um Decreto Municipal garantiu que as travestis e transexuais sejam atendidas, no serviço público, por seus nomes sociais.

- O governo estadual tem a Decradi - Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, responsável pela prisão de integrantes de grupos que agrediram homossexuais. Ela faz parte da Rede Paulista de Proteção ao Cidadão LGBT.

- A Secretaria Estadual da Justiça e Direitos das Cidadania é responsável pela aplicação da Lei 10.948/01, que proíbe e pune toda e qualquer discriminação contra o cidadão LGBT.

- São Paulo tem um Centro de Referência da Diversidade para atendimento psico-social para homens e mulheres profissionais do sexo e travestis/transexuais em situação de vulnerabilidade.

E isso não é tudo, é só um resumo!

Então, Rafael, eu tenho certeza do seguinte: ainda que, em alguns temas, o Serra seja mais "conservador" do que eu (como na questão da legalização do comércio do maconha - até o Fernando Henrique é a favor, ehehe, mas ele é contra), ele não é "reacionário" como alguns acusam. E, mesmo sendo conservador, ele toma medidas bastante "progressistas", quase revolucionárias. Criar tantos órgãos públicos que defendem a diversidade sexual em uma cidade "proto-fascista", como diz a Marilena Chauí, só pode ser atitude corajosa...

(Eu coloco "progressista" assim, entre aspas, porque eu mesma não tomo decisões pensando se elas são consideradas conservadoras ou progressistas; penso no que eu acho que é melhor para a sociedade. E não concordo que São Paulo seja "proto-fascista", embora o Maluf tenha tantos eleitores ainda por aqui).

E não, eu não trabalho "só para ganhar votos para o Serra". Quando eu sou candidata, trabalho para ganhar todos os votos do mundo pra mim. Mas quando eu não sou candidata, trabalho muito pelo meu candidato... Sempre foi assim. E agora eu não estou lá disputando, mas ele está, e eu não tenho dúvida que prefiro ele ao Haddad - INCLUSIVE nas pautas LGBT.

(Ou vai me dizer que ao lado do Haddad não tem gente conservadora ou reacionária? O Maluf é o que? O Bolsonaro é do partido do Maluf, toc-toc-toc!)

***
Veja algumas opiniões da Canção Nova, a comunidade católica do Gabriel Chalita, sobre homossexualidade:

Palavras a um jovem homossexual
As pessoas homossexuais são chamadas à castidade

Os homossexuais são nossos irmãos
A prática do homossexualismo e do lesbianismo são desordens no plano de Deus. A tendência de procurar a pessoa do mesmo sexo tem raízes que a própria ciência ainda não compreende bem as causas, além das razões de ordem educacional.Não há nenhuma comprovação médica de que o homossexualismo seja fruto de uma disfunção glandular. Há fortes evidências de que ninguém nasce com a tendência ao homossexualismo, mas que este desequilíbrio se desenvolve na criança ou no jovem por problemas familiares (separações, brigas, etc.), obsessão da mãe pelo filho, desinteresse e grosseria do pai, forte insegurança, experiência sexual fracassada ou traumática na adolescência, educação sexual mal conduzida, e muitas outras causas não bem conhecidas.

Qual a diferença entre homossexualismo e homossexualidade?
Padre Joãozinho: É fundamental essa distinção, porque a homossexualidade é uma característica pessoal, da qual nós ainda não conhecemos bem todas as causas. Nem a psicologia nem a medicina a conhecem. Há muitos pesquisadores sérios que tentam entender se essa causa é comportamental ou de algum fator genético, inato, mas não existe nenhuma indicação científica quanto a isso. Homossexualidade é um sentir. O homossexualismo, no entanto, é a prática da homossexualidade, ou seja, é ter atos genitais com pessoas do mesmo sexo.Eu defino o homossexual não como aquele que sofre atração sexual por uma pessoa do mesmo sexo, mas que é incapaz de manter uma relação genital satisfatória com pessoas do sexo oposto. Essa definição contrária, inversa, vai se mostrar interessante para trabalhar a homossexualidade do ponto de vista terapêutico. Portanto, para mim, não é opção, orientação, nem distúrbio; nada. É um limite que precisa ser superado.

E como eu disse, o Serra já demonstrou que desafia os aliados conservadores; o Haddad, ao contrário, demonstra que recua, cede, abandona a luta).

2 comentários:

  1. Nem Serra e nem Haddad tem peito para dizer que é muito adequado publicar na Educação, na Saúde, no Social qualquer cartilha educativa de respeito.
    Infelizmente são dois conservadores do pior tipo que conseguiram encontrar apoios de personalidades mais descoladas - como a Soninha - para garantir um punhado de votos.
    Não tente fazer parecer que o público homossexual simpatiza com o Serra, porque não funciona.

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    1. Fabio, o "público homossexual" é composto por milhares de pessoas diferentes. Muitas reconhecem o que ele fez como prefeito e governador, como a criação da CADS. E como Ministro da Saúde, quando peitou a igreja católica e outros setores conservadores para desenvolver políticas públicas para esse público

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