sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Que exagero

... isto aqui:

Estupidez será o legado de Transportes do Governo do Estado de São Paulo. 
(Do Blog da Mobilidade Sustentável)

>>> Motivos para críticas? Opa, sempre há. Mas as do post... Nem tanto. Comentários no texto:


Ontem, o governador do Estado de São Paulo, Sr. Geraldo Alckmin lançou um projeto estimado em R$ 80 milhões voltado para construção de um deck no rio Pinheiros e uma "ciclopassarela" de 500 metros que ligará o parque Villa Lobos até a USP.

Qual a prioridade de um projeto que liga um parque e uma ciclovia de lazer até a USP? Enquanto a cidade não tem nenhuma infraestrutura para bicicletas.

>>>> Bom, a cidade "não tem nenhuma infraestrutura para bicicletas" e aí quando alguém vai criar uma, não é "prioridade"? A passarela é de lazer, apenas? Ou servirá para encurtar e tornar mais segura a travessia da Marginal e do Rio Pinheiros, facilitando para as centenas de pessoas (trabalhadores, estudantes) que já pedalam por ali e incentivando sabe-se lá quantas mais a fazer o mesmo? Pode-se discutir se os dois pontos de "entrada" escolhidos são mesmo os melhores, mas É CLARO que tem de ter travessia para bicicletas (e, espero, pedestres incluídos) sobre aquela e todas as outras vias expressas. Meu projeto de governo, aliás, tinha isso como ponto importantíssimo, prioritário sim. Inclusive para aproximar a linha da CPTM que fica "do lado de cá" dos passageiros "do lado de lá".

(E se for "de lazer", também é bom. Poder vir de bicicleta do Butantã, Rio Pequeno, Jaguaré para o Parque Vila Lobos é ruim? Ou dali para os outros pontos já conectados pela ciclofaixa de lazer e para as ciclovias que FINALMENTE estão sendo construídas em Pinheiros?)

PQP, se não faz nada, é porque não fez. Se faz...

>>> Qual a prioridade de criar um deck num dos rios mais poluídos do mundo? Enquanto a cidade continua despejando esgoto no rio Pinheiros. Será que o governador já pegou um trem na estação Pinheiros?

Eu já, várias vezes. O rio fede. E quanto mais gente sentir o fedor do rio, melhor. Se a gente esperar "primeiro despoluiu o rio, depois faz o resto", esquece. Nem despolui, nem faz o resto. 

>>> A USP sequer tem ciclovias e infraestrutura para bicicletas, as ruas são mal iluminadas, sem nenhuma segurança e numa determinada época chegou até mesmo proibir a circulação de bicicletas internamente.

1) É, não tem ciclovias. Infelizmente, dentro da autonomia que lhe é de direito, se a prefeitura da Cidade Universitária não quiser fazer, não faz. Cabe aos cidadãos pressionar, embora eles achem que autonomia significa que quem não é docente, dicente ou funcionário não tem o direito de palpitar. (Aliás, ciclofaixa ali já seria bom). 2) Não tem "infra"? Ideal não mesmo, mas ao menos tem uns paraciclos. 3) As ruas são mal iluminadas? Sim. Mas sobram 14 horas de luz do dia. 4) Não tem segurança? Bom, aí não vamos facilitar a vida para ninguém pedalar nunca, em lugar nenhum. 5) A USP chegou a proibir a circulação anos atrás, sim, e eu participei dos protestos/negociações/briga para eles reverem aquilo. A explicação/pretexto era o abuso por parte de praticantes de ciclismo. Não me lembro como foi resolvido. Mas também não é motivo para deixar de criar estrutura para a travessia indo até a USP. Aliás, com uma passarela levando até ali, ou até a porta (nem vi o projeto ainda), vai ficar mais difícil eles inventarem "agora não pode mais", não?

Com 1/3 deste recurso, a cidade de Nova York implantou 400 km de ciclovias e está implantando (após ter feito a infraestrutura) o projeto de bicicletas públicas com 10.000 bicicletas e 600 estações com sistemas de última geração, enquanto Rio e São Paulo tem bicicletas que atendem apenas o mercado publicitário e de lazer (mas infraestrutura a cidade não tem).

>>> Antes de ter a "infraestrutura", Nova York já estava incentivando o uso de bicicletas. ENQUANTO providenciava a infraestrutura. Até porque, lá como cá, houve resistências. Nem todo mundo vê mobilidade não-motorizada com simpatia... Atrás de seus volantes ou no banco do táxi, muitos lá também dizem "saiam da minha frente, seus hippies fora de época". Então você vai botando a população pra pedalar e vencendo resistências na própria administração pública, na mídia e na sociedade. Conheci uma das responsáveis pela implantação do projeto na cidade e é surpreendente o quanto lá, como cá, há problemas burocráticos e alegações bizarras travando os planos. 

As bicicletas para uso compartilhado ainda são poucas, muito poucas. Os pontos de entrega e retirada, por supuesto, também. Mas não atendem "apenas o mercado publicitário e de lazer". Eu mesma sou usuária e já me ajudaram várias vezes em deslocamentos "úteis". 

E olha, tem mesmo que ver se esse custo é razoável (de novo: não conheci ainda o projeto propriamente dito, só li o anúncio). Mas comparar com Nova York ou qualquer outro lugar... Calma lá. Se for para construir uma travessia nova do Houdson, quanto custaria?? E sabe quanto custou a High Line, que todo mundo AMA, e é "só para lazer"? Uma fortuna. E vale. 

No final de 2014, lamentavelmente ficará a lembrança de um governo que não dialogou com as necessidades de transportes das cidades, que desenvolveu estratégias e planos equivocados, que fechou os olhos para o desenvolvimento de soluções de transportes para a população mais pobre submetendo-os a um transporte desumano nos horários de pico, principalmente nos pontos de conexão CPTM/metrô . 

Desumano sim - principalmente porque tem uma demanda INACREDITÁVEL, por razões diversas (planejamento errado ou falta de planejamento ou desrespeito ao planejamento do uso do solo, por exemplo, e distribuição de moradia & atividade econômica - aliás, isso é DETERMINANTE). Mas não desumano porque "o governo fechou os olhos para o desenvolvimento de soluções (...) nos horários de pico, principalmente nos pontos de conexão". 

Que não entendeu a importância da criação de uma malha metroviária na zona máxima de restrição de veículos antes de expandir o Metrô para áreas metropolitanas, fato que obriga e continuará obrigando as pessoas a utilizarem o veículo particular para deslocamentos curtos.

"Obriga e continuará obrigando" é tudo que os adeptos do carro particular querem ouvir como pretexto para continuarem usando uma tonelada para transportar seus 60kg. Não é a expansão do metrô para áreas metropolitanas que "obriga" as pessoas a usar o varro para deslocamentos curtos. Neguin vai da Barra Funda para o centro de carro porque nem cogita andar até o ponto de ônibus, esperar, viajar de pé se for o caso, conviver com estranhos, ou andar até o metrô e ter de andar 300 do metrô até seu destino. 

Lembraremos do governo que fez uma passarela e uma ciclovia (marginal pinheiros que ninguém usa) de lazer que custou mais de R$ 100 milhões aos cofres públicos.

Dinheiro público jogado literalmente no esgoto.

A população sofre mas vota.

"Ninguém usa" a ciclovia da Marginal inclusive, ou principalmente, pelo número limitado de acessos a ela. Quanto mais as pessoas puderem entrar e sair da ciclovia, melhor. E conquistar aquele pedaço de terra entre a marginal, o trilho e o rio foi uma vitória significativa. A EMAE era contra. Na CPTM, o presidente era a favor, mas nem todos na companhia estavam a fim de tornar o projeto viável ("E os carros de serviço?"). Muitos cicloativistas mostravam aquela pista como exemplo do desperdício de uma oportunidade fácil de melhorar a vida de ciclistas sendo desperdiçada. 

No fim não era tão fácil, não mesmo. De novo, Secretarias Estaduais questionavam o valor gasto ali com a reforma e a manutenção. 

E assim fica MUITO mais fácil não fazer nada. Deixa a má-vontade prosperar... 

A população sofre e vota... Vota mais em quem facilita a vida para os carros, infelizmente. Se mexer com a circulação de automóveis para favorecer ônibus, pedestres e ciclistas... Ai ai ai. Mas isso há de mudar. 

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