quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Folha loves Haddad

...do fundo do coração!

"Chefe da arrecadação de Kassab é preso"
Investigação tem participação da gestão Fernando Haddad (PT)



"Quatro auditores fiscais da Prefeitura foram presos. Três deles ocuparam cargos de confiança na gestão Kassab, entre eles Ronilson Bezerra Rodrigues, que ocupou função de Subsecretário da Receita. Rodrigues era o chefe da arrecadação do município e braço direito dos secretários de Finanças de Kassab".

"Chamada de Necator (um parasita), a operação tem consequências políticas imprevisíveis: iniciada pela gestão de Fernando Haddad, atinge a cúpula das Finanças de Kassab, seu antecessor".

"Foi uma denúncia anônima e, depois, o patrimônio que chamou a atenção para os servidores, segundo a prefeitura. O município, então, começou a atuar em conjunto com o Ministério Público e, por fim, a Polícia Civil".

"Rodrigues exercia até junho função de diretor na SPTrans, na gestão Haddad".

Isso tudo está NA PRIMEIRA PÁGINA. A menção ao fato de Rodrigues ter sido "de confiança" nesta gestão aparece no finalzinho. Na página 3, aí sim:

"Preso foi nomeado na gestão Haddad para cuidar de finanças dos ônibus"
Auditor fiscal assumiu, em fevereiro, diretoria da SPTrans, que gerencia R$6 bilhões por ano



Reparem na sutileza, que talvez não seja proposital mas Freud explica. O mesmo cara que é tratado como "chefe de arrecadação DO KASSAB", foi "nomeado na GESTÃO HADDAD". Não "POR HADDAD".

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Prefeitura diz que exoneração poderia "alertar suspeito", QUE JÁ HAVIA SIDO INVESTIGADO NO FIM DO ANO PASSADO.

POIS É.

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A PRÓPRIA FOLHA informa o seguinte (nessa página interna, CLARO)

Ronilson Rodrigues começou a ser investigado em SETEMBRO DE 2012 e DEIXOU O CARGO em DEZEMBRO DE 2012. Assumiu o cargo de DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS DA SPTRANS EM FEVEREIRO DE 2013 e saiu agora.



"Mesmo assim, a gestão Haddad alega que a nomeação ocorreu no início do ano, "ANTES da realização da análise patrimonial e a SUSPEITA DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO".

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MAIS ADIANTE (Destaques em maiúsculas são meus):

"O auditor fiscal preso ontem ERA INVESTIGADO PELA PREFEITURA DESDE 2012, quando era subsecretário da Receita Municipal na gestão Haddad".

"A investigação foi aberta após denúncia de suposto enriquecimento ilícito de Rodrigues, que prestou esclarecimentos ao órgão [Corregedoria do Município]". "Ele alegou inocência, não me convenceu. Por isso a investigação continuou" [segundo o ex-corregedor].

"Ainda de acordo com o ex-corregedor, o precedimento contra o servidor continuava aberto quando Haddad assumiu a prefeitura. Assim, para ele, não há como gestão atual alegar desconhecimento das suspeitas contra o ex-secretário".

SUTILMENTE, ou desleixadamente a Folha diz "de acordo com ele", "para ele". Apenas uma opinião? ACHO que não, porque ao menos ela foi confrontar isso com a atual gestão e...

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"A gestão Haddad CONFIRMA que HAVIA DE FATO UMA INVESTIGAÇÃO CONTRA O SERVIDOR [!!!] mas afirmou que se tratava de um "expediente" que "se limitou a ouvir o investigado" em setembro de 2012. "Nenhum encaminhamento foi dado à época, e o processo ficou parado", diz a nota".

Quer dizer então que a gestão Kassab "limitou-se a ouvir", o processo "ficou parado" e a prefeitura atual achou por bem NOMEAR O CARA QUE "SÓ FOI OUVIDO" para CUIDAR DE FINANÇAS DA SPTRANS. E a FOLHA ainda coloca o Haddad, conforme o planejando em sua estratégia de comunicação, como o herói da história! Puta que o pariu!

É tão desonesta a manobra da prefeitura, convenientemente anunciada depois do aumento ABSURDO do IPTU, que vai MUITO ALÉM de atualização ou reajuste, que até na matéria da Folha ela fica evidente. Só não fica nas manchetes do jornal - que, como se sabe, é o que muitos leem e nada mais.

"A prefeitura deu detalhes da operação contra os servidores municipais em nota divulgada em seu site ontem, mas não citou a ligação de Rodrigues com a atual administração petista. Sem citar nomes, diz que ele foi exonerado na prefeitura em dezembro de 2012. Nesses cinco meses à frente das finanças da SPTrans, Rodrigues tomou conta de um caixa que movimenta mais de R$6 bilhões por ano".

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Para concluir o caso x a cobertura:

- Houve uma denúncia anônima de enriquecimento ilícito contra Ronilson Rodrigues em 2012.
- A Corregedoria abriu processo contra ele. Ouvido, ele alegou inocência. O processo continuou em aberto, mas não andou.
- Rodrigues já não ocupava cargo na Secretaria de Finanças em dezembro de 2012.
- Haddad toma posse em janeiro.
- Rodrigues é nomeado diretor de Finanças da SPTrans em março de 2013 e continuava no cargo até agora.

Como a prefeitura explica isso?

Versão 1: "Nomeação ocorreu antes da suspeita de enriquecimento ilícito" (MENTIRA).

Versão 2: "Havia uma investigação, mas só ouviram o investigado, ninguém fez nada e o processo ficou parado".
PARADO ONDE? POR QUE NÃO FIZERAM NADA JÁ EM JANEIRO e FEVEREIRO?

Versão 3: "Ele não foi afastado para não "alertar" o suspeito a respeito da investigação".
Ele já não devia ter sido NOMEADO. Que havia suspeita de corrupção ele JÁ sabia, porque já tinha sido ouvido e afastado. E é PERFEITAMENTE POSSÍVEL exonerar um funcionário de cargo de confiança (coisa mais comum no serviço público é botar o cara na geladeira, seja lá pela razão que for, justa ou injusta...) sem que ele suspeite de investigação. E uma boa investigação não seria EM NADA prejudicada por atitude do suspeito... Parece até que ele podia ocultar um cadáver ou sacar milhões da sua conta sem ninguém perceber...

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A Vera Magalhães ainda faz uma "análise":

"A investigação que resultou nas prisões vinha sendo tocada em caráter sigiloso já meses, sob responsabilidade de Mário Vinícius Spinelli, o controlador-geral do município, assessor que Haddad reputa uma de suas melhores escolhas para a equipe".

Ownnnn. Que fofa! Será que ouviu isso diretamente dele? Nosso Antônio Banderas do Anhangabaú?

Pode até ser verdade, porque quem nomeia João Antônio Secretário de Relações Institucionais tem várias opções para apontar como "uma de suas melhores escolhas".

"O timing das prisões teve de ser pensado para evitar que o escândalo e as previsíveis associações entre o esquema de cobrança de propina com a gestão de Kassab não atrapalhassem a discussão do reajuste da tabela do IPTU na Câmara, onde o ex-prefeito ainda tem grande poder de influência".

Por essa lógica o "timing" não deu certo, porque só um dos vereadores do partido do Kassab votou a favor do aumento. Antes da "deflagração das prisões", a maioria do PSD já tinha votado contra o aumento ("salgado", diz a Vera, não "escorchante").

Se acompanhasse um pouquinho só a Câmara Municipal, só um pouco mesmo, a jornalista veria que Haddad tem TOTAL controle sobre a Câmara. Aprova o que quer em tempo nunca visto na história deste país. Influência tem quem distribuir cargo, babe.

Mas ela diz... "Tão logo os vereadores confirmaram o aumento do imposto, os "arefinhos" tiveram sua identidade levada a público pela prefeitura. Kassab, que não costuma passar recibo quando confrontado com acusações de corrupção, disse novamente que não foi ele quem nomeou os acusados".

Ah, Kassab "não passa recibo". Haddad, confrontado com corrupção... Não, pera, Haddad nem é confrontado com corrupção, ele se apresenta como o caçador de marajás e pronto! A assessoria, SE receber perguntas difíceis, que se vire.

"É cedo para dizer se o escândalo, que foi chamado ontem pelo prefeito de um dos mais graves da história da cidade, afastará Kassab da órbita do PT".

Que "foi chamado pelo prefeito". "Quando ele abre a boca, tudo se ilumina", como uma intelectual disse certa vez sobre o Lula. Agora é o Fernando.

Um comentário:

  1. Algumas observações:
    1) Talvez você tenha razão quando à benevolência apaixonada das analistas da Folha, mas tenho certeza de que você já foi beneficiada por analistas entorpecidos...
    2) A existência (pra mim escrota, mas para TODOS os políticos justificável, já que fruto de fisiologismo mercantil) de cargos de confiança deve necessariamente carregar consigo a responsabilidade objetiva (vez que ninguém quer ficar de fora do bacanal, do troca-troca). Logo: Kassab e Haddad, cuja grafia é tão parecida que chega a desmentir a sua tese das manchetes, tem igual responsabilidade, além de semelhantes na essência - farinha do mesmo saco (qual político raciocina com novas categorias? Abre mão de nomeações?).
    3. Mas, e finalmente, a estrutura marqueteira do Haddad é muito mais malaca, experiente.
    No frigir dos ovos restam os fatos: com Haddad a faxina começa também em São Paulo Paulo. Genial...huauhahuhuahua.
    Ps: você fica irresistivelmente engraçada quando xinga. Ai de nós, os que "analisam".

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