"Mas ela é louca, vai puxar a arma e dizer que é policial em plena favela"?
Absurdamente triste o que aconteceu em Paraisópolis; uma jovem assassinada por pura ruindade e abuso de poder (poder econômico, poder das armas, da sedução e intimidação) no mundo cínico em que vivemos. Em meio a diversas outras polarizações cretinas, há quem torça a boca se dissermos que na favela tem muita gente honesta, trabalhadora e inocente de qualquer crime ("se tomou um tiro, coisa boa não era", dizem de qualquer adolescente baleado), e quem não admita que se diga que o crime reina na favela.
Os muitos trabalhadores das favelas são reféns permanentes dos bandidos e vítimas ocasionais (ou, conforme o caso, frequentes) da polícia. Quem manda no Moinho, em Paraisópolis, na Rocinha e na Maré é o crime, em várias de suas vertentes - traficantes, milicianos, lideranças corruptas mancomunadas com uns e outros. O trabalhador é "protegido" e ameaçado pela bandidagem o tempo todo - e às vezes a polícia aparece para "ajudar" e dá merda pra ele, eu sei. Que tiro foi esse?
Nós da esquerda não podemos, de jeito nenhum, falar da violência na periferia como se fosse só obra de policiais despreparados, mal comandados ou mal intencionados. Essa é uma das razões pelas quais tantos nos odeiam, odeiam a expressão “direitos humanos”. Fazemos o mesmo que bolsonaristas, mas no outro extremo: se um PM morre assassinado, ouço supostos humanistas e progressistas dizerem “bem feito”, “se fosse bom não seria polícia”, “a periferia tem motivos para odiar policiais”. É o simétrico perfeito de quem acha que um “drogado delinquente” executado por justiceiros mereceu a sentença de morte, que um jovem baleado em baile funk não devia estar naquele lugar naquela hora etc, que os cidadãos têm motivos para atirar primeiro e perguntar depois se um favelado aparece na sua frente.
O crime é opressivo, autoritário, nocivo, nojento. “Ah, mas o Estado maltrata as crianças e os jovens, o capitalismo já matou muitos”... Porra, e o PCC não? Tudo bem recrutar jovenzinhos e moer eles de porrada se fizerem alguma coisa errada, tocar o terror nos becos e vielas, decretar leis medievais, decidir quem entra e quem sai, quem tem direitos e quem não tem?
Eu não acho que a violência policial é feia mas o crime organizado é bonito. Coitado do trabalhador favelado que precisa correr dos bandidos escrotos, fardados ou não.
**Postagem original no Facebook em 7 de ago de 2018 20:45
Absurdamente triste o que aconteceu em Paraisópolis; uma jovem assassinada por pura ruindade e abuso de poder (poder econômico, poder das armas, da sedução e intimidação) no mundo cínico em que vivemos. Em meio a diversas outras polarizações cretinas, há quem torça a boca se dissermos que na favela tem muita gente honesta, trabalhadora e inocente de qualquer crime ("se tomou um tiro, coisa boa não era", dizem de qualquer adolescente baleado), e quem não admita que se diga que o crime reina na favela.
Os muitos trabalhadores das favelas são reféns permanentes dos bandidos e vítimas ocasionais (ou, conforme o caso, frequentes) da polícia. Quem manda no Moinho, em Paraisópolis, na Rocinha e na Maré é o crime, em várias de suas vertentes - traficantes, milicianos, lideranças corruptas mancomunadas com uns e outros. O trabalhador é "protegido" e ameaçado pela bandidagem o tempo todo - e às vezes a polícia aparece para "ajudar" e dá merda pra ele, eu sei. Que tiro foi esse?
Nós da esquerda não podemos, de jeito nenhum, falar da violência na periferia como se fosse só obra de policiais despreparados, mal comandados ou mal intencionados. Essa é uma das razões pelas quais tantos nos odeiam, odeiam a expressão “direitos humanos”. Fazemos o mesmo que bolsonaristas, mas no outro extremo: se um PM morre assassinado, ouço supostos humanistas e progressistas dizerem “bem feito”, “se fosse bom não seria polícia”, “a periferia tem motivos para odiar policiais”. É o simétrico perfeito de quem acha que um “drogado delinquente” executado por justiceiros mereceu a sentença de morte, que um jovem baleado em baile funk não devia estar naquele lugar naquela hora etc, que os cidadãos têm motivos para atirar primeiro e perguntar depois se um favelado aparece na sua frente.
O crime é opressivo, autoritário, nocivo, nojento. “Ah, mas o Estado maltrata as crianças e os jovens, o capitalismo já matou muitos”... Porra, e o PCC não? Tudo bem recrutar jovenzinhos e moer eles de porrada se fizerem alguma coisa errada, tocar o terror nos becos e vielas, decretar leis medievais, decidir quem entra e quem sai, quem tem direitos e quem não tem?
Eu não acho que a violência policial é feia mas o crime organizado é bonito. Coitado do trabalhador favelado que precisa correr dos bandidos escrotos, fardados ou não.
**Postagem original no Facebook em 7 de ago de 2018 20:45
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