É gente, o que complica tudo...
Quando eu pedi para colocarem uma caixa de sugestões na Subprefeitura, sabia que podia aparecer de tudo. A possibilidade de fazer sugestões, reclamações, denúncias, reivindicações anônimas é muito importante – porque algumas pessoas preferem não se expor; porque algumas não devem se expor. Mas isso também dá margem à distorções, claro. Só que não posso deixar de fazer algo que considero importante porque haverá distorções (isso vale, por exemplo, para as políticas sociais – se elas são boas, devemos combater os desvios, mas eles normalmente são tratados como a razão para extingui-las).
Voltando ao assunto: recebi uma mensagem anônima perturbadora. Reproduzo trechos dela (já que é anônima, creio não ter problema. Retirei os nomes que poderiam indicar de onde ela veio).
“SUBPREFEITA SONINHA
Por você já estar na Subprefeitura da Lapa há algum tempo e ainda não saber das coisas que acontece, tenho que escrever para perguntar:
1- Está certo ter funcionários que não cumprem o horário de trabalho?
[Seguem-se casos específicos nos itens 2, 3 e 4]
A gente tá vendo que alguns funcionários que trabalham de verdade estão muito descontentes com as mudanças que você está fazendo, para pior, é claro.
[Seguem-se mais reclamações referentes a dois funcionários – que “assinam o ponto como se tivessem lá todo dia no horário normal”]
É assim que a gente deve fazer?
Todo mundo pode fazer como quiser?
E os outros vão trabalhar por aqueles que são safados?
(...)
Leio seu blog todo dia, por isso peço que responda no blog. TÁ?
Assinado: “PEDINDO JUSTIÇA”"
Portanto, aí vai a resposta.
1) Não está certo funcionários não cumprirem o horário de trabalho. Mas é importante observar o seguinte:
“Cumprir o horário” não é sempre sinônimo de trabalhar direito. Não “cumprir o horário” não é necessariamente sinônimo de vagabundagem.
Existem funções que dependem do cumprimento do horário com rigidez e da presença física do funcionário nas dependências da Subprefeitura. É o caso, evidentemente, da Praça de Atendimento. Se ela abre às 8 e fecha às 18, se os cidadãos chegam nesse horário precisando ser atendidos, quem trabalha na Praça tem de cumprir horário e pronto. E, durante o expediente, tem de estar totalmente entregue ao trabalho.
Não é à toa que isso produziu uma distorção bastante arraigada no serviço público. Atendimento ao público, muitas vezes, vira castigo para um funcionário-problema. Porque ele tem de estar lá, pontual e visível o tempo todo.
Por favor, não vão olhar para nossos funcionários achando que estão ali de castigo. Mas o fato é que acontece).
Aliás, pelo que contam colegas dele, o Covas fez questão de mudar essa cultura com o Poupatempo. “O atendimento ao público é uma das coisas mais importantes a se fazer direito”. As pessoas precisavam ser muito boas para essa função, e não “condenadas” a ela.
Nossa Praça, aliás, foi bem avaliada na “blitz” do jornal Agora. Parabéns.
***
Voltando à questão do horário.
Algumas pessoas são tão produtivas em seis horas, por exemplo, que o fato de não serem pontuais na chegada ou saírem mais cedo não prejudica em nada seu trabalho. Se ficassem mais tempo na cadeira apenas para cumprir horário, talvez consumissem recursos à toa (computador ligado em joguinho, conversa jogada fora atrapalhando os demais) e se irritassem, desgastassem, se tornassem funcionários piores, menos produtivos.
Outros podem “bater cartão” pontualmente no horário de entrada e saída – e serem muito pouco produtivos. Ou pior – desonestos.
Então, calma lá. Lidar com recursos humanos é mais complexo do que consertar um motor. Não é certo ser um mau funcionário; não é certo alguns trabalharem e outros apenas se aproveitarem da situação (é tão óbvio que nem precisava ser dito). Mas não se trata apenas de cumprir horário – quem dera fosse tão simples... São decisões ainda mais sérias, que pretendemos tomar com critério para não produzir injustiças.
2) “(...) alguns funcionários que trabalham de verdade estão muito descontentes com as mudanças que você está fazendo, para pior, é claro”.
Até aqui, fiz menos mudanças do que gostaria. Continuo remexendo e revirando procedimentos, fluxogramas, organogramas. Não mexi muito na vida dos próprios funcionários – nem para melhor, como pretendo (com instalações mais confortáveis, computadores melhores, reconhecimento ao bom trabalho, realocação de pessoas insatisfeitas, etc.) e, espero, nem “para pior”.
Mas talvez algumas coisas estejam acontecendo sem o meu conhecimento – Subprefeito não é onisciente. Outro dia soube de uma mudança de sala muito depois de ela já ter acontecido. Aliás, se o Subprefeito puder/precisar saber de TUDO que acontece na Subprefeitura, o mundo está perdido. Existem vários cargos de chefia (Coordenadores, Supervisores) com relativa autonomia – já pensou se precisassem do meu aval para cada passo? Eu só faria ser síndica do prédio da Sub e mais nada.
E olha que eu GOSTO de saber de tudo. De me meter em tudo. Só é impossível...
Portanto, se eu fiz “mudanças para pior”, especialmente do ponto de vista dos “funcionários que trabalham de verdade”, ao menos me diga quais são. Senão, como posso tomar alguma atitude em relação a isso?
***
Enfim, aí está a resposta. Insatisfatória, por certo – por um lado, porque faltam informações. Por outro, porque não é uma resposta no blog que vou resolver um problema; que vou dizer "tem razão, vou chamar Fulano na minha sala e dar um esculacho". Apenas quero que você saiba que estou preocupada e atenta.
Puxa, Sonia. Eu já trabalhei em alguns orgãos públicos e pela primeira vez, vejo um chefe dizer o que penso sobre horário de trabalho.
ResponderExcluirSeria bom trabalhar contigo -- principalmente em momentos produtivos como numa segunda de carnaval ou depois das 19h, quando os telefones se tranquilizam.
Aliás, quando é que vão chamar os AGPPs pras Subs? Vivem reclamando de falta de funcionário, mas tem uns milhares esperando convocação.
Tchau.
O problema nesse caso é como mensurar a produtividade. Seria produtividade cumprir suas obrigações? Ser eficiente? Sabemos que muita coisa no serviço público está atrasada... vou citar um exemplo bobo, mas que t
ResponderExcluiralvez sirva: meus pais esperam um processo de anistia de um imóvel que está há anos tramitando... fico pensando se algum funcionário "produtivo" não deixa o mesmo engavetado, apenas por que acha que já fez demai
s naquele dia... Enfim...
É uma questão complexa. Posso até concordar que, se for estabelecido o que deve ser feito no dia, a pessoa pode produzir rapidamente, antes de terminar o horário, mas se tem trabalho a fazer, penso que o certo s
eria cumprir estritamente o horário... e duvido que não tenha muito, mas muito trabalho a ser feito aí. Além do que deixar a critério de cada um, leva a uma conclusão subjetiva possibilitando que cada um faça se
u horário como bem entender, inclusive se permitindo a não ir ao trabalho ou ir quando quiser...
O horário livre funciona quando se existe uma META e a pessoa decide como cumprir, mas nesse caso não sei se existe uma meta definida (por exemplo, nesse mês, teremos que resolver X problemas).
Portanto, acho que tem que se repensar esse conceito de produtividade até para não irritar colegas que cumprem horários. Acho que todos devem ter tratamento isonômico, do contrário, vai criar conflitos terríveis
entre funcionários.
Como eu queria poder trabalhar com você, gosto do seu pique, da sua sinceridade, gostaria de te conhecer e te contar a minha história.
ResponderExcluirQuem sabe você me convide pra trabalhar de novo na Lapa.