terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Tá valendo

No domingo, elogiei no Twitter a discussão sobre a última rodada do Campeonato Brasileiro na Rádio Eldorado ESPN mas não expliquei por que.

O ponto em debate era: "O Grêmio vai entregar o jogo para o Flamengo na última rodada?". A posição do Flavio Gomes e do Calçade era a mesma: "Claro que não".

(Para os mais desligados do campeonato - que diriam "e por que entregaria?": o Flamengo é o líder. Abaixo dele vem o Inter, mega-rival do Grêmio. Se o Flamengo perder para o Grêmio, aumentam as chances do Inter ser campeão Brasileiro (ele também precisa vencer o seu jogo...). Por isso, para impedir o seu título, o Grêmio deixaria o Flamengo ganhar).

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A torcida do Grêmio pode gritar "Entrega! Entrega!" (como gritou ao fim do jogo de domingo) e até mesmo acreditar nisso (na famosa hora-do-vamo-vê, ver seu time apalermado em campo e perder não é nada divertido...), mas os jogadores nunca terão o mesmo espírito.

Se não fosse por nenhuma outra razão, seria porque, para começar, nem todo jogador do Grêmio é gremista. Já que estamos falando de torcida, tratemos de levar isso em conta... O Souza foi jogador do São Paulo muito tempo; tem muitos amigos lá. Para que o São Paulo (4o colocado) seja campeão, umas das coisas que tem de acontecer é a derrota do Flamengo. Por que o Souza faria corpo mole?

Aliás, se o Flamengo perder, o Palmeiras também pode ser campeão. E se o Lúcio tiver algum afeto pelo clube em que se destacou?

Não, um jogador não deve se deixar levar em campo por suas próprias preferências, e é isso mesmo que acontece. Os jogadores não vão jogar com muito entusiasmo só porque seus ex-clubes estão no pareo, tanto quanto NÃO VÃO deixar de jogar só porque a vitória do Grêmio pode acabar ajudando o Inter.

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O Flavinho, na rádio, lembrou o seguinte: o Grêmio pode jogar sem muito ímpeto simplesmente porque não disputa mais nada, mas isso é completamente diferente de entregar o jogo. De um lado, um time babando pelo título do Campeonato. De outro, uma equipe que teve um ano mais ou menos, cujos grandes objetivos ficaram todos para o ano que vem. Uma vai comer grama; a outra? Provavelmente não.

O Calçade mostrou o desempenho ridículo do Grêmio fora de casa. "Se perder do Flamengo no Maracanã, é um resultado normal. Não ganha de ninguém, quanto mais do embalado líder do Campeonato Brasileiro!"

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Tem gente (que eu admiro, aliás) criticando até o campeonato de pontos corridos por "permitir uma situação dessas". Acontece que a "situação dessas" é: temos QUATRO times com chances de conquistar o título brasileiro de 2009 no próximo domingo (fora os que tentam escapar da segunda divisão). No formato antigo - que tinha sua graça, claro! - teríamos apenas dois, e os outros todos de férias. Nem jogando pra ganhar, nem jogando sem querer ganhar: PARADOS.

Isso neste fim-de-semana da final. No anterior, haveria quatro times em campo - e os outros 16 que jogaram essa 37a rodada também estariam de férias.

No meio de novembro, o oitavo colocado teria jogado contra o primeiro, o segundo contra o sétimo... E tudo o que foi feito ao longo de meses poderia ter sido jogado fora em dois jogos de ida e volta. Enquanto do nono pra baixo, estaria todo mundo na poltrona, assistindo televisão.

Toda forma de competição embute possibilidades de desvios e injustiças. Na Copa de 82, o Brasil de campanha espetacular foi eliminado por um gol por um time que vinha se arrastando, fazendo campanha medíocre com futebol sem vergonha. É do jogo.

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O Flavio Gomes concordou com uma declaração do Mano Menezes: "A gente precisa tomar mais cuidado antes de colocar a honra das pessoas em questão". Ele reconhecer que a mídia - isto é, "nós" - tem a maior facilidade para levantar suspeitas e fazer insinuações e acusações, antecipando um julgamento sobre a ética de dezenas de profissionais. Jogador de futebol tem responsabilidades, tem compromissos, tem noção! Achar que você consegue reunir um grupo - titulares, reservas, técnico, auxiliares - e dizer para todos eles: "Tratem de perder, hein?" é irreal. Se não fosse por outra razão, seria porque estão na vitrine da televisão para o mundo todo e uma conduta absurda como essa poderia colocar em risco seu próprio futuro profissional (quem é que vai confiar em um jogador que se comporta em campo como o mais fanático torcedor de arquibancada)?

O Cledi entrou na conversa: "É que eles [do futebol] dão motivo pra desconfiança, infelizmente". É, infelizmente há casos e casos e casos de maracutaias e desonestidades, leves e pesadas. Mas é justo, por causa da maracutaia de uns, deduzir que todos são desonestos? A gente (da mídia) não gosta de ser objeto de generalização; queremos que respeitem a diferença entre veículos e profissionais. Por que nos damos o direito de jogar lama indiscriminadamente? Se acontecer algo errado, temos o dever de apontar, condenar. Mas dizer antes "é claro que vai ter rolo, estragou o campeonato" é sacanagem.

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(Parei pra pensar se não é isso que eu faço quando torço o nariz para Copa e Olimpíada no Brasil. Hmm, pode até ser - mas não estou falando em hipóteses generalistas, "vai dar errado porque somos desorganizados e corruptos', estou analisando desde já os fatos das candidaturas e dos projetos, que estão cheios de erros e irregularidades. Por isso, e não só porque o Pan foi cheio de escândalos, p, ex., sou tão cética quanto ao sucesso e lisura na realização dos dois eventos).

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Para registro: sem ter nada a ver com a tabela de classificação e as chances de cada um no G4, foi péssima a atitude do Felipe, goleiro do Corinthians, ao nem tentar ir na bola na cobrança de pênalti do Flamengo no fim do jogo. Não é julgamento a priori, é a posteriori: o resultado já estava definido e não foi isso que determinou a vitória rubronegra, mas o certo era ele jogar pra valer até o último minuto.

Um comentário:

  1. Soninha, você faz um texto como esse, defende que o Corinthians não entregou e, no fim, dá a entender que o Felipe entregou.

    Estava quase concordando integralmente com você. Acho que não dá pra falar que o Felipe não se jogou para deixar a bola entrar. Ele poderia ter caido pro lado certo, dando aquele famoso migué, e a bola entraria. Ai ninguém ia falar nada.

    Agora, se o batedor desse uma paradinha? ou entao só uma cavadinha, como a que o Pet fez no jogo com o Sao Paulo? O Felipe pegaria a bola tranquilamente...

    Enfim, não sou o dono da verdade, mas sou totalmente contra as criticas ao felipe por esse lance.

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