Operários, burgueses etc.

Comprei, no aeroporto de Guarulhos (por que a gente diz “Cumbica”?), o jornal Causa Operária. Li uma parte dele na sala VIP da American Express, o que me deu uma sensação estranha – nos meus tempos de teatro amador trotskista, nunca poderia me imaginar naquela situação (na sala VIP).

Sempre leio qualquer coisa com uma caneta na mão. Nessa leitura, tive impulsos de fazer anotações à margem: ۷ (concordo) e x (discordo). Acabei indo além disso, colocando, por exemplo, uma exclamação gigante ao lado desta nota: “Coréia do Norte: Desafiando o imperialismo, governo testa três mísseis no Mar do Japão”. Como assim, “desafiando o imperialismo”? Dado que as palavras “imperialismo”, “burguesia”, “capitalismo” figuram sempre no jornal como sinônimo de “inimigo”, o jornal se coloca a favor do teste de mísseis pela Coréia do Norte? Putz.

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Outra nota: “Honduras: imperialismo financia o golpe. O FMI (Fundo Monetário Internacional) liberou 163,9 milhões de dólares ao governo de Roberto Micheletti. O BCH informou que 150,1 milhões de dólares do FMI foram entregues no último dia 28 e mais 163,9 milhões que serão entregues na próxima semana”.

Essa história de Honduras parece um dos muitos episódios que estudamos na escola com uma versão e, anos depois, colocamos as coisas em outros termos. Afinal, que são os bonzinhos e quem são os malvados? Os bandeirantes, por exemplo, eram heróis – e o painel de mármore no auditório externo da Câmara Municipal louva aqueles que foram atrás de pedras preciosas e índios. Duque de Caxias era outro – ajudou a arrasar com o Paraguai. Chamamos vários golpes de “revolução”...

Ainda preciso estudar melhor o “caso Honduras”, que primeiro foi noticiado como a derrubada de um governo legítimo por um golpe militar e depois chegaram – mas não “pegaram” – as informações de que o presidente era quem tinha resolvido dar um golpe para ficar no poder, ao arrepio da Constituição, e o poder judiciário local autorizou sua destituição nos termos da própria lei. De quem foi o golpe, afinal?

Em todo caso, essa notícia sobre o repasse do FMI tem um traço inegável de ironia: então o Brasil, que agora empresta dinheiro ao FMI (embora não queira dar nada a um Fundo de Mudanças Climáticas), ajudou a socorrer a Honduras governada por Micheletti?

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Eu não me conformo com essa história do Brasil se gabar de emprestar dinheiro ao FMI. Como escreveu um comentarista tempos atrás (não sei se foi o Clóvis Rossi), antes o PT dizia “NÃO AO PAGAMENTO DA DÍVIDA! FORA FMI!”. No governo, o PT se gaba de ter pago à dívida e de contribuir com o FMI – aquele mesmo, que era um braço do imperialismo para subjugar os países pobres.

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Chamada para uma matéria: “Não ao “diálogo” com Rodas – Reitor-interventor faz demagogia em busca da conciliação”. Ainda não li.

Mais uma: "Alemanha - Novo governo se divide sobre como atacar a classe operária. A diminuição dos impostos para a grande indústria e as reformas do mercado de trabalho e da previdências são as questões centrais das discussões entre os Democratas Cristãos e o Partido Liberal-Democrata". Fiquei muito interessada em ler a matéria; queria saber a posição deles sobre diminuição de impostos (talvez tenham coragem em defender impostos; a maioria só ataca!), mas era só uma nota da retrospectiva 2009.