quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sob efeito do rancor

Eu me arrependo de 80% do que escrevo com raiva. Mesmo que não mude de ideia - às vezes mudo - vejo o quanto posso me exceder sob influência de "forte emoção".

Portanto ter raiva, na minha opinião, é compreensível, mas não desejável. Agir sob efeito dela, menos ainda. Cultivá-la então...

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Mudar de idéia, na minha opinião, é totalmente compreensível. Impossível é não mudar nunca, exceto em casos de fanatismo ou coisa parecida. Quando, não importa o que aconteça, você se mantém preso ao conceito original - e as coisas mudam o tempo todo! É bom reconsiderar, e conscientemente manter ou rever sua posição.

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O texto abaixo, ao que tudo indica, foi escrito com muita raiva. Ele não tolerou o fato de uma pessoa ter mudado de posição (e não necessariamente de opinião, mas volto a isso depois).

Marina Silva, a traíra

Marina Silva é uma grande traidora. Traiu o povo brasileiro quando se posicionou contra o crescimento do país. Traiu o presidente Lula. Traiu o PT. Traiu também a memória de Chico Mendes quando se uniu àqueles que, disfarçadamente, alegraram-se com a morte do grande líder seringueiro. Marina Silva jogou no lixo uma biografia de defensora dos povos da floresta, defensora da Amazônia. Traiu por despeito e por vingança. Ela alimentava esperanças de que o presidente Lula a escolhesse para ser sua sucessora, e quando percebeu que não seria a escolhida deu o bote tal qual uma cascavel. Marina não foi escolhida pelo presidente Lula porque não tem capacidade, conhecimento e caráter para governar um país, porque não seria capaz de manter a política econômica de crescimento e desenvolvimento, não conseguiria gerir os programas sociais do governo. Não seria capaz de entender a importância das descobertas no Pré-Sal pela Petrobras, nem conseguiria atribuir tais riquezas ao povo. Marina Silva, é óbvio, não vai para o segundo turno, mas vai para o colo do Serra /PSDB/DEM, que ela combateu nos 30 anos em que esteve no PT. Marina mostra que não tem pudor nem ideologia, é só uma ecochata fazendo o jogo sujo do poder por despeito e vingança. Está se vingando do presidente Lula porque não a escolheu, pouco se lhe dá prejudicar o país e milhões de brasileiros, desde que alcance seu seu objetivo de vingança. Marina é muito religiosa, ligada à Assembléia de Deus, mas não é nenhuma santa. É apenas uma traíra.
Jussara Seixas


Meus comentários:

1) "Marina se posicionou contra o desenvolvimento do país". Foi por discordar de visões como essa, dominantes no governo do PT - de que exigir rigor no licenciamento ambiental, por exemplo, é ser "contra o desenvolvimento" - que ela saiu do partido. Por isso digo que ela mudou de lugar, de posição, mas não de opinião. A postura dela continuou a mesma, mas o partido já não a representava mais, depois de o próprio governo não ter lhe dado o respeito devido (aqui há a lembrança de alguns episódios).

2) "Jogou no lixo a biografia", "despeito", "vingança"... Pura raiva.

3) Marina queria ser candidata a presidente pelo PT? Pode ser. E se quisesse? Nunca entendi por que alguns eleitores/militantes/jornalistas/analistas políticos acham muito natural que algumas pessoas queiram ser candidat@s a presidente, e condenam outras pelo mesmo desejo.

4) Acreditar que a Marina "não tem capacidade, conhecimento e caráter para governar um país, porque não seria capaz de manter a política econômica de crescimento e desenvolvimento, não conseguiria gerir os programas sociais do governo" etc etc é uma opinião que a autora pode ter. Mas o julgamento moral continua pesadíssimo: "não tem caráter"; "não tem pudor nem ideologia, é só uma ecochata fazendo o jogo sujo do poder". 

5) Marina, segundo a autora, "combateu o Serra/PSDB/DEM nos 30 anos em que esteve no PT". Pois é, assim é o modo como alguns (ou, infelizmente, muitos) petistas veem o mundo... "O PT" combate "o PSDB". Marina, em 30 anos de PT, combateu a desonestidade, a irresponsabilidade, o desrespeito ao meio ambiente etc, onde quer que eles estivessem - no próprio PT, no PV, no PSDB...

6) Marina não é uma santa. Ninguém é "santo", ninguém é perfeito e não precisa ser (ufa). Também é típico demonizar um lado (incrível como são frequentes as representações do Serra como um demônio em páginas do PT, PCdoB, CUT etc.), santificar o outro, "dessantificar"... Vamos falar de gente, não de anjos e demônios!

Por fim... Outra conduta típica: tentar reescrever a história, negar o passado. Mudam de ideia mas não admitem que outros mudem. Mudam de ideia mas não admitem que mudaram. Talvez o PT ou alguns petistas se arrependam agora de terem sido tão duros com a Marina (nem todos foram; alguns foram muito compreensivos e generosos). Mas outros certamente não se arrependem, e mesmo assim apagam os textos escritos, as ofensas feitas... E ainda são capazes de dizer "Marina, eu sempre estive ao seu lado"!


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