sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"Coragem"? Para "faxina"?

Desde a queda do ministro Alfredo Nascimento (PR), dos Transportes, começaram a dizer que a Dilma estava tendo muita "coragem".

Quando um(a) Chefe(a?)-de-Estado faz o MÍNIMO que se espera del@ - NÃO COMPACTUAR, não passar a mão na cabeça, não varrer para debaixo do tapete a corrupção - e a gente chama isso de coragem... A coisa vai muito mal, vai não?

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"Coragem" por que?

Porque, depois de os indícios se tornarem gritantes demais, das explicações serem convincentes de menos, ela deixou o cara sair? (Ou pediu para ele pedir para sair?)

E só depois de tentar segurá-lo de todo jeito; de mandar um Diretor do DNIT para a Câmara dizer, em depoimento, que "não tem nada de errado, o governo fez tudo certo, tá tudo direitinho lá no Ministério"? Uma pessoa que, segundo o governo, tinha sido demitida, mas chegou lá dizendo "demitido não, tô de férias"? (#zona!!)

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Demitir ministro acusado de corrupção virou sinônimo de "coragem" exatamente porque iss'aqui virou uma zona. Porque o presidente anterior se lixava para a mídia de oposição (tem a mídia da situação, ô se tem); para as opiniões contrárias, as denúncias, as acusações, os indícios, as provas, as cobranças, e segurava tudo. Matava no peito, dizia que era complô das elites, conspiração da mídia imperialista, resistências às profundas transformações sociais, choro de perdedor, o diabo, e não mandava ninguém embora não. E a base-aliada respirava aliviada, "esse é o cara".

E o tal do ministro já vinha da administração anterior, aquela que se quer empurrar goela abaixo como a mais linda de toda a história. Administração da qual a presidente(a) é fiadora, guardiã, até porque era a grande Mãe, grande responsável por alguns de seus mais importantes projetos.

Demitir ministro acusado de corrupção virou sinônimo "coragem" porque o fisiologismo, a troca de favores, a submissão aos aliados alcançou níveis "nunca dantes"; porque o governo é refém absoluto de chantagistas, afinal preferiu chamá-los para a mesa a negociar com opositores de bom nível¹. Sim, porque ao contrário das acusações que foram feitas, especialmente durante a campanha megamentirosa de 2010, o PSDB, por exemplo, aprovou vários projetos estratégicos para o governo - como a reunião de vários benefícios sob o título de "Bolsa Família". Ou seja, se quisesse mesmo enfrentar a base fisiológica, desde a primeira eleição de Lula, e tentar qualificar o debate, o governo ia sofrer, claro - mas sem ao menos querer enfrentá-la, vai esperar o que como resultado?

Então é preciso "coragem" para contrariar a máfia aliada. É preciso "coragem" para admitir que a estrutura que ajudou a construir (quem nomeou esses ministros? Eu é que não fui) tem pilares apodrecidos. É preciso "coragem" para contrariar o padrinho - embora se faça de tudo para mantê-lo preservado, até porque este governo é a orgulhosa continuação do dele e só tem Dilma como chefe(a) porque ele rasgou a Constituição, o decoro, a compostura, a fantasia e se esgoelou no palanque em campanha para elegê-la, mentiu, gastou dinheiro a rodo, se fez de vítima, de herói, aterrorizou.

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Não deveríamos elogiar a coragem de uma presidenta, chefa, gerenta, superintendenta, por desligar um subordinado envolvido em acusações gravíssimas de corrupção. Que, antes de ser acusado de qualquer coisa, já poderia ter sido demitido por razão mais do que suficiente: a mais pura INCOMPETÊNCIA. Nem a maquiagem de números mais milagrosa, como a que foi aplicada às "realizações" no Ensino Superior, consegue disfarçar o fiasco do governo Lula na área de Infraestrutura, a começar por Transportes. Repórteres não vão aos pseudo-campi das pseudo novas universidades federais nos cafundós do Judas para ver o que passam os alunos, professores e funcionários, mas estrada federal tem pra todo lado, com muito carro, ônibus e caminhão, acidente fatal, gente a passeio e a trabalho. Toda hora aparece alguma coisa na televisão, ainda a única fonte de informação para milhões de brasileiros. Os portos e ferrovias dispensam maiores explicações - pelo impacto econômico, que afeta setores inteiros e seus milhões de empregos, a imprensa cansa de mostrar as queixas, as carências, os atrasos.

Ou seja: o ministro tinha executado um péssimo serviço. Sua pasta foi acusada de corrupção envolvendo gente de alto escalão. E parabéns à Dilma pela "coragem" de mandá-lo embora?

Com uma biografia repleta de atos de bravura, ela deveria é se sentir ofendida, em vez de se orgulhar de ser "faxineira". É como se fosse café-com-leite.

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¹O PPS apoiava o governo Lula - até, entre outras coisas, quererem mandar "de presente" (goela abaixo) vários deputados vindos de outras siglas para "compor a base do governo" - naturalmente, com zero critério de afinidade e qualidade, muito pelo contrário. "Filia aí esse parlamentar que vai apoiar o governo".

(Enquanto isso, na Câmara Municipal de São Paulo, o PT se recusava a ser um opositor de bom nível: o intuito era atrapalhar o governo tucano de qualquer jeito, não discutir nada para valer e obrigar o prefeito a negociar com o Centrão e outros "independentes" - aqueles que, tendo suas demandas atendidas, aprovam qualquer coisa que aparecer pela frente).

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