(O primeiro post foi este aqui)
Parte 4: energia, rigor, violência
Já participei do planejamento de ações em que era necessária a presença e quase certa a necessidade de atuação da Polícia Militar em situações de conflito ou tumulto. Jogos de futebol, por exemplo.
Sempre questionei o uso das malditas balas de borracha. A resposta que obtive sempre foi "é o armamento não letal determinado". P., determinado por quem? Podem por favor determinar outra coisa?
Em todo o mundo "riots" são dispersadas com jatos de água. Não consigo imaginar por que não seriam mais indicados do que projéteis. Imagine, no meio do tumulto uma arma é disparada em direção à massa. Quem ela vai atingir e onde? Sabe deus! Uma vez, na Paulista, um fotógrafo (da Folha da Tarde, se não me engano) foi atingido NO OLHO. Não importa - na coxa, na barriga, no braço, é um absurdo.
"Bomba de efeito moral" também é um horror. Gera pânico, desespero. Você ouve os estouros e não sabe se é tiro. Coração vai na garganta, perna fica bamba, nem que seja por um segundo. O "efeito moral" é esse... Pessoas podem sair correndo e caírem, serem pisoteadas... Outras podem, na sua fúria, contra-atacar como der no meio da fumaça, com paus e pedras. É assim que se controla a situação?
Outro erro INACEITÁVEL é bater em alguém caído. Chutar então... E quando são vários contra um, como aconteceu na porta de uma tenda com um sujeito absolutamente indefeso e pacífico, agredido por quatro ou cinco policiais? Crime para detenção em flagrante. Aliás, sair correndo atrás de alguém que está fugindo dando cacetadas nas costas também é errado. É violência, revide, descontrole. Errado.
Assim como é errado rosnar para as pessoas. Rigor, entendo, é necessário. Não dá para parar, conversar, discutir, abrir exceções, quebrar um galho. O bagulho é tenso. Mas um mínimo de humanidade é indispensável. A mulher que não pode voltar para casa e pegar NADA a não ser a mamadeira estava inconformada. Na porta de casa, pediu um segundo, implorou. Também já implorei compreensão de seguranças, guardas, policiais... É desesperador.
Parte 5: a resistência
Não venham falar em resistência pacífica... Pára.
Se quiserem defender o direito de as pessoas se organizarem em guerrilhas, milícias, irem para o pau, resistirem com porretes e coquetéis molotov, ok, temos uma discussão. Mas descrever a situação como um confronto apenas entre pessoas indefesas e pacíficas e as forças de segurança do estado é desonestidade.
A bandidagem que normalmente já dá "proteção" à comunidade participa ativamente da resistência. Claro. E um povo de fora que acha a maior graça em cobrir a cara à moda rebelião em presídio e em coquetel molotov como ícone da resistência ao imperialismo também participa orgulhoso da ação "política".
Em alguns casos de remoção, chega a acontecer o absurdo de uma parte das famílias querer ouvir as alternativas, cogitarem aceitar a mudança para outro lugar porque também já não aguentam mais viver naquelas condições - passei por isso em relação a algumas áreas de risco - e "lideranças" (bandidos ou militantes partidários) PROIBIREM as pessoas de fazer acordo, com postura e atitudes ameaçadoras. "Eles querem nos dividir para enfraquecer o movimento!". Super democrático.
Os moradores do Pinheirinho, teoricamente, haviam pedido mais quinze dias para continuar negociando. Deveriam ter sido dados, mas não ia adiantar nada. Depois de quinze dias, a situação seria idêntica. Não haveria saída pacífica. Na USP, aconteceu algo semelhante. A ordem judicial poderia ter sido cumprida alguns dias antes da noite em que foi executada. Pediram tempo, mais tempo, "vamos sair, mas não desse jeito". A Polícia acatou e no fim os ocupantes não iam sair mesmo e acusaram o estado de intransigência.
A única saída pacífica, inteligente e justa para o Pinheirinho seria a regularização da área, (re)urbanização e, para usar palavra muito apreciada pela Rede Globo, "pacificação". Porque tão equivocado e desonesto quando o discurso reaça de que "na favela só tem bandido" é o discurso "progressista" de que na favela "só tem trabalhador". Tem os dois, minha gente. Os reaças nunca pisaram em uma favela. Os progressistas que já o fizeram SABEM como é.
Pergunte aos trabalhadores - motoristas, garçons, faxineiros, cozinheiros, ascensoristas, porteiros, balconistas, estudantes, auxiliares administrativos, auxiliares de enfermagem, motoboys, estagiários, pintores, pedreiros, eletricistas - se eles não são oprimidos pela bandidagem. Se os bandidos não tocam o terror, controlando desde o uso da quadra de esportes e o horário das festas a conflitos entre vizinhos e casais. Se não é f. ficar espremido entre corrupção e violência policial E a violência dos "chefes" do pedaço. Incrível como fazem o papel do Estado paternalista e opressor - afinal, eles ajudam, de verdade, em algumas situações. Em troca, estabelecem sua ditadura. Suas leis, sua justiça.
Agora, não tem COMO o estado não saber que é assim e que a população local estará em estado de beligerância, por escolha ou por falta de alternativa. Quem não quer ir pra trincheira, só quer zelar por sua TV, seus móveis, suas roupas também tá preso ali. "Por que não saíram antes?". Não só porque os líderes nem sempre permitem, como também porque sair carregando sua vida nas costas não é coisa simples. Então o governo SABE, quando determina a ação, dos riscos que está correndo. E prefere correr. Risco de confronto, óbvio, e de exploração do episódio (o que piora o confronto!).
Quem se ferra? É quem NÃO FAZ PARTE DESSA GUERRA. Quem não tem dinheiro, nem armas, nem padrinho, nem faz parte de alguma organização, seja pela razão que for. Porque é idoso, porque não para em casa (2 empregos + escola), porque não quer se envolver mesmo. Digo isso em defesa dos "desorganizados", sempre os mais prejudicados, mesmo quando são maioria. A organização é um instrumento legítimo e desejável na sociedade, mas a força que os grupos organizados adquirem nem sempre resulta em justiça para a maioria.
[Continuo mais tarde]
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