quarta-feira, 13 de junho de 2012

Fernando, Antonio, Francisco


Arrumando minhas caixas - infinitas caixas de papeis, revistas e livros - encontrei uma biografia de “Antonio, o Santo do Amor”. Deve ter sido presente da época do Saia Justa (ganhávamos uns 3 ou 4 livros por semana!).

Antonio nasceu Fernando, em família “boa” de Portugal. Menino estudioso, reservado, vivia enfurnado na igreja da praça ou nos livros. O pai o queria fidalgo, cavaleiro, mas ele sonhava com a vida reclusa de um monastério e teve o apoio (de quem mais seria?) da mãe.

Fernando não se conformava com as Cruzadas e seu método “matar para salvar”. O livro conta, com nomes e datas, o que estamos cansados de saber - os interesses nada pios nas conversões forçadas. Papas, bispos, reis e nobres disputavam entre si o poder sobre pedaços de território dos dois lados do mediterrâneo.

O sul da França, por exemplo, queria romper com o poder do rei e declarar independência. Os senhores de terras locais se juntavam, então, aos “hereges”, já que o Papa era “assim” com o rei. E dá-lhe banho de sangue.

Fernando, como alguns rappers dos anos 90, acreditava na força da palavra em vez das armas. E, segundo consta, era muito bom nisso. Convincente, persuasivo, jamais se abalava e persistia na argumentação baseada em sua imensa fé e devoção.

Coerente, o devoto não se sentia nada confortável com a opulência da igreja... As salas de troféus... E ficou cada vez mais encantado com uma nova ordem, fundada por um italiano de nome Francisco. Ahn? Ahn? Pescou?

Pois é, Francisco de Assis, assim como alguns hereges, acreditava em uma vida totalmente destituída de bens como a mais próxima do ideal cristão. Mas os hereges rompiam com o poder do Vaticano e ele não; obteve a “autorização” do Papa para seguir com sua linha de ação. Fernando ficou fascinado com a entrega absoluta de suas vidas – frequentemente literal e trágica - aos ideais cristãos. Dois pregadores obstinados, conta o livro, foram esquartejados em Marrocos depois de passarem por Portugal e Fernando conhecê-los pessoalmente.

Fernando acabou deixando os agostinianos e beneditinos, com quem tinha passado algum tempo, e se juntou aos franciscanos - e foi então que mudou de nome para Antonio.

E eu que nem imaginava que Antonio, que aparece nas estátuas segurando um Menino Jesus, tinha nascido Fernando, em Portugal, conhecido Francisco de Assis pessoalmente e se tornado referência importante na Ordem Franciscana, a ponto de desencadear mudanças.

Francisco era muito avesso ao estudo, por duas razões: porque livros eram posses como quaisquer outras e a necessidade de guardá-los implicava em outras posses, outras preocupações e cuidados. Mais que isso, temia - com motivos de sobra... - que a erudição trouxesse arrogância e a ideia de superioridade sobre os demais (em um tempo em que até reis eram analfabetos, imagine os pobres camponeses e aldeões). E que isso acabasse afastando os franciscanos do convívio e a ação em benefício dos pobres, dos “leprosos”, dos mais rejeitados.

Antonio convenceu Francisco, por seu modo abnegado de se dedicar aos outros, sua fé irreprochável, que era possível ser “estudado” e modesto, letrado e humilde. Graças a sua influência, foi criada a primeira escola para instrução dos monges franciscanos.

Um homem de tanta fé, a quem são atribuídos vários milagres (ou não seria Santo...), tinha lá seus momentos de descrença. Não em Cristo, mas na humanidade...  

Recorro muito a esses momentos de sensação de “não tem jeito, não tem remédio, nada do que se faça é capaz de mudar isso” para me animar quando sou eu que mergulho nesse estado. Grandes homens e mulheres podem nos parecer inabaláveis, totalmente convictos e resolutos da pertinência de seus esforços, mas eles também desanimam, viu?

“  (...) Pouco sabemos hoje sobre a forma como se manifesta a eloquência de Antônio. (...) Do que sabemos bem, pois disso restam os vários registros, é de seu poder de comunicação, a capacidade de convencimento fácil. Pelo que deixa escrito e pelos depoimentos dos contemporâneos, vê-se que considera sua época uma espécie de fundo do poço, em que todos os vícios e violências estão disseminados (...).

[Além disso], existe o medo das doenças inexplicadas numa época em que a medicina tem poucos recursos, o medo da violência praticada por salteadores nas estradas, o medo da guerra que está por toda parte”.

Pois é... Sensação de fim do mundo, fundo do poço, túnel sem luz no fim... Mas Antonio continuou fazendo o que achava que devia fazer...

Quando comecei a escrever (de manhã, antes de sair de casa), estava em meu estado de espírito “normal”: na expectativa boa de fazer algumas coisas, com preguiça de outras, nada de mais. Termino o texto agora (fim da tarde) quando estou triste, desanimada, de saco cheio, com vontade de largar tudo, desencanar, desistir. “Não tem jeito... Não tem”. Dinheiro, “bom trânsito”, amizades, boas impressões, visões pré-concebidas, palpites, isso é o que leva uma eleição para um lado ou para o outro... O Haddad não precisa ser ninguém, não precisa querer ser prefeito (só queria morar em São Paulo, segundo uma matéria sb ele; Lula foi quem sugeriu “por que não sai candidato?”). Não precisa ter sido um bom ministro (levanta a mão quem acha que A EDUCAÇÃO NO BRASIL VAI BEM), não precisa ter sido escolhido pela maioria do PT, não precisa aparecer bem nas pesquisas de intenção de voto, não precisa ter bom conhecimento, leitura ou propostas para a cidade, não precisa ser cercado de pessoas honestas. Só precisa ser o candidato do PT, pronto, tem a garantia de que será coberto pela imprensa como se JÁ ESTIVESSE no segundo turno. O que ajuda bastante a fazer com que esteja.

É foda. Círculo vicioso, moto perpétuo, caminhada em círculo. Quem já está no poder tem mil vezes mais chances de continuar do que quem está tentando entrar agora. Às vezes perco totalmente a vontade de continuar tentando.

Se me conheço bem, daqui a pouco [a falta de vontade] passa. Valei-me Santo Antonio. 

Um comentário:

  1. Olá Soninha,
    Não desanime, sua causa é importante e suas propostas são robustas e compromissadas. Lembre-se da luta de Antanas Mockus e Enrique Penãlosa. Espero que algum dia em nosso país entendamos a candidatura de pessoas emepenhadas com a sociedade e independentes dos partidarismos e benefícios pessoais!

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